Mal refeito do furacão Rock in rio (num sentido mais bonito, espero eu, do que o atribuido à Yvette Sangalo), do estúpido cancelamento do concerto em Istanbul e dos ensaios diários para a a aventura operática (de que aqui farei em breve, descarada publicidade), rebusco este post, injecto novo seiva e parto para o outro. Vamos manter o ritmo. Já basta as minhas entradas fora dele na música...
Há já algum tempo que fiz as “pazes” com o Hard Rock Café em Lisboa. Receberam como poucos os Moonspell, e aos nossos fãs, quer por ocasião do concerto do Halloween, no Coliseu, ao qual se associaram; como agora com a apresentação acústica e sessão de pré-escuta do disco novo, que foi uma noite muito bem passada, pela sua simplicidade e naturalidade, isto apesar do azar aquando da sua primeira data (cancelada).
Longe também vai o tempo em que lá ouvi os sujeitos do meu artigo e, apesar da acutilância desse post e da verdade que ele, para mim, encerrava, coisas houve, para além da simpatia do Hard Rock Café e seu staff que me fizeram mudar de opinião.
Continuo, no entanto, acreditar que lugares devem seguir critérios, assim como paixões, e isto, para mim, em vez de ser uma limitação da liberdade é, sim, o exercício puro da mesma: saber crescer e seguir o sonho mediante aquilo que lhe dá substância. Ou seja Hard Rock equals Rock. Rockers também. Pelo menos, o mais possível, digo eu.
Neste grande período de ausência de posts sucessivos, tive a felicidade de ir a um belíssimo par de concertos que me fez constatar aquilo que a mim e a muitos me parecia impossível: um crescimento talentoso e sustentado por boa música e melhor atitude do Rock Nacional.
Encerro já um assunto: sim o Rock está na moda. O Punk também. O Metal, por vezes. Sim, há t-shirts de Maiden, Motorhead e Ramones na H&M, Misfits na Worten, e por aí fora. Tudo isso porque estas bandas e os seus ícones finalmente se tornaram ícones da cultura Pop, leia-se de massas, e são tão reconhecíveis com a lata Campbell’s do Warhol ou o logótipo da Coca-Cola. Aqui surgirá, claro, a velha questão do copo meio cheio ou meio vazio, mas quanto a mim nada tenho contra isto. Sei perfeitamente que dos milhares de t-shirts e pulsos que se venderem dos Ramones, apenas uma percentagem de talvez 10% irá mais longe que isso e se dedicará, de corpo e alma, como deve de ser a este estilo de música. Para esses 10% trabalhamos e trabalham a maioria das bandas, ideia contrária ao senso e discussão comum e complexada de quem se vende ou se deixa comprar na ideia do eterno juiz por detrás de um ecrã, onde todas as mulheres são bonitas e os homens justos.
Voltando a Portugal, tive a oportunidade de ir a concertos dos D30, a alguns dos Murdering Tripping Blues, Born a Lion, entre outros, isto só na área do Rock’n’Roll e de ouvir e contactar com a música dos Bunny Ranch (que banda!), Vicious Five, de uns putos magníficos de Barcelos (os Glockenwise!!! desculpem a mistura do nomes, influências da ópera...) que me deixaram desarmado e que ainda por cima não vêm sozinhos trazendo Barcelos a crescer dentro de si portentos metálicos e rockers que se tudo passar a correr bem como convém agora irão sublinhar ainda mais estes mais, muito mais que exemplos pontuais que me excitam perante a perspectiva do nascimento de uma cena Rock Portuguesa, que seja o que a cena Metal, e como me custa dizer isto (como metaleiro), nunca foi muito graças aos complexos, ao desleixo, à atitude “o meu concerto é maior que o teu porque não fiz checksound” (é soundcheck ou ensaio de som, já agora).
Por isso deposito a minha esperança nestes bastardos todos, bastardos dos Tédio Boys (que na altura maluca deles chamavam aos Moonspell bichas satânicas), dos Capitão Fantasma, que partilhavam no Rockers I, do meu pessimismo, do Tiger Man, de todos que vivem um sonho americano em Portugal mas com uma diferença: tem toda a credibilidade e talento para o fazerem.
E eu, Spectator, só tenho a aprender com isso e a sorrir com a atitude de miúdos e graúdos que não se intimidam com boquinhas, com faltas de som no palco, com falta de público, com falta de tudo mesmo, com uma alma do c……, que os faz explodir como supernovas mesmo que o palco e a sala mais se assemelhem a um tubo de ensaio do que ao universo. Isto vi eu. E assim o documento.
7 comentários:
vivemos num mundo de aprendizagem constante.
ter humildade suficiente para apreender e saber ver os erros é de louvar.
beijinhos fernando =)********
Só uma pequena correcção meu caro. The Glockenwise e não Glockenspiel.
Abraço
Só há um pequeno erro, o nome da banda de Barcelos é Glockenwise ^^
adorei o texto!
já agora, o nome dos miúdos de Barcelos é The Glockenwise, deve ter havido aí uma confusão qualquer eheh.
obrigado por, também tu, ajudares a divulgar o nome de novas bandas que quase fazem parecer que em Portugal existe uma "cena".
continua com o teu excelente trabalho!
Abraço, Nuno (um dos míudos de Barcelos eheh)
Olá Fernando!
Tenho algumas coisas sobre as quais opinar, por isso vamos lá ver se não me esqueço de nada :)
Primeiro, relativamente ao post "Não consigo regressar": nós, que te lemos, que te "seguimos", que ouvimos a TUA música, sabemos e compreendemos. Quando não podes, quando já não dá, quando é preciso uma pausa, assim seja. Estaremos aqui quando quiseres e puderes regressar (porque queremos que regresses).
Segundo: Vi Moonspell pela primeira vez no RiR :) E fiquei orgulhosa... Achei no fim do espectáculo que, se tivesse sido à noite, surtiria um outro efeito, mais à medida das vossa músicas, mas embebido na forte luz do pôr-do-sol daquele dia...foi único :) Como estava a dizer, fiquei orgulhosa; pela vossa música, cada vez melhor de álbum para álbum (e que álbum Night Eternal!), pelo espectáculo em si, por serem "nossos", made in Portugal, por serem "do metal". Foi isso que senti naquele dia do RiR ao longo dos concertos: "Eu sou do metal", e que começou com vocês, e que também me fez pensar na opinião pública sobre "os gajos todos vestidos de preto". É triste o julgamento instantâneo que se faz a quem ouve metal ou punk, por exemplo, baseado na maneira de vestir ou em algumas atitudes menos felizes tomadas ao longo do tempo por pessoas não menos felizes (e, claro, uma coisa má tem 2 vezes mais importância do que uma coisa boa hoje em dia), quando "ser do metal", como eu digo ou simplesmente gostar de metal (e tomo-o como exemplo porque me revejo nisso) é tão mais do que andar vestido de preto com pulseiras com picos ou quaisquer outros sinais exteriores que, aos olhos da maioria quer dizer "cuidado, vândalos". Aliás, não tem nada a ver com isso. Eu amo metal e raramente ando vestida de preto, e se vou a concertos do dito não vou porque quero andar à tareia nem porque sou satânica ou tenho tendências suicidas. ...Ou porque gosto especialmente de fazer "ventoinha" com o cabelo :P eheh
Terceiro ponto: O orgulho!
Neste post é notável o transbordante orgulho na nova música portuguesa. Não podia concordar mais. O meu sorriso abre-se porque: sim, há uma cena rock portuguesa!; sim, há música de qualidade feita entre portas!; sim, temos bandas ao nível das melhores bandas dos EUA, Inglaterra ou outro sítio qualquer onde se faça boa música!; e...uau, como florescem! Praticamente todos os dias fico a conhecer uma nova banda ou artista "nosso", que faz boa música e, acima de tudo, a leva a sério. E melhor, que como tu dizes, explodem «como supernovas mesmo que o palco e a sala mais se assemelhem a um tubo de ensaio do que ao universo». E isso, dar o melhor de si esteja-se onde estiver é de valor :)
Mas como referes, também a mim me chateia (e como!) usarem-se essas "marcas", tão universais como o logotipo da coca-cola, só para mostrarem como são "fixes", sem muitas vezes saberem sequer o que significam ou significaram. Ou dizer "sim, sim, gosto muito deste ou daquele" só porque estão "na moda". Bahh... Falta de personalidade, tenho dito :P
Quarto e último ponto: tem-se tornado, pelo menos para mim, cada vez mais agradável vir aqui ler os posts do Spectator. A tua escrita parece-me mais aberta, mais "terra-a-terra", mais luminosa do que há uns tempos atrás. Porque me parece que a mente está assim também: mais aberta, mais "terra-a-terra", sem rodeios, com o seu "dark side" vincado (e o que faríamos sem ele?), mas presente no momento certo, ao alcance de raios de luz que espreitam para deixar ver "the whole picture" :)
Peço desculpa pelo tamanho do texto...
Go Spectator Go Fernando Go Moonspell
Metal e pensamento crítico para sempre
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Caro Spectator:
Há muito muito tempo que não escrevo nada aqui...mudança de vida, regresso a Portugal, ao fim de uma longa estadia... É bom estares de volta aqui ao blog e com força! Já tinhamos saudades!
Gostei bastante deste comentário, à parte da tua mudança de opinião acerca do hard rock de lisboa. bem, eu acho que aquele (e outros por onde passei) têm muito pouco de rock e ainda menos de hard. Portanto, passou apenas a ser uma cadeia, um nome, como um outro franchise americano qualquer.
Em relação ao espirito rockalheiro que se vive em portugal...bem, vai bem de saúde e recomenda-se!ainda bem, há muitos projectos originais, que estão cheios de força. renovam e refrescam um publico cansado de bandas estrangeiras. Bandas que provam que o que é nacional ainda é bom e que num país de poetas, ainda ha uns valentes que sabem escrever uns bons poemas! ;)
E quando dou conta, tou na primeira fila dum concerto de If Lucy Fell a curtir tanto como se fosse uma grande banda de metal!
Boa sorte com a ópera!parece-me bastante interessante!vou tentar dar lá um salto!
Best regards!
P.S.- Os tédio boys...esses ainda são vivos????
caríssimo! este comment não é para publicar é, apenas, para alertar para a correcção... os meus meninos são os The Glockenwise... :D
Muito, muito obrigada por falares deles e da movida... já agora, espreitas aqui, onde a "movida barcelense" é promovida http://rock-rolaembarcelos.blogspot.com/
beijo fundo, saudoso
Fá
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