sábado, 25 de abril de 2009

Alguns dias de dor para outros de Rock

É oficial. Estamos na estrada outra vez e a primeira semana foi lenta a passar. As mensagens sucedem-se no meu telefone: bem-vindo à Bélgica,à Alemanha,à Rep.Checa, à Polónia, à Bielorrúsia, à Polónia outra vez, à Eslováquia,à Roménia, a já nem sei onde na confusão dos dias com as noites e das noites com o dia.

Estou no meio de uma das músicas quando sinto. Em baixo, do lado esquerdo, região lombar, a dor. Aguda, ciática, como um pequeno e depois grande choque eléctrico, para cima nas costas, para baixo na perna. No meio do calor, por baixo das roupas, dos acessórios, da comunhão com o público de Varsóvia, uma pequena vertigem. No camarim, o contentamento de outra grande noite, quando se arrefece a preocupação. Sem nada à mão, apenas um creme. Passa outro dia, a dor aumenta but the show must go on. As noites são mais duras, as estradas do Leste impiedosas nas suas curvas e alturas.

A minha primeira sessão de fisioterapia/massagem é surreal. Passa-se na Eslováquia, uma massagista de meia idade, loura oxigenada, tipo mulher almodovar mas de Leste. Num estúdio chamado Relax, mobilado a Ikea, contrastando com cor e o estilo próprio, já familiar na nossas mentes, do rigor prático do edificio, ginásio onde tocamos em Bratislava. Surreal porque eu sem falar uma palavra de checo, ela sem falar uma palavra de Inglês, exemplificando como eu me devia virar, durante uma hora e tal, até que finaliza e o baterista de Cradle (Martin) serve de tradutor para as más noticias: um disco da coluna desviado, prisão do nervo ciático. Chamadas sucedem-se e opiniões também: chamamos um quiropata, metemos uma cinta, estalamos as costas. A decisão vem de mim: fico assim, faço a fisioterapia possível, as massagens possíveis e avanço com uma consulta no especialista em Portugal, raios X e depois sim a terapia que tiver de seguir. Agradeço à senhora que me oferece a massagem e uma cinta fabulosa, que me endireita e põe no sítio, roubando espaço à postura errada e permitindo passar os concertos a fazer, com alguma confessa cautela, aquilo que sinto, que é reagir ao nosso som, às suas ondas, sombras e luzes como se a dor não estivesse lá e não se libertasse até, traiçoeira, durante o sono, fazendo-me dar um grito mudo quando posição no beliche é outra ou quando a confiança dos cremes, dos alongamentos e massagens do Mike, me possibilita fruir a tour outra vez.

Passou quase uma semana, a dor está lá à espera. Ontem em Belgrado, Sérvia, outra massagem, suave, melhores noticias, um tempo espetacular, um concerto intenso. Volta o Rock com a dor mas estou preparado para engolir quilómetros, dar gritos mudos, beber pouco, andar muito embora mais devagar, sabendo que a dor nos acorda para a realidade dos nossos corpos limitados mas que também torna cada concerto, cada conquista, cada "a sério? tens isso nas costas não reparei em nada!" mais saboroso, ajudando a pender a balança e o equilibrio de forma mais justa, tanto para as noites e dias de Rock, como para a sua irmã Dor.

18 comentários:

Rita disse...

A dor física ajuda-nos, de certa forma, a descobrir os nossos limites ou a descobrir que somos bem mais resistentes do que pensamos. Certamente que essa dor acaba por dar mais "sabor" a cada concerto, como uma espécie de vitória.

As melhoras!

Rita

Carlos "Kurotenshi" disse...

Perante tal atitude, louvável, só posso mesmo dizer as melhoras e que o Rock continue a servir de analgésico.
Mais uma vêz provas aquilo que disseste no Rock in Rio "Não vimos para aqui fazer figuras, vimos dar tudo o que temos"

Bruno Gouveia Azeredo disse...

E então anos de head banging e a coluna ressente-se, é preciso ter cuidado... Tal como imagino a violência nos vossos ouvidos? É como dizia o outro, o corpo é q paga.

Anônimo disse...

Olá, Fernando ;)

Isso é muito chato mesmo, mas vais ver que é uma questão de repouso. Toma uns banhinhos relaxantes e, quando terminar a tour, dorme "em condições", e isso acaba por passar mesmo.
Estava a pensar numa solução e um colchão de massagem é que era bom (nem que fosse um daqueles anti-escaras (anti-echar mattress em inglês, se quiseres comprar por aí), que se colocam por cima de qualquer colchão normal), em que os pontos de pressão vão alternando. Toma uns brufenes (ibuprofen) em granulado, o que é sempre eficaz contra dores agudas.

Entretanto, desejo-te melhoras muito rápidas!

Um beijo,
M.

A Lisboeta disse...

Olá :)

Essa tua atitude digamos, discreta e sem queixumes, vinda de ti, não me supreende. É certo que não te conheço muito bem, mas a partir daquilo que escreves já notei nalgumas coisinhas ;) Essa tua forma de agir, sem nunca te queixares, por exemplo. Se calhar, sou eu que estou enganada e ando a ver coisas =P. Mas acho que não. Porque conheço muito pouca gente que dá "gritos mudos". Admiro isso em ti.

Desejo-te as melhoras e que recuperes depressa. Beijinhos

VR disse...

Ave, spectatore!

Este meu post é mesmo em jeito de Ti Mézinhas.

Mas antes, muitos parabéns pelo tour, ainda q ctg nesse 'bonito' estado. Vocês são mesmo de um profissionalismo a toda a prova. Passe qq eventual inconveniência, o Sir Elton John aprendia umas coisas com os melhores metaleiros portugueses...

Fica a sugestão (se bem que já vai tarde) para o alívio do t/ tormento: eu apostei tudo num tratamento nocturno; antes de dormir, tomava um banho morno (descontrai a tensão acumulada), massajava a zona que me doía com álcool etílico (a musculatura braçal do Mike deve estar à altura para esse festival de fricção) e antes de chonar, dava-lhe com um cocktail de 1 aulin e 3 paracetamol/ibuprofeno (que não deve ser tomado durante mais de 5 dias); de manhã dava-lhe novamente com álcool e acrescentava-lhe uma dose generosa de voltaren emulgel/reumon gel.

Vem tarde, mas fica a intenção e a dica para futuras (credo!) situações. Cmg resultou.

As melhoras e muita força para os Moonspell e crew. :)

VR.

Francisco Rodrigues disse...

Excelente atitude, profissionalismo ao máximo! Depois, um médico fisiatra resolve na boa.

Joaquim Esteves disse...

Fernando,
tás velho, homem! =D mas deixa lá, não há nada que o tempo não cure!em breve estarás em costas lusitanas(se já não estás), espraiado num mar de areia qualquer a apanhar sol e a descansar!
Força para a (eventualmente!!!) rápida recuperação dessa porcaria! fuck it!
"antes isso que uma perna partida" - Mãe

cheers 'n beers!

Aida Duarte disse...

Deixamos um comentário para desejar as rápidas melhoras!

A dor não mata,mas moí...

Pensamento positivo que tudo se vai resolver pelo melhor! :)

Força!

Temos vindo a acompanhar a tour e pelos vistos está a correr muito bem! Parabéns!
Bjo e abraço,

Aida e Gonçalo

Lord of Erewhon disse...

Mudaste de casota? :)

És «pau para toda a obra», na nossa luta contra a parolada! ;)

Abraço!

Lord of Erewhon

P. S. Bem podias manter uma rubrica mensal n'O Bar do Ossian, seria uma honra e um prazer; pensa nisso.

Para qualquer coisa: renascimentolusitano@gmail.com

Lord of Erewhon disse...

P. P. S. Cautela na Eslováquia... toma conta do Mike... :)=

O BAR DO OSSIAN disse...

Abraço lusitano!

Lord of Erewhon disse...

P. S. Estarias em boa companhia; não faltam metaleiros uivantes e outros possessos lunares...

(-_+)

Anônimo disse...

Oh Fernando que maçada estar com dores e doente, mas o Fernando é um homem forte e com muita força por isso é claro que vai ficar bom.
Mesmo com dores, cançado, não deixa de nos vir dar nóticias suas que aqui ficamos em Portugal.

Rápidas melhoras, e muito obrigada por nos continuar a escrever.

Raquel Valente

By myself disse...

Imagino o que deves estar a sofrer em palco (conheço a tua atitude, já são muitos os meus concertos Moonspell). Espero qeu recuperes rápido, mas tens mesmo que te poupar e relaxar entre concertos, com direito a massagem e um saco de água quente no local da dôr.
Beijinho

Anônimo disse...

Olá Fernando, não nos conhecemos pessoalmente mas tenho de alguma forma acompanhado o percurso enquanto Moonspell. E para quem está deste lado parece que sempre conheceu "o artista". Ontem ouvi uma entrevista contigo, na Radar. Lembro-me perfeitamente do concerto no Coliseu em 1996. Só gostava de adiantar uma pequena coisa: o público foi lá apenas pelos Moonspell! Aliás, chegou a ser um pouco frustrante para os outros grupos, uma vez que quando finalizavam a actuação, o público gritava por Moonspell!
Talvez já não esteja tão ligada a este tipo de cultura, a profissão assim me afastou, mas continuo a apreciar bons concertos. E sobretudo aprecio boas letras e emoções. A minha opinião pessoal é a de que poucos percebem uma letra. Não existe uma preocupação de saber o que existe para além das palavras. Mais do que um espetáculo de terror, gosto de pensar num espetáculo de emoções, de conceitos e de cultura.

Quanto às costas... bom, aconselho um quiroprático ou massagem ayurvédica! São os chamados "ossos do ofício"...

E por favor, continua a escrever!

Um beijo
Tânia

Fabiano Lobo disse...

No fim, acabamos por nos acostumar com a dor. O problema é quando bate a consciência e pensamos no futuro, de como estaremos daqui a uns anos, por isso devemos nos cuidar.

Já tive problemas com dores físicas, mas um bom médico vem os resolvendo aos poucos. O que mais conta é a cooperação do próprio paciente, que às vezes faz aquilo que não se deve fazer.

Abraço e melhoras.
"From Brazil"
Fabiano

Anônimo disse...

Olá primo!
Passo por aqui de vez em quando para saber de ti e acompanho a tua carreira com orgulho!!! As melhoras...trata de ti. São os "ossos do ofício" como o povo costuma dizer e com sabedoria!Levas uma vida muito agitada!!
Tudo de bom.
Bj
Elsa (Tomar)