sábado, 30 de maio de 2009

Federação Ibérica, não gracias!!!

De vez em quando, não há mesmo tempo dentro da cabeça e os sentimentos que a invadem também precisam de alguma protecção. Por isso apesar do meu coração estar noutro dos sítios, hoje prefiro falar de alguma coisa que não seja dele e aqui chegamos ao tema deste post "retrasado":

Federação Ibérica.

Eu não quero!

Muito se tem falado deste assunto nestes últimos tempos tendo pessoas que admiro tanto, como António Lobo Antunes, se pronunciado a favor desta ideia, tendo, obviamente a sua teia de razões. Não me pretendo arvorar em defensor da pátria mas o cansaço da nossa "impossibilidade" de país, cansa-me.

É um facto que a nossa classe política e decisória é, na sua maioria, medíocre e desperançada. Exemplos abundam, infestam as àguas. Como é possível, por exemplo, concorrer a um cargo de deputado Europeu em simultaneidade com um cargo autárquico ^(Elisa Ferreira, Porto)? Esta papice custa e o povo, anestesiado, não deixará de castigar a pouca vergonha e o mísero tacto. Como é possível que o CDS Nuno Melo vá ser enfiado em Bruxelas, quando é uma voz inteligente e carismática no parlamento? Outros exemplos haveria, mas apetece avançar. Estamos conversados e conformados, mas será Portugal só quem manda e quem esquece?

O meu historiador preferido (A.H.Oliveira Marques)diz que Portugal é um acidente geográfico. Que não existe, na Europa do seu tempo, não do nosso, um país com independência física perante um colosso (Espanha)como este nosso canto. Isso não me deprime, anima-me. Á boca pequena da História fala-se de razões. Conde D.Henrique de Borgonha, "ligações templárias", rouba o Porto (gal) a Espanha. D.Dinis, um século depois, concretiza o pinhal (madeira para as caravelas, parece um livro de Dan Brown, mas não é especulação pior ainda, para verificar de onde vem o trauma da nossa impossibilidade: da nossa radical origem. Porque somos país então? Por interesse visionário, por preseverança, porque Espanha deixa?

A Federação Ibérica é fruto do ressentimento que todos temos contra o nosso país e que não conseguimos resolver de modo algum. É o capitular, a desistência e ao assumir que o nosso país nunca, historicamente, teve muito sentido. É o gasóleo mais barato em Espanha, é o viver melhor, é a prestação e é a relva mais verde no quintal do nosso vizinho. Ás vezes parece-me que as pessoas que o dizem nunca foram à Espanha, melhor às "Espanhas" que os reis católicos forçaram juntas e que assobiam ao hino e não o acompanham em Bilbao. Portugal, até no exercício político de ser uma provincia Ibérica, nunca seria a Catalunha. Não por nos faltar identidade, mas por ela divergir, e como, dos nossos vizinhos geográficos. Já encontrei mais semelhanças com Gregos do que com Espanhóis.

Não levem para o caminho errado, adoro Espanha, porque é Espanha e pelo seu tamanho consegue, muitas vezes, ser mais nação que nós. Porque talvez ninguém questione tanto o seu direito a ser nação e a ser, manta de retalhos ou país, o direito a ser. É mau e terrível deixar o ressentimento falar. Sim, este é o país Cronos, devorador dos seus filhos, mas mesmo assim um país com voz própria e atitudes, mesmo deploráveis, que eu nunca encontrei em parte alguma do mundo. Lembra-me a África do maginfico livro de Obama Dreams from my father, a propósito de uma refeição na casa de uma historiadora no Quénia: "Olhem para a refeição de peixe que comemos (...) muita gente vos dirá que os Luo são um povo que só comia peixe, bem é verdade mas só os que viviam ao pé do lago(...) antes de assentarem, eram pastores como os Masai.(...)os quenianos orgulham-se do seu chá mas adquirimos este hábito dos Ingleses. Os nossos antepassados não beberiam tal coisa. E os molhos usados no peixe vêm da Índia ou da Indonésia. Vêem? Esta nesta refeição não encontrarão o autêntico que os jovens negros americanos buscam em África- embora a refeição seja genuinamente Africana."

É nesta autencidade, neste invisivel cheiro a terra de país, nesta mistura pós produzida numa nação que nos temos, hoje e sempre, de concentrar. Porque não estamos aqui por acaso, porque não gostamos do país só pelas suas qualidades mas que temos de aprender a lidar com força com as suas contigências e horrores, tal como fazemos, ou deviamos fazer com as pessoas. Porque não podemos deixar o ressentimento falar mais alto que nós. Porque usar um crachá de Portugal não é usar uma suástica (e mesmo que o fosse, a suástica era um símbolo de paz e movimento até ser invertido por homens, os nazis, que não tinham noção de nação mas sim de um mundo robótico e perversamente feito à imagem da sua fraqueza, eram políticos, não viviam nas ruas). Porque faz sentido termos chegado aqui e não podermos desistir e nos vendermos ao gasóleo mais barato, à ideia de uma Califórnia espanhola, à ideia de que os homens de cultura serão em Espanha melhor tratados.

Portugal pode ser um país de asnos mas será sempre um país. Leiam o final da Ilustre Cas de Ramires, que o Eça sabe melhor que todos nós.

Post scriptum: A única Ibéria que quero ver e ouvir são os IBÉRIA 6 de Junho na Moita no In Live Café. BE THERE!!!

4 comentários:

Joaquim Esteves disse...

Federação Ibérica?mas que raios?nunca tinha ouvido falar d tal coisa, mas a simples ideia faz-me tremer até ao fundo do meu ser! é certo que devemos ver espanha como um aliado. é um país irmão, tanto para o bem, como para o mal. mas a césar o que é de césar!!!
Lamento, mas discordo com esse tal de "acidente geográfico", porque antes de Portugal ser, já os lusitanos lutaram com unhas e dentes, durante séculos para manter a liberdade!...que eventualmente perderam...=\
Centena de anos a dar porrada nos espanhóis, k sempre nos atacaram, deitados por água a baixo?por favor!Europa unida sim, países diluídos num só,não obrigado!

É a nossa soberania!

P.S.-filmes dobrados?porra!
P.P.S.-se encontrassem petróleo em águas portuguesas, já éramos um país e pêras!

Anônimo disse...

Com os políticos que temos não me admira nada que ponderem esta hipótese, aliás... já conseguiram impor aos portugueses a (.....) do acordo ortográfico.
O que vale é que o Zé Povinho é tão burro e ignorante que continua a votar em gente assim, que nem sequer se preocupam com a sua própria identidade.

Paulo Eiras disse...

Mas a verdade é que cada vez estamos menos portugueses e mais europeus.
Estamos a perder a identidade do país.

Aproveito pra deixar aqui um convite, a ti Fernando, para visitares o pequeno espaço português de metal pedrademetal.blogspot.com, feito por portugueses, para portugueses com noticias do metal (nacional e internacional)

metallic_vein disse...

É um facto que temos um país com cultura de província, politicamente viciado, economicamente falido…etc. Mas, por outro lado, temos um país! È a nossa nação, que a muito custo tem sobrevivido na sua independência. Apesar de todos os defeitos, tem inúmeras qualidades, qualidades essas que nos distinguem em qualquer parte do mundo. Vale a pena manter a essa unicidade. È a nossa casa, quando a nossa casa fica caótica, só temos de acabar com o “deixa andar”, com a ideia de que se não fizer hoje alguém fará, e arrumá-la. Temos de ser nós, portugueses a organizar a nossa casa! Não precisamos de governantas estrangeiras!
E depois temos nomes como "Moonspell", que nos deixam extremamente orgulhosos, porque neste cantinho ibérico ainda temos valores bem sonantes!