A revista Blitz deste mês é tem como tema maioritário a música de intervenção, inscrevendo-a na situação actual de crise do nosso país. Para esse efeito elaboraram um inquérito que colocaram a algumas figuras da cena musical Portuguesa.
Eu também tive a oportunidade de prestar o meu contributo e deixar o meu testemunho. Fica aqui a transcrição, com os meus agradecimentos ao Blitz.
1. A palavra ainda é uma arma?
Moon: A palavra será sempre uma arma. A falta dela (a quebra de promessa), alias, tem sido a principal arma contra todos nós. É lamentável como ainda nem nos encaminhamos para uma fiscalização séria do trabalho dos gestores e dos politicos. Até os artistas tem o seu público como juíz. Mas sim “a pena é mais forte do que a espada”, ainda me revejo neste adagio. Funciona é nos dois sentidos, no da reinvindicação mas também no da opressão.
2. Que canção de protesto gostaria de ter escrito?
How fortunate the men with none do Bertold Brecht. É pura poesia, ironia e desprendimento. Os Dead can dance fizeram um tema ao estilo deles. Mas a letra vai ao âmago da nossa história e humanidade. SE a musicasse fazia uma coisa épica, à Tyler Bates na banda Sonora do 300.
3. A revolução vai passar na televisão, no Facebook ou na rua?
Vai passar na televisão, ditada pelos gostos, direcção politica e audiências. Vai ser combinada no Facebook, esquecidas as banalidades, e vai acontecer na rua, dos gabinetes não se espera nada. Importante é não esquecermos que somos nós que vamos fazer a opção e teremos de viver com ela.
4. Existe uma geração parva?
Não. Há é gente parva, como todas as gerações. Também não me parece que a canção dos Deolinda seja um hino dessa geração, ou sequer uma canção de intervenção. Só se a intervenção for a contemplação do óbvio.Estudar, por exemplo, é sempre uma forma de enriquecimento pessoal e nos tempos que correm já podemos, muito mais facilmente, usar a nossa imaginação e criatividade para vencer o desemprego e a inércia. Parece-me mais uma canção para quem ainda espera que o estado social lhe resolva os problemas, indicando o caminho. Eu, pessoalmente, conto cada vez menos com isso, reinvidico é justiça no tratamento. Há mais pessoas a estudarem porque o ensino se democratizou e ainda bem! Eles que me desculpem. É, para mim, um retrato nada feliz, desajustado da realidade. A geração no poder é a anterior à nossa, e quando a nossa tiver as condições reunidas para lhe suceder, estou optimista que faremos melhores escolhas. O segredo é pegar nas pequenas histórias de sucesso de Portugal a nível de gestão, novos mercados, tecnologias, desporto e artes e torná-la a realidade de um país. Mas antes os velhos modos (no governo, na indústria musical, por aí fora) terão de desaparecer e irão desaparecer, quanto mais não seja por exaustão. Não adianta fazer o retrato dos parvos, o importante é pintar por cima.
5. Cairo é: um exemplo a seguir, uma música dos Táxi, ou o cenário de algo que nunca veremos a acontecer em Portugal?
Parece-me que os árabes,apesar de tudo, são dos únicos povos que ainda conseguem sonhar e que tem objectivos mais nobres do que enriquecer, mantendo o status quo. Estas pessoas querem nações, tem fome de ser um país que viva em função dos seus habitantes e não para alimentar em exclusivo uma família real ou de governantes. Toda esta revolução acontece por causa dessa fome. Foi insustentável para os governantes manterem a farsa. Espero muito honestamente que estes novos exemplos não regridam no período pós-revolucionário como aconteceu ao Irão com a Revolução Islâmica. A Europa é uma federação de povos cépticos. Os Ingleses orientam-se porque são mais civilizados para o fazer em conjunto com as elites. Os povos de Sul não conseguirão dessa maneira. A Europa também se fartou de guerras, não podemos ter cidades em ruínas em 2011, não é o nosso cenário. Mais uma vez repito que a haver revolução sera pela inteligência, pela justiça e pela exaustão em relação à dualidade de critérios dos governos. Não sei se pegaremos em armas. Mas algo irá acontecer, talvez não tão radicalmente, mais demoradamente, à Europeu.
6. Que música dedica ao Governo português?
Fuck the system, dos Exploited.
«E eu e tu o que é que temos que fazer?» (completar a gosto a letra do tema do Abrunhosa)
talvez sobreviver
Destaque ainda para a belíssima entrevista de um dos homens mais esclarecidos que já conheci em Portugal no meio musical, José Mário Branco:
http://blitz.aeiou.pt/gen.pl?p=stories&op=view&m=17&fokey=bz.stories/72077
Divulguem, comentem e uma boa semana a todos.
terça-feira, 29 de março de 2011
segunda-feira, 21 de março de 2011
Filosofia e Rock
Caros amigos e bloggers. Deixo-vos aqui o texto que me serviu de base à lição da FLUL, no mês passado, no âmbito do programa 100 LIÇÕES da Reitoria da Universidade de Lisboa.
(o texto sofreu algumas alterações na apresentação oral)
Um abraço e boa semana:
Filosofia e Rock- como viver no mundo da poesia eléctrica.
Nestes anos todos tenho vivido diversos paradoxos. A minha passagem pelo Curso de Filosofia, trouxe-me, pelos menos alguma capacidade para os identificar e integrar no meu quotidiano, que muito tinha de estranho mas que por outro lado ia fazendo sentido. Muitas vezes na estrada, nas digressões, as pessoas trocam algo mais que banalidades, e muitas vezes me perguntavam, por causa das letras, a minha formação. À resposta de cursei filosofia a reacção era de inevitável esclarecimento: sim faz todo o sentido. Às vezes eu que ficava desarmado mas por pouco tempo já que a história do Rock e do Metal e das Humanidades era longa, frutífera, sólida, analisada e documentada.
Fazia sentido porque talvez haja algo de ainda místico no encontro entre um fã do Médio Oriente e um cantor de Heavy Metal de Portugal. Por questões da imagem prestigiante de poetas e filósofos Portugueses que se encontra, com ou sem espanto, por todo o mundo. Porque Portugal é ele também um paradoxo lunar, com a sua costa banhada pelo Sol deslumbrando uma terra de pura e complexa melancolia. Fazia sentido à senhora mais velha, em outras andanças minhas, que via o elemento estranho de um grupo popular como alguém que pensa e que por isso parece assim: vestido de negro, anéis nas mãos.
É deliciosa esta estranheza que ainda desaprova a profissão do filosofo (ou do investigador filosófico) mas cuja repulsa é minada, por dentro, pelo fascínio que o filosofar ainda desperta, até pela questão de como gerir o nosso pouco tempo da vida, gasto a pensar, mapeado pela dúvida, numa época cruelmente pragmática e material. Consigo perceber, até mesmo identificar-me com esta reticência das pessoas comuns porque eu me colocava assim mesmo, como um comum, perante a leitura de Kant. A sua matéria era para mim como visualmente circular, estando eu, através de mapas e esquemas cedidos pelo autor, a construir, pela abstracção, como que tubos acrílicos que ajudassem a fluir o vapor do pensamento e sair do outro lado, por uma torneira bonita, de ouro, num fiozinho de água, claro aos nossos olhos. O que eu mais admirava ainda era aquilo que, mais coloquialmente, digo a amigos em conversas filosóficas de café que mantemos entre copos: imaginem o Kant sentado. Pensando em como se pensa e depois elaborando documentos com notas precisas do que são feitas as ideias. Penso que esta é a imagem mais próxima que tenho da abstracção, fisionomicamente substanciadas pelo pensamento comum, num processo que envolvia tudo aquilo que Kant descrevera ao fazer exactamente isto. Um pouco como aquela imagem nos programas antigos da RTP 1 em que aparecia um Sr. Na Televisão com uma televisão que transmitia aquele Sr na televisão com uma televisão no ângulo superior direito, vezes sem conta, numa repetição que nunca esqueci e que me permitiu melhor perceber o infinito. Tal como o Kant a sentar-se para pensar sobre pensar me ensinara a abstracção.
Antes de me tornar profissional da música, dei explicações em part time de Filosofia e Inglês. Tinha um conceito dinâmico, explicações ao domicilio, intensificadas pela proximidade dos testes que me fizeram perder concertos importantes (quando os G’N’Roses vieram a primeira vez a Portugal, estava eu a explicar a morte da religião de Hegel numa torre de apartamentos na Quinta da Luz de onde se ouvia ao longe o concerto). Chegados ao esquematismo dos conceitos puros do entendimento de Kant, muitas vezes recorria à vulgaridade inocente de pegar num prato e num círculo para designar objecto e ideia de objecto. Bem sei que era uma comparação simplisticamente abusiva mas uma parte de mim gostava desse minimalismo de puto que estuda Filosofia e consegue explicar a outros, fazendo avançar a roda.
Por incrível que pareça o auditório 1 da FLUL foi o primeiro palco que enfrentei a sério, descontando a meia dúzia de concertos com a banda em condições inimagináveis por terras de Portugal corria o ano de 1993. Lembro-me perfeitamente do Dr. António Pedro Mesquita ter desenvolvido uma iniciativa que consistia numa série de apresentações orais perante as turmas e o próprio professor, em jeito de aula, onde durante uma hora tínhamos oportunidade não só de apresentar o nosso trabalho mas também de vestir melhor a pele e avisão do professor, uma das duas alternativas que teríamos no mercado do trabalho. A outra seria a de investigador. Ou inesperadamente: cantor de uma banda heavy!
Nesse dia vesti até uma roupa que seria (e por vezes foi) mais apropriada para um concerto com os Moonspell: calças de cabedal, presas por fios nas laterais, camisa branca e colete de cabedal. Atei o cabelo mais em cima e foi com este aspecto medieval e pagão que me apresentei perante a minha audiência (onde se incluíam alunos do terceiro ano com a disciplina de Filosofia Antiga “ pendurada”) para debatermos em conjunto o tema que eu propunha: Diversos aspectos da inauguralidade do pensamento parmenídeo no contexto da filosofia antiga.
Algumas notas:
- Inauguralidade era a minha palavra preferida da época e usava-a em tudo o que podia, desde trabalhos para o curso às letras e cartas escritas pelos Moonspell.
- Adorava usar a palavra parmenídeo em vez do simples de Parménides. A palavra fazia com que tudo fluísse e ao mesmo tempo substantivava e adjectivava (se tal fosse possível) o pensamento do Pré-Socrático. Ai está uma palavra que não gostava tanto. Por fim, a utilização do E depois do M e o acento agudo no I depois do N tornavam-na uma palavra irresistível de repetir.
- Diversos aspectos foi o inicio escolhido para título de vários trabalhos meus (por exemplo Diversos aspectos do cogito agostiniano em Filosofia Medieval) e cujas razões são simples de perceber e andarão entre a ingenuidade e a Chico-espertice.
A memoria que guardo da aula conta-se entre as memorias mais felizes que tenho. O Dr. Pedro Mesquita dirigiu-se a mim perante a turma gabando-me a coragem e a fluidez da aula tendo também em conta alta os vários discernimentos duvidosos e acepções erradas eu que tinha apresentado à turma! Esta justiça de comentário não me esmoreceu, pelo contrario, entreguei o meu trabalho final exactamente sobre o mesmo tema, ajuntando algumas leituras e comentários ao corpo do texto sob o qual tinha baseado a aula. Passei à disciplina com quinze valores aos quais acho que o meu acto de bravura no auditório não é alheio.
Atalho, para depositar a esperança, de que a recordação de hoje também encontre lugar neste deposito arejado onde se encontram os melhores momentos da minha vida.
Existe um mito que os artistas e as pessoas que estão a comprar casa partilham. É o mito do clique. Aquela faísca meio pentecostal que surge dentro da nossa cabeça, faz o ar passar mais farto entre a garganta e o coração, acelerando ambos quando na presença dessa experiência. Foi isso que esta aula me deu. E que a faculdade e o curso de Filosofia me passou.
Eu sou um rapaz dos subúrbios, do tempo em que os subúrbios eram um mundo e viajar até Lisboa uma viagem interplanetária. Alguns de nós seguiam vidas sem regras. Outros liam Dostoivesky, viam Woody Allen, compravam a K do Miguel Esteves Cardoso e, sem acesso a muita coisa, tínhamos um acesso ilimitado à nossa inteligência e poder criativo e especulativo e sobretudo uma sede de conhecimento só saciável pelas fontes que estes edifícios centenários encerravam. Quando vinha na camioneta da Brandoa até ao Colégio Militar e numa viagem de ficção toda a linha do metro até à Cidade Universitária, ouvindo sempre música e lendo sempre um livro, tinha tempo para pensar, romantizar, sentindo ganas e nervos pelo ambiente, pelas lições, pela partilha que se realiza na Universidade. Muitas vezes me senti num labirinto académico, com contra-senhas bizarras: reprografia azul, departamento, pavilhão no Campo Grande. Muito me valeram as minhas colegas, bússolas infalíveis para alguém com a cabeça na lua. Passados uns tempos já soavam familiares aos meus ouvidos o Kirk & Raven, o Izusquisa, a livraria da Gulbenkian e o bar onde se comia mais barato.
Era a idade da pedra desta geração. Quase com Internet. Mas ainda sem ela. Não era melhor, nem pior, tínhamos outras confusões mas outras orientações também, que equilibravam uma tradição de boas intenções com o já irrequieto desejo que os noventa se fossem.
Os Moonspell são contemporâneos e como tal uma mistura destes mundos. Eu sou incrivelmente reconhecido como um filosofo no Metal e do Metal. É paradoxal, pomposo e estranho. Mas não há publicação que não comente isso quando fala comigo. No Expresso fui o filosofo metálico numa edição da revista Única. Na Alemanha, na revista Metal Hammer, que vende 60.000 unidades por mês, chegando agora a uma comunidade virtual de 300.000 pessoas, focou muito o aspecto de uma das nossas canções Handmade God (Deus feito à mão) ser influenciada pelo ateísmo hermenêutico de Feuerbach da Essência do Cristianismo, ou os fãs romenos contentes por eu conhecer alguma da obra de Cioran e ter usado essa leitura noutro tema. São estes brilharetes que o privilégio de ter cursado aqui na Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras me permitiram fazer. E por isso estou profundamente agradecido.
A minha vida é, em definitivo, um paradoxo aparente de algo que é universal, verificável e emocionalmente sentido. Há bem pouco tempo estive com os Moonspell a tocar num cruzeiro de Heavy Metal entre Miami, EUA e Cozumel, México. Quarenta e oito nações presentes para ver quarenta bandas numa Babel de afectos, comunhão e diversão a todos os níveis bíblica. Hoje elaboro aqui a minha experiência e vivência da electricidade da poesia e da filosofia. Afinal, se me permitem, nós somos ainda o dedo por trás dos botões, os olhos por detrás do ecrã, o garante de funcionamento de todo o mundo e civilização e, ao mesmo tempo, o seu maior e mais iminente perigo. Esta pujança não pode, nem vai deixar de ser pensada e entendida; e nunca a validade deste paradoxo entre barcos cheios de decibéis e salas como esta cheia de notáveis amigos que gostam e muito de pensar, fez, para mim, mais sentido.
Um muito obrigado a todos por terem vindo. A todos os meus colegas e professores do tempo do Curso. A todos os responsáveis por este amável convite, que em boa hora para mim se lembraram de mo endereçar, muito obrigado. Uma longa vida à Universidade de Lisboa e ao Seu Exmo Reitor e a todo o corpo docente e administrativo e de alunos desta nobre instituição, um humilde agradecimento. Sapere aude. Ousa saber.
(o texto sofreu algumas alterações na apresentação oral)
Um abraço e boa semana:
Filosofia e Rock- como viver no mundo da poesia eléctrica.
Nestes anos todos tenho vivido diversos paradoxos. A minha passagem pelo Curso de Filosofia, trouxe-me, pelos menos alguma capacidade para os identificar e integrar no meu quotidiano, que muito tinha de estranho mas que por outro lado ia fazendo sentido. Muitas vezes na estrada, nas digressões, as pessoas trocam algo mais que banalidades, e muitas vezes me perguntavam, por causa das letras, a minha formação. À resposta de cursei filosofia a reacção era de inevitável esclarecimento: sim faz todo o sentido. Às vezes eu que ficava desarmado mas por pouco tempo já que a história do Rock e do Metal e das Humanidades era longa, frutífera, sólida, analisada e documentada.
Fazia sentido porque talvez haja algo de ainda místico no encontro entre um fã do Médio Oriente e um cantor de Heavy Metal de Portugal. Por questões da imagem prestigiante de poetas e filósofos Portugueses que se encontra, com ou sem espanto, por todo o mundo. Porque Portugal é ele também um paradoxo lunar, com a sua costa banhada pelo Sol deslumbrando uma terra de pura e complexa melancolia. Fazia sentido à senhora mais velha, em outras andanças minhas, que via o elemento estranho de um grupo popular como alguém que pensa e que por isso parece assim: vestido de negro, anéis nas mãos.
É deliciosa esta estranheza que ainda desaprova a profissão do filosofo (ou do investigador filosófico) mas cuja repulsa é minada, por dentro, pelo fascínio que o filosofar ainda desperta, até pela questão de como gerir o nosso pouco tempo da vida, gasto a pensar, mapeado pela dúvida, numa época cruelmente pragmática e material. Consigo perceber, até mesmo identificar-me com esta reticência das pessoas comuns porque eu me colocava assim mesmo, como um comum, perante a leitura de Kant. A sua matéria era para mim como visualmente circular, estando eu, através de mapas e esquemas cedidos pelo autor, a construir, pela abstracção, como que tubos acrílicos que ajudassem a fluir o vapor do pensamento e sair do outro lado, por uma torneira bonita, de ouro, num fiozinho de água, claro aos nossos olhos. O que eu mais admirava ainda era aquilo que, mais coloquialmente, digo a amigos em conversas filosóficas de café que mantemos entre copos: imaginem o Kant sentado. Pensando em como se pensa e depois elaborando documentos com notas precisas do que são feitas as ideias. Penso que esta é a imagem mais próxima que tenho da abstracção, fisionomicamente substanciadas pelo pensamento comum, num processo que envolvia tudo aquilo que Kant descrevera ao fazer exactamente isto. Um pouco como aquela imagem nos programas antigos da RTP 1 em que aparecia um Sr. Na Televisão com uma televisão que transmitia aquele Sr na televisão com uma televisão no ângulo superior direito, vezes sem conta, numa repetição que nunca esqueci e que me permitiu melhor perceber o infinito. Tal como o Kant a sentar-se para pensar sobre pensar me ensinara a abstracção.
Antes de me tornar profissional da música, dei explicações em part time de Filosofia e Inglês. Tinha um conceito dinâmico, explicações ao domicilio, intensificadas pela proximidade dos testes que me fizeram perder concertos importantes (quando os G’N’Roses vieram a primeira vez a Portugal, estava eu a explicar a morte da religião de Hegel numa torre de apartamentos na Quinta da Luz de onde se ouvia ao longe o concerto). Chegados ao esquematismo dos conceitos puros do entendimento de Kant, muitas vezes recorria à vulgaridade inocente de pegar num prato e num círculo para designar objecto e ideia de objecto. Bem sei que era uma comparação simplisticamente abusiva mas uma parte de mim gostava desse minimalismo de puto que estuda Filosofia e consegue explicar a outros, fazendo avançar a roda.
Por incrível que pareça o auditório 1 da FLUL foi o primeiro palco que enfrentei a sério, descontando a meia dúzia de concertos com a banda em condições inimagináveis por terras de Portugal corria o ano de 1993. Lembro-me perfeitamente do Dr. António Pedro Mesquita ter desenvolvido uma iniciativa que consistia numa série de apresentações orais perante as turmas e o próprio professor, em jeito de aula, onde durante uma hora tínhamos oportunidade não só de apresentar o nosso trabalho mas também de vestir melhor a pele e avisão do professor, uma das duas alternativas que teríamos no mercado do trabalho. A outra seria a de investigador. Ou inesperadamente: cantor de uma banda heavy!
Nesse dia vesti até uma roupa que seria (e por vezes foi) mais apropriada para um concerto com os Moonspell: calças de cabedal, presas por fios nas laterais, camisa branca e colete de cabedal. Atei o cabelo mais em cima e foi com este aspecto medieval e pagão que me apresentei perante a minha audiência (onde se incluíam alunos do terceiro ano com a disciplina de Filosofia Antiga “ pendurada”) para debatermos em conjunto o tema que eu propunha: Diversos aspectos da inauguralidade do pensamento parmenídeo no contexto da filosofia antiga.
Algumas notas:
- Inauguralidade era a minha palavra preferida da época e usava-a em tudo o que podia, desde trabalhos para o curso às letras e cartas escritas pelos Moonspell.
- Adorava usar a palavra parmenídeo em vez do simples de Parménides. A palavra fazia com que tudo fluísse e ao mesmo tempo substantivava e adjectivava (se tal fosse possível) o pensamento do Pré-Socrático. Ai está uma palavra que não gostava tanto. Por fim, a utilização do E depois do M e o acento agudo no I depois do N tornavam-na uma palavra irresistível de repetir.
- Diversos aspectos foi o inicio escolhido para título de vários trabalhos meus (por exemplo Diversos aspectos do cogito agostiniano em Filosofia Medieval) e cujas razões são simples de perceber e andarão entre a ingenuidade e a Chico-espertice.
A memoria que guardo da aula conta-se entre as memorias mais felizes que tenho. O Dr. Pedro Mesquita dirigiu-se a mim perante a turma gabando-me a coragem e a fluidez da aula tendo também em conta alta os vários discernimentos duvidosos e acepções erradas eu que tinha apresentado à turma! Esta justiça de comentário não me esmoreceu, pelo contrario, entreguei o meu trabalho final exactamente sobre o mesmo tema, ajuntando algumas leituras e comentários ao corpo do texto sob o qual tinha baseado a aula. Passei à disciplina com quinze valores aos quais acho que o meu acto de bravura no auditório não é alheio.
Atalho, para depositar a esperança, de que a recordação de hoje também encontre lugar neste deposito arejado onde se encontram os melhores momentos da minha vida.
Existe um mito que os artistas e as pessoas que estão a comprar casa partilham. É o mito do clique. Aquela faísca meio pentecostal que surge dentro da nossa cabeça, faz o ar passar mais farto entre a garganta e o coração, acelerando ambos quando na presença dessa experiência. Foi isso que esta aula me deu. E que a faculdade e o curso de Filosofia me passou.
Eu sou um rapaz dos subúrbios, do tempo em que os subúrbios eram um mundo e viajar até Lisboa uma viagem interplanetária. Alguns de nós seguiam vidas sem regras. Outros liam Dostoivesky, viam Woody Allen, compravam a K do Miguel Esteves Cardoso e, sem acesso a muita coisa, tínhamos um acesso ilimitado à nossa inteligência e poder criativo e especulativo e sobretudo uma sede de conhecimento só saciável pelas fontes que estes edifícios centenários encerravam. Quando vinha na camioneta da Brandoa até ao Colégio Militar e numa viagem de ficção toda a linha do metro até à Cidade Universitária, ouvindo sempre música e lendo sempre um livro, tinha tempo para pensar, romantizar, sentindo ganas e nervos pelo ambiente, pelas lições, pela partilha que se realiza na Universidade. Muitas vezes me senti num labirinto académico, com contra-senhas bizarras: reprografia azul, departamento, pavilhão no Campo Grande. Muito me valeram as minhas colegas, bússolas infalíveis para alguém com a cabeça na lua. Passados uns tempos já soavam familiares aos meus ouvidos o Kirk & Raven, o Izusquisa, a livraria da Gulbenkian e o bar onde se comia mais barato.
Era a idade da pedra desta geração. Quase com Internet. Mas ainda sem ela. Não era melhor, nem pior, tínhamos outras confusões mas outras orientações também, que equilibravam uma tradição de boas intenções com o já irrequieto desejo que os noventa se fossem.
Os Moonspell são contemporâneos e como tal uma mistura destes mundos. Eu sou incrivelmente reconhecido como um filosofo no Metal e do Metal. É paradoxal, pomposo e estranho. Mas não há publicação que não comente isso quando fala comigo. No Expresso fui o filosofo metálico numa edição da revista Única. Na Alemanha, na revista Metal Hammer, que vende 60.000 unidades por mês, chegando agora a uma comunidade virtual de 300.000 pessoas, focou muito o aspecto de uma das nossas canções Handmade God (Deus feito à mão) ser influenciada pelo ateísmo hermenêutico de Feuerbach da Essência do Cristianismo, ou os fãs romenos contentes por eu conhecer alguma da obra de Cioran e ter usado essa leitura noutro tema. São estes brilharetes que o privilégio de ter cursado aqui na Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras me permitiram fazer. E por isso estou profundamente agradecido.
A minha vida é, em definitivo, um paradoxo aparente de algo que é universal, verificável e emocionalmente sentido. Há bem pouco tempo estive com os Moonspell a tocar num cruzeiro de Heavy Metal entre Miami, EUA e Cozumel, México. Quarenta e oito nações presentes para ver quarenta bandas numa Babel de afectos, comunhão e diversão a todos os níveis bíblica. Hoje elaboro aqui a minha experiência e vivência da electricidade da poesia e da filosofia. Afinal, se me permitem, nós somos ainda o dedo por trás dos botões, os olhos por detrás do ecrã, o garante de funcionamento de todo o mundo e civilização e, ao mesmo tempo, o seu maior e mais iminente perigo. Esta pujança não pode, nem vai deixar de ser pensada e entendida; e nunca a validade deste paradoxo entre barcos cheios de decibéis e salas como esta cheia de notáveis amigos que gostam e muito de pensar, fez, para mim, mais sentido.
Um muito obrigado a todos por terem vindo. A todos os meus colegas e professores do tempo do Curso. A todos os responsáveis por este amável convite, que em boa hora para mim se lembraram de mo endereçar, muito obrigado. Uma longa vida à Universidade de Lisboa e ao Seu Exmo Reitor e a todo o corpo docente e administrativo e de alunos desta nobre instituição, um humilde agradecimento. Sapere aude. Ousa saber.
sexta-feira, 11 de março de 2011
À rasca com a chuva
Estas últimas semanas, na minha opinião, tem sido dramáticas para o país. A juntar à crise, provocada pela sobranceria das elites e governantes, está o espírito de rebanho de um povo que, tendo muitas razões de queixa, não consegue reunir a força, a moral e a personalidade que lhe permita combater, com eficácia, a corrente pela qual foi arrastado, muitas vezes por estar simplesmente a descansar nas margens. Temos de aprender a criticar a nossa acção de modo a que consigamos encontrar caminhos mais independentes do Estado e da Sociedade Civil. Temos de aprender a gerir as nossas expectativas e a alimentar a esperança com mais razão, coisa que só podemos encontrar na inteligência e dedicação com que gerimos a nossa actividade, seja ela qual for.
Portugal é um país com um potencial impressionante mas esse potencial é ignorado pela maioria das pessoas com poder executivo e de decisão. No entanto, isso não quer dizer que as coisas não se façam. Não é preciso criar um gabinete de exportação da música nacional como condição sinequanon de internacionalização da música. Bandas já o conseguiram sem dinheiro estatal. Não só bandas, como agentes individuais de cultura ou grupos de teatro. Isto a exemplo de que não pode ser regra que a cada intenção de, por exemplo, exportação de cultura se tenha de desenhar um plano que envolva dinheiros públicos. É esse círculo vicioso que faz com que existam centenas de fundações, empresas público-privadas, associações que vieram apenas consumir recursos e dificultar, tecnocraticamente, os processos.
Vivemos num país em que muito gente se sobrevaloriza. Todos já o fizemos. As pessoas com maior sucesso no nosso país são sempre as mais realistas, as que conseguem gerir a expectativa e o trabalho focado nessa expectativa da melhor maneira. Os Portugueses começam a sobrevalorizar as suas crianças logo desde as primeiras gracinhas de bébé, mas na hora de se apostar na educação e na direcção dos seus jovens, o país é tradicionalista e oportunista e prefere a solução e o caminho mais curto do que pensar a prazos mais longos. É natural que haja um colapso nas vagas de emprego para onde houve mais formandos. As pessoas, os estudantes preocuparam-se com o imediato, esquecendo a exaustão e a finitude dos recursos. O sistema de emprego Português também não facilita e é profundamente desequilibrado. Por exemplo em Medicina há uma exigência quase elitista e muitos dos nossos profissionais terão de emigrar pois num país mais desenvolvido, que valoriza a experiência e o dia-a-dia, as suas notas lhes permitem uma colocação interdita em Portugal que prefere importar médicos a equilibrar a colocação de alunos com uma média superior mas que não chega para os hospitais nacionais.
No capítulo das Artes temos de acabar com a expectativa do mecenato e elaborar uma lógica de subsistência própria. Há imensa gente de muito valor mas o fiel da balança muitas vezes pende para uma actividade artística divorciada do público e como tal separada, à nascença, da receita e do retorno que a Arte, em todo o mundo, em qualquer patamar, pode e deve gerar. O mundo artístico é um mundo que conheço bem e muitas vezes me deparo com situações de dolo, preguiça, leviandade. Metade das casas que uma ou outra vez frequentei, metade dos jantares e get togethers a que fui, e por aí fora são exemplos de que muitos artistas vivem bem melhor que a média da população e essa vivência é subsidiada pelo contribuinte, facto pura e simplesmente ignorado pelo fosso criador-consumidor que a cena, especialmente em Lisboa, alimenta de forma errada. Digo isto por contacto directo. Qualquer pessoa do teatro ou especialmente do cinema tem uma casa, carro e condições melhores que as minhas, que vivo da música, que tenho de investir com regularidade na minha actividade a nível de material, por exemplo, e que considero Moonspell como um projecto bastante activo, com centenas de concertos por ano, lançamentos mais ou menos constantes, isto para não falar dos outros projectos em que me envolvo regularmente.
Muito mais que a questão de a relva do outro lado da vedação ser mais verde, esta é uma realidade que observei e que não consegui computar mas que pode ser facilmente verificada.
Amanhã não irei à manifestação por não me identificar com a sua semântica e participantes. Por outro lado, longe de mim censurar quem luta mas terei de esperar que a esta manifestação se siga o rumo natural de tentar melhorar em casa, no escritório, no estúdio antes de se sair à rua. Na rua tudo acontece, mas entre paredes tudo se pensa.
Deixo-vos três apontamentos que achei que dignificaram a discussão, apresentando pontos de vista válidos que subscrevo na sua maior parte.
O primeiro é um texto que criou polémica com a nova geração. Tenho 37 anos e identifico-me com a maioria das palavras de Isabel Stilwell e acho que as devemos saber escutar antes de contra-atacar a verdade com argumentos umbilicais. Podem ver esse texto aqui:
http://www.destak.pt/opiniao/87876
O outro texto é de Pedro Boucherie Mendes que faz o historial necessário, contextualizando a acção de Jel/Neto, Homens da Luta. Conheço o Jel há coisa de quinze anos e sempre foi uma pessoa da intervenção. A criatura politica do momento também é um comediante: Jon Stewart. O Festival da Canção pode ser um pormenor para mim, enquanto músico e cidadão, mas os Homens da Luta serão algo mais complexo e aberto que os malucos que o país precisava para sucederem, na moda de intervenção, aos Deolinda. Fica o texto:
http://www.ionline.pt/conteudo/109069-um-homem-que-luta
E por fim uma citação do músico B Fachada (do qual manifestamente me distancio musicalmente e semanticamente) mas que respondeu com brilho a uma entrevista da revista Blitz de Março da qual destaco este excerto:
"(...) Eu não quero fazer parte dos anos Zero portugueses, tenho a ambição de uma profissionalização mais abrangente. Ouço aqueles discos (tinha citado Joanna Newson, John Grant, Ariel Pink) e o meu, ao lado deles, soa fraquinho- e isso não me satisfaz. Não me interessa perseguir um lugar nobre numa cultura pobre. Temos que conseguir melhorar os nossos estúdios, fazer com que os músicos trabalhem como se trabalha lá fora. Já chega de para português, não está mau."
Aqui se aplaude essa inquietação num país que parece, musicalmente, cada vez mais fechado sobre si mesmo, desistindo de se mostrar e de ser por em bicos de pé.
Aqui no estúdio Inferno trabalha-se com afinco, prazer e expectativa num novo disco que irá seguir à risca o lema do equilibrio entre o que fazemos e o que podemos esperar.
A todos um bom fim-de-semana e boa leitura!
Portugal é um país com um potencial impressionante mas esse potencial é ignorado pela maioria das pessoas com poder executivo e de decisão. No entanto, isso não quer dizer que as coisas não se façam. Não é preciso criar um gabinete de exportação da música nacional como condição sinequanon de internacionalização da música. Bandas já o conseguiram sem dinheiro estatal. Não só bandas, como agentes individuais de cultura ou grupos de teatro. Isto a exemplo de que não pode ser regra que a cada intenção de, por exemplo, exportação de cultura se tenha de desenhar um plano que envolva dinheiros públicos. É esse círculo vicioso que faz com que existam centenas de fundações, empresas público-privadas, associações que vieram apenas consumir recursos e dificultar, tecnocraticamente, os processos.
Vivemos num país em que muito gente se sobrevaloriza. Todos já o fizemos. As pessoas com maior sucesso no nosso país são sempre as mais realistas, as que conseguem gerir a expectativa e o trabalho focado nessa expectativa da melhor maneira. Os Portugueses começam a sobrevalorizar as suas crianças logo desde as primeiras gracinhas de bébé, mas na hora de se apostar na educação e na direcção dos seus jovens, o país é tradicionalista e oportunista e prefere a solução e o caminho mais curto do que pensar a prazos mais longos. É natural que haja um colapso nas vagas de emprego para onde houve mais formandos. As pessoas, os estudantes preocuparam-se com o imediato, esquecendo a exaustão e a finitude dos recursos. O sistema de emprego Português também não facilita e é profundamente desequilibrado. Por exemplo em Medicina há uma exigência quase elitista e muitos dos nossos profissionais terão de emigrar pois num país mais desenvolvido, que valoriza a experiência e o dia-a-dia, as suas notas lhes permitem uma colocação interdita em Portugal que prefere importar médicos a equilibrar a colocação de alunos com uma média superior mas que não chega para os hospitais nacionais.
No capítulo das Artes temos de acabar com a expectativa do mecenato e elaborar uma lógica de subsistência própria. Há imensa gente de muito valor mas o fiel da balança muitas vezes pende para uma actividade artística divorciada do público e como tal separada, à nascença, da receita e do retorno que a Arte, em todo o mundo, em qualquer patamar, pode e deve gerar. O mundo artístico é um mundo que conheço bem e muitas vezes me deparo com situações de dolo, preguiça, leviandade. Metade das casas que uma ou outra vez frequentei, metade dos jantares e get togethers a que fui, e por aí fora são exemplos de que muitos artistas vivem bem melhor que a média da população e essa vivência é subsidiada pelo contribuinte, facto pura e simplesmente ignorado pelo fosso criador-consumidor que a cena, especialmente em Lisboa, alimenta de forma errada. Digo isto por contacto directo. Qualquer pessoa do teatro ou especialmente do cinema tem uma casa, carro e condições melhores que as minhas, que vivo da música, que tenho de investir com regularidade na minha actividade a nível de material, por exemplo, e que considero Moonspell como um projecto bastante activo, com centenas de concertos por ano, lançamentos mais ou menos constantes, isto para não falar dos outros projectos em que me envolvo regularmente.
Muito mais que a questão de a relva do outro lado da vedação ser mais verde, esta é uma realidade que observei e que não consegui computar mas que pode ser facilmente verificada.
Amanhã não irei à manifestação por não me identificar com a sua semântica e participantes. Por outro lado, longe de mim censurar quem luta mas terei de esperar que a esta manifestação se siga o rumo natural de tentar melhorar em casa, no escritório, no estúdio antes de se sair à rua. Na rua tudo acontece, mas entre paredes tudo se pensa.
Deixo-vos três apontamentos que achei que dignificaram a discussão, apresentando pontos de vista válidos que subscrevo na sua maior parte.
O primeiro é um texto que criou polémica com a nova geração. Tenho 37 anos e identifico-me com a maioria das palavras de Isabel Stilwell e acho que as devemos saber escutar antes de contra-atacar a verdade com argumentos umbilicais. Podem ver esse texto aqui:
http://www.destak.pt/opiniao/87876
O outro texto é de Pedro Boucherie Mendes que faz o historial necessário, contextualizando a acção de Jel/Neto, Homens da Luta. Conheço o Jel há coisa de quinze anos e sempre foi uma pessoa da intervenção. A criatura politica do momento também é um comediante: Jon Stewart. O Festival da Canção pode ser um pormenor para mim, enquanto músico e cidadão, mas os Homens da Luta serão algo mais complexo e aberto que os malucos que o país precisava para sucederem, na moda de intervenção, aos Deolinda. Fica o texto:
http://www.ionline.pt/conteudo/109069-um-homem-que-luta
E por fim uma citação do músico B Fachada (do qual manifestamente me distancio musicalmente e semanticamente) mas que respondeu com brilho a uma entrevista da revista Blitz de Março da qual destaco este excerto:
"(...) Eu não quero fazer parte dos anos Zero portugueses, tenho a ambição de uma profissionalização mais abrangente. Ouço aqueles discos (tinha citado Joanna Newson, John Grant, Ariel Pink) e o meu, ao lado deles, soa fraquinho- e isso não me satisfaz. Não me interessa perseguir um lugar nobre numa cultura pobre. Temos que conseguir melhorar os nossos estúdios, fazer com que os músicos trabalhem como se trabalha lá fora. Já chega de para português, não está mau."
Aqui se aplaude essa inquietação num país que parece, musicalmente, cada vez mais fechado sobre si mesmo, desistindo de se mostrar e de ser por em bicos de pé.
Aqui no estúdio Inferno trabalha-se com afinco, prazer e expectativa num novo disco que irá seguir à risca o lema do equilibrio entre o que fazemos e o que podemos esperar.
A todos um bom fim-de-semana e boa leitura!
quinta-feira, 10 de março de 2011
Conquistadores- report Maxmen 70.000 tons of Metal
“Por mares nunca assim navegados”
Dias antes de zarparmos para esta nova aventura, os comentários dos nossos amigos e familiares sobre o Titanic cresceram de tom, sem nós queremos acreditar que o mais negro dos humores se instalava dentro do nosso próprio núcleo de amigos e familiares. Afinal, era-nos complicado explicar que íamos tocar num cruzeiro de Metal. Cinco dias entre Miami, Estados Unidos e Cozumel, México and back. Dois concertos, um num teatro do barco, um sítio maravilhosamente luxuriante, com talha fingida e candeeiros de sereias; outro, à volta, num palco montado exactamente na piscina,sete horas antes do Majesty of the Seas partir, e concluído minutos antes da chaminé começar a cuspir os primeiros fumos. Connosco, tocavam mais trinta e nove bandas, para uma lotação esgotada de 2000 pagantes, mil euros por bilhete, quarenta e oito nacionalidades. Arábia Saudita, Estados Unidos, Japão, Holanda, um grande contingente Alemão, quer em bandas, quer em festivaleiros, Espanha, Costa Rica, México e...Portugal! Explicar que não havia backstage, aliás a ideia era exactamente um open space, onde todos pudéssemos beber copos ou fazer jacuzzi juntos.
Foi sob o signo da incompreensão terrena e desejo Luso pelo Mar que saímos de Portugal de avião...Prometia a viagem: Lisboa- Londres (3 horas de espera)-Chicago (8 horas de espera)-Guatemala City, primeira paragem desta mini-epopeia de dez dias que para alem do cruzeiro, incluía dois concertos, um em Guatemala, outro na cidade do México e depois os dois do barco. Guatemala City foi uma confusão de pagamentos e sonos, lembro-me vagamente de secar a roupa do concerto com uma ventoinha e de todos as refeições serem pequenos-almoços. Teríamos ido ainda à Costa Rica mas o promotor disse que tinha partido uma perna e que não podia receber-nos como ele desejaria. Down to México.
O México é sempre a valer! Sala esgotada, duas mil e quinhentas almas, merecendo o melhor. Por isso tocamos na íntegra o nosso primeiro álbum Wolfheart e saímos sobre uma chuva de aplausos, dois soutiens e pedidos de encore. Acho que nem passámos 24 horas no México. Quando dei por mim já estava no Bubba Shrimp, um diner enorme inspirado no filme Forrest Gump, a comer marisco frito com batatas fritas e ketchup e cerveja americana. Comprados os essenciais para o barco, fomos fazer o check in no Majesty of the Seas, o enorme paquete que serviria de cenário, sobre as águas do Golfo do México, ao festim metálico do século!!! O primeiro problema foi arranjar transporte para o porto. Havia dois dias que dois policias da Miami Dade tinham sido executados por membros de gangs e esse dia era o funeral. Quando acordei vi a cidade parada e um desfile fúnebre de centenas de carros policiais, durante pelo menos vinte minutos. À grande e à Americana. Depois de muita negociação, chegámos, via shutlle/hotel/brazilian connections, finalmente ao porto.
Ao principio nem vimos o barco. Estava atrás de uma estrutura ainda maior que o escondia e onde fizemos o check in. Deram-nos um cartão tipo hotel, ligado ao nosso cartão de crédito, cash não era bem vindo a bordo, um cartão mágico que a organização já carregara para os músicos com a quantia de cem dólares para nós gastarmos como quiséssemos durante a viagem. A isto chamo saber receber. Depois da foto da praxe à porta do barco, onde conseguimos ficar todos mal fazendo com que a origem da foto pudesse ser ali no Terreiro do Paço, depois do exercício obrigatório de salvamento, que só o Pedro Paixão, o nosso teclista prestou atenção, subimos ao convés, vimos Miami anoitecer e começamos a investir o nosso crédito, mandando vir um balde cheio de Coronas on Ice, to get in the mood. Tínhamos finalmente zarpado em direcção aquilo que não tínhamos conseguido explicar convenientemente aos mais próximos.
Houve uma altura no barco em que toda a gente se sentiu como numa reunião do liceu. Afinal a cena metaleira e o mundo são mesmo uma concha. Afinal estas bandas que aqui estavam já se tinham cruzado em imensos festivais e desde logo se instalou um ambiente impecável. Os fãs deambulavam, tiravam a fotografia do costume, o autografo mas desde logo perceberam que estavam ente iguais e durante os dias todos que passámos ali foi espectacular compreender que não só cada um respeitava o seu espaço como a relação era fluida. Falava-se de música, da vida, dava-se os bons dias ao pequeno-almoço. Este barco fez muito pela cultura da proximidade. No primeiro dia não tocámos mas observámos e socializámos. Também é importante. Conhecemos os Portugueses que tinham vindo (uma saudação a todos!), cinco no total, fora nós. Um rapaz mais da nossa idade, com um bom emprego e uma vida sólida, e dois rapazes mais novos, acompanhados pelas mães se bem que nunca os tenha visto juntos, dois thrashers de alma e coração. Também conhecemos o André Seixas que me enviou um abraço juntamente com a conta do meu crédito. O André trabalhava no barco e estava muito entusiasmado com a nossa participação. No primeiro concerto lá estava ele com a camisola da selecção e nós a partilhar com a mesma intensidade que ele o orgulho de ser português, de estar entre iguais em terras ou mares estranhos, uma coisa que é boa apesar do pudor do Português em ser Português. Ao André, um abraço!
O primeiro concerto foi atribulado. Já em mar alto as coisas iam de outra maneira e nas manobras velocistas do Comandante para cumprir obrigações, o concerto começou mal com problema técnicos (uma constante infelizmente devido à natureza do evento) mas acabou em franca beleza com mais e mais público a chegar de outros concertos e a juntar-se, em boa hora, ao ritual lusitano. Acabei a noite numa situação comum mas com personagens incomuns, ao redor de uma fatia de pizza (servida até às cinco da manhã) à mesa com um venezuelano (Aires, o nosso baixista), e mais quatros pessoas, um canadiano, um saudita, um chileno (que baptizamos de Capitan Chile e que se houvesse prémio de simpatia no cruzeiro o teria arrebatado!), e uma rapariga da Nova Zelândia.
Bem, contar a experiência que foi este cruzeiro, uma actividade insólita que acabou por fazer história no Metal, nestas linhas é quase impossível. Haviam executivos, representantes da marca AVON no México, à biqueirada no concerto de Exodus; passavam hordes alemãs com cervejas num copo com a forma e o tamanho de uma bota alta; os hamburgers e as danças coreografadas dos empregados do Johhny Rockets; o dia de folga em Cozumel, bezerrando pelas praias de cerveja na mão; gente no jacuzzi, 24 horas por dia, gordos, magros, homens, mulheres, tatuados, limpinhos; demos com um Espanhol e com uma Canadiana a fazerem jogging ao som de Moonspell. Cinco dias, cinco noites numa Babel flutuante, conquistando os mares quinhentos anos depois , como escreveu o André no meu recibo que vou guardar para sempre, como se fosse o diário da viagem nada trágica mas orgulhosamente marítima dos Moonspell.
Se não gostarem olhem só para as fotografias :)
http://www.facebook.com/maxmen.pt
Um abraço
terça-feira, 1 de março de 2011
Ibéria Rocks
Corria o ano e 1988 e eu já me mandava para fora de pé, nos meus quase 14 anos. Tinha descoberto o ano passado as maravilhas do inesperado Metal, depois da iniciação com Maiden, Dio, Ozzy, Metallica, Whitesnake, Slayer. Agitavam os meus sentidos agora bandas como Celtic Frost, Bathory, King Diamond, que tinha conhecido por intermédio de amigos mais velhos e colegas da escola e estas descobertas tinham, em definitivo, mudado a minha vida. Daí ao vento mais underground do Metal Brasileiro, Sarcófago, early Sepultura, Genocídio, entre Europas do Norte, Polónia, Noruega, cassetes com nomes como Unknown Soldiers of Thrash, como bandas como Vader, ou gemas em bruto como Emperor, Old Funeral (que dariam origem aos Immortal), Nihilist, enfim centenas de documentos em cassete que descansam em busca de mais tempo pessoal, para lhes tirar poeiras e revisitar tempos que me marcaram profundamente. É sempre curioso que o pessoal do Underground que me apontam o dedo não tenham sequer vivido um por cento desta formação de uma cena que se tornou gloriosa, polémica mas sempre vibrante. Enfim, outras histórias...
Nesse mesmo ano em Portugal uma banda de Heavy Rock chamada Iberia lançava um single Hollywood, uma canção estupenda que, quanto a mim, rivalizava com os hits Heavy Rock lá de fora. O visual era arrojado, muito Van Halen, num tempo em que a diferença era vista com ânsia e alguma curiosidade, até pela coragem que era vestir algo diferente, ou ter um hairstyle à Americana. Os Iberia também esbarraram no tradicionalismo de um país que nunca aceitou, nem levou a sério o Hard Rock, pelo menos não da maneira justa, que este estilo específico merecia em comparação com a Europa e com os EUA, dos quais na altura estávamos ainda mais longe, quase isolados.
Os Ibéria tiveram uma carreira como que curta mas fulgurante, gerando mais consenso que polémica,e marcando o Rock Português de uma forma muito positiva, com singles radiofónicos e catchy, presença constante e aguerrida nos palcos, imagem, glamour sujo, com um pé no Heavy e outro no Rock. Eis que agora voltam ao nosso convivio, dia décadas depois.
Os regressos levantam sempre uma série de questões, mas no caso dos Ibéria é pacífico afirmar que este desejo é mais interior que conjuntural. É mais um acto de coragem e demonstra, sobretudo através do baixista e alma da banda João Sérgio Reis, como a música é muito mais que um interesse, uma carreira, uma luta desigual, um seguimento da praxe, não se consegue em bandas com originais faz-se de covers. É algo maior que arde dentro destes homens que sempre tiveram uma qualidade que os distingue e, na minha opinião, lhes permite encarar esta reunião com optimismo. Primeiro porque fizeram um disco pleno e afirmativo. Não é pelo facto de eu ou o meu colega Ricardo termos participado no disco que ele se torna importante. Na verdade, nós pouco que conseguimos fazer a diferença na nossa própria banda, quanto mais trazer para a realidade as expectativas de alguém! O facto é que canções como Nitro ou Angel, entre outras, dispensam qualquer efeito e a nossa aceitação deste convite é honesta, por questões de admiração e de amizade, acima de qualquer outra razão. Todos os envolvidos sabem disso.
E neste Sábado subiremos ao placo com as lendas que o ambiente Português ainda consegue deixar criar.
Fica a sugestão e o convite:
Nesse mesmo ano em Portugal uma banda de Heavy Rock chamada Iberia lançava um single Hollywood, uma canção estupenda que, quanto a mim, rivalizava com os hits Heavy Rock lá de fora. O visual era arrojado, muito Van Halen, num tempo em que a diferença era vista com ânsia e alguma curiosidade, até pela coragem que era vestir algo diferente, ou ter um hairstyle à Americana. Os Iberia também esbarraram no tradicionalismo de um país que nunca aceitou, nem levou a sério o Hard Rock, pelo menos não da maneira justa, que este estilo específico merecia em comparação com a Europa e com os EUA, dos quais na altura estávamos ainda mais longe, quase isolados.
Os Ibéria tiveram uma carreira como que curta mas fulgurante, gerando mais consenso que polémica,e marcando o Rock Português de uma forma muito positiva, com singles radiofónicos e catchy, presença constante e aguerrida nos palcos, imagem, glamour sujo, com um pé no Heavy e outro no Rock. Eis que agora voltam ao nosso convivio, dia décadas depois.
Os regressos levantam sempre uma série de questões, mas no caso dos Ibéria é pacífico afirmar que este desejo é mais interior que conjuntural. É mais um acto de coragem e demonstra, sobretudo através do baixista e alma da banda João Sérgio Reis, como a música é muito mais que um interesse, uma carreira, uma luta desigual, um seguimento da praxe, não se consegue em bandas com originais faz-se de covers. É algo maior que arde dentro destes homens que sempre tiveram uma qualidade que os distingue e, na minha opinião, lhes permite encarar esta reunião com optimismo. Primeiro porque fizeram um disco pleno e afirmativo. Não é pelo facto de eu ou o meu colega Ricardo termos participado no disco que ele se torna importante. Na verdade, nós pouco que conseguimos fazer a diferença na nossa própria banda, quanto mais trazer para a realidade as expectativas de alguém! O facto é que canções como Nitro ou Angel, entre outras, dispensam qualquer efeito e a nossa aceitação deste convite é honesta, por questões de admiração e de amizade, acima de qualquer outra razão. Todos os envolvidos sabem disso.
E neste Sábado subiremos ao placo com as lendas que o ambiente Português ainda consegue deixar criar.
Fica a sugestão e o convite:
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
É já amanhã
Fernando Ribeiro dos Moonspell dá Lição na Reitoria da Universidade de Lisboa
Amanhã, Fernando Ribeiro dá uma Lição, às 18 horas, na Sala de Conferências da Reitoria da Universidade de Lisboa, subordinada ao tema, Filosofia e Rock - como viver no mundo da poesia eléctrica.
O ciclo Cem Lições, inserido nas Comemorações dos 100 Anos da Universidade de Lisboa, está a decorrer desde 24 de Janeiro a 12 de Maio, de segunda a sexta, às 18h. na Sala de Conferências da Reitoria da Universidade de Lisboa. Isabel Alçada, António Costa, António Lobo Antunes, Francisco Pinto Balsemão, António-Pedro Vasconcelos, Elisabete Jacinto, José Mário Branco, Lídia Jorge, Manuel João Vieira, Maria João Seixas, Maria José Morgado, Teresa Patrício Gouveia são alguns dos antigos alunos que regressam às cadeiras da Universidade de Lisboa, para darem 100 Lições.
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
Liga de Cavalheiros
Thomas Gabriel Fischer/Warrior é o fundador, alma, voz e espírito dos Celtic Frost e agora dos Tryptikon. Em conjunto com Martin Eric Ain, criou, por mão própria,dentro do Metal, um estilo alternativo, com uma escuridão especial, introduzindo elementos avantgardistas, vozes femininas, arranjos orientais e uma temática forte, guerreira, maldita coadjuvada por uma imagem dark e sepulcral, à qual ajudou a amizade e colaboração com o pintor/escultor H.R.Giger que assinou o artowrk de To Mega Therion. Thomas trabalha actualmente com Giger, como seu assistente. Mas tudo isto já sabiam vocês.
O que talvez escape é que Thomas é um cavalheiro. Uns dos já raros nobres do Metal, com uma humildade, uma consciência, um conhecimento que nos encanta e conversa intacto os nossos mitos, não sobre um Metal God Suiço, mas apenas um homem solar e lunar, forte, conciso, simpático, que sabe quem é mas que não se atrapalha com isso. De mim, muitos dirão, que devia aprender com ele. é verdade e assim o fiz. Porque o Tom também tem os seus detractores, pessoas que não o tentam conhecer e conduzem a enganos terríveis. Eu consigo indentificar-me com isso.
Conheci o Thomas há coisa de cinco anos atrás. Fomos tocar a um festival na Grécia e encontrámo-nos no hotel. Já contei esta história na Loud! mas aqui fica o sublinhar do deslumbramento e adoração, contidos pela simplicidade desarmante do Tom que me fez calar para fazer elogios à minha banda, que nem sequer existiria, não fora a sombra e o legado de homens como o Tom, o Quorthon, o Peter Steele. Todos eles, à sua maneira, cavalheiros e justos no trato.
Quando agora me cruzo com figuras de proa do Metal, vindas do boom do Viking Meta, do Pagan, do folk, acabo-me por me sentir sozinho e snob, porque talvez estivesse mais habituado a uma boa conversa, a emanações inteligentes, a troca com conteúdo, momentos imersos em humanidade, com a piada fácil mas espirituosa, sem os silêncios incomodados de uma conversa sempre em gritos, à volta de qualquer bebida forte, ou de mares de mijo de cerveja, falando de quanto se vende, o que se toca, ou de qualquer coisa fraquinha de conteúdo para não incomodar o avançar das células alcoólicas.
A última conversa de jeito foi mesmo com o Alan dos Primordial e agora vocalista do tributo a Bathory, Twilight of the Gods, que vi ao vivo no 70.000 tons of Metal, para meu gáudio. Ele explicava que na tour Paganfest (com Ensiferium, Finntroll, entre outros) tinham sido convidados para fechar o que se revelou uma armadilha. Da grande adesão do público na Alemanha, eles beneficiaram muito pouco, porque o concerto funcionava assim: entrava toda a gente, via a sua banda preferida e ia-se embora. Os TOG chegavam a tocar para 200 pessoas numa plateia inicial de 2000. Eu, conhecendo a realidade, não pude deixar de perguntar, até pelas ligações criativas e fundadoras de Bathory ao Viking e Folk e Black Metal, se não havia curiosidade em conhecer o legado, mesmo que através de um tributo, sendo este constituido por gente ilustre. Ele foi pragmático e respondeu que não. Porque ninguém conhecia Bathory.
Os jovens fãs Folk que enchem estes concertos vão-se, então, indo embora sem dizer adeus a ninguém, sem socializar, sem beber uma cerveja. Um dono de um clube famoso pelos seus shows Metal na Alemanha, vaticinou: estes miúdos estão a matar o Metal. Este é um post sobre o lado elegante do Metal mas não posso, depois da experiência que foi o cruzeiro, de sublinhar que o Metal tem o outro lado, do companheirismo, da libertação que vivido em comunidade pode dar origem a um saudável convivio, a um estilo de vida, que cavalheiros ou não, fazem parte de todo o processo de fruição do Metal, coisa que, pelos vistos, não extravasa a reacção quase ensaiada do povo às sugestões do palco. Como uma nação de zombies, lideradas por zombies.
É bem verdade que cada um ouve o que quer e como quer, mas para ouvir Metal tem de fazer um compromisso mais alargado que extravasa a música. Podemos preferir o cavalheirismo de uma boa conversa entre criadores ou a folia de uma boa corrida pelo moshpit, mas há algo que nos irá unir no fim, um sentido de participar que tantas bandas, editoras e fãs fez e faz surgir no mundo inteiro. O 70.000 tons of Metal foi uma experiência insólita mas pioneira (aqui darei contas das nossas aventuras mas tarde) que conseguiu a proeza de reunir todos os comportamentos. Houve quem fizesse jacuzzi todo o dia, houve quem fizesse workshops de instrumentos. Houve quem trocasse fluídos, outros nomes de bandas, livros, histórias sobre o seu país.
O trabalho que os TOG de Alan dos Primordial estão a fazer é quase pedagógico e pode eliminar as fronteiras generacionais se ouvido com a atenção devida. Nós sabemos que não são os Bathory que ali estão, mas a experiência é para quem conhece, arrepiante, e para quem desconhece uma descoberta de ouro. Não se pode,de maneira alguma deixar uma forma de indiferença e apatia dominar o Metal, não se pode deixar que as ideias diferentes não tenham cabimento no estilo mais criativo do mundo, não se pode deixar a diversão, tão essencial, ser a única coisa que interessa ao novo Metal com temas da Antiguidade.
Esse temas são fascinantes. Por isso escrever sobre um Rei, sobre uma Saga, sobre uma nação, um povo, um legado tem que ser algo mais que uma pesquisa rápida na net, a observação atenta dos Senhores dos Anéis ou uma leitura bruta sobre a gema dourada do único disco de Viking Metal, digno desse nome, estilo e semântica, que é o Hammerheart dos Bathory.
Estas notas valem o que valem, mas a atenção segue e a vontade de nos defender do que nos é imposto pela via dos números tem de ser semeada, e as sementes são sempre pequenas em tamanho, mas possíveis de florescer, pela potência que encerram, como nos disse Aristoteles acerca das qualidades, séculos atrás.
Bom fim de semana a todos.
Ps: Se quiserem me ajudar a incentivar este blog partilhem-no no Facebook, comentem e dêem a mostrar a quem de interesse.Muito obrigado, long live metal!!!
O que talvez escape é que Thomas é um cavalheiro. Uns dos já raros nobres do Metal, com uma humildade, uma consciência, um conhecimento que nos encanta e conversa intacto os nossos mitos, não sobre um Metal God Suiço, mas apenas um homem solar e lunar, forte, conciso, simpático, que sabe quem é mas que não se atrapalha com isso. De mim, muitos dirão, que devia aprender com ele. é verdade e assim o fiz. Porque o Tom também tem os seus detractores, pessoas que não o tentam conhecer e conduzem a enganos terríveis. Eu consigo indentificar-me com isso.
Conheci o Thomas há coisa de cinco anos atrás. Fomos tocar a um festival na Grécia e encontrámo-nos no hotel. Já contei esta história na Loud! mas aqui fica o sublinhar do deslumbramento e adoração, contidos pela simplicidade desarmante do Tom que me fez calar para fazer elogios à minha banda, que nem sequer existiria, não fora a sombra e o legado de homens como o Tom, o Quorthon, o Peter Steele. Todos eles, à sua maneira, cavalheiros e justos no trato.
Quando agora me cruzo com figuras de proa do Metal, vindas do boom do Viking Meta, do Pagan, do folk, acabo-me por me sentir sozinho e snob, porque talvez estivesse mais habituado a uma boa conversa, a emanações inteligentes, a troca com conteúdo, momentos imersos em humanidade, com a piada fácil mas espirituosa, sem os silêncios incomodados de uma conversa sempre em gritos, à volta de qualquer bebida forte, ou de mares de mijo de cerveja, falando de quanto se vende, o que se toca, ou de qualquer coisa fraquinha de conteúdo para não incomodar o avançar das células alcoólicas.
A última conversa de jeito foi mesmo com o Alan dos Primordial e agora vocalista do tributo a Bathory, Twilight of the Gods, que vi ao vivo no 70.000 tons of Metal, para meu gáudio. Ele explicava que na tour Paganfest (com Ensiferium, Finntroll, entre outros) tinham sido convidados para fechar o que se revelou uma armadilha. Da grande adesão do público na Alemanha, eles beneficiaram muito pouco, porque o concerto funcionava assim: entrava toda a gente, via a sua banda preferida e ia-se embora. Os TOG chegavam a tocar para 200 pessoas numa plateia inicial de 2000. Eu, conhecendo a realidade, não pude deixar de perguntar, até pelas ligações criativas e fundadoras de Bathory ao Viking e Folk e Black Metal, se não havia curiosidade em conhecer o legado, mesmo que através de um tributo, sendo este constituido por gente ilustre. Ele foi pragmático e respondeu que não. Porque ninguém conhecia Bathory.
Os jovens fãs Folk que enchem estes concertos vão-se, então, indo embora sem dizer adeus a ninguém, sem socializar, sem beber uma cerveja. Um dono de um clube famoso pelos seus shows Metal na Alemanha, vaticinou: estes miúdos estão a matar o Metal. Este é um post sobre o lado elegante do Metal mas não posso, depois da experiência que foi o cruzeiro, de sublinhar que o Metal tem o outro lado, do companheirismo, da libertação que vivido em comunidade pode dar origem a um saudável convivio, a um estilo de vida, que cavalheiros ou não, fazem parte de todo o processo de fruição do Metal, coisa que, pelos vistos, não extravasa a reacção quase ensaiada do povo às sugestões do palco. Como uma nação de zombies, lideradas por zombies.
É bem verdade que cada um ouve o que quer e como quer, mas para ouvir Metal tem de fazer um compromisso mais alargado que extravasa a música. Podemos preferir o cavalheirismo de uma boa conversa entre criadores ou a folia de uma boa corrida pelo moshpit, mas há algo que nos irá unir no fim, um sentido de participar que tantas bandas, editoras e fãs fez e faz surgir no mundo inteiro. O 70.000 tons of Metal foi uma experiência insólita mas pioneira (aqui darei contas das nossas aventuras mas tarde) que conseguiu a proeza de reunir todos os comportamentos. Houve quem fizesse jacuzzi todo o dia, houve quem fizesse workshops de instrumentos. Houve quem trocasse fluídos, outros nomes de bandas, livros, histórias sobre o seu país.
O trabalho que os TOG de Alan dos Primordial estão a fazer é quase pedagógico e pode eliminar as fronteiras generacionais se ouvido com a atenção devida. Nós sabemos que não são os Bathory que ali estão, mas a experiência é para quem conhece, arrepiante, e para quem desconhece uma descoberta de ouro. Não se pode,de maneira alguma deixar uma forma de indiferença e apatia dominar o Metal, não se pode deixar que as ideias diferentes não tenham cabimento no estilo mais criativo do mundo, não se pode deixar a diversão, tão essencial, ser a única coisa que interessa ao novo Metal com temas da Antiguidade.
Esse temas são fascinantes. Por isso escrever sobre um Rei, sobre uma Saga, sobre uma nação, um povo, um legado tem que ser algo mais que uma pesquisa rápida na net, a observação atenta dos Senhores dos Anéis ou uma leitura bruta sobre a gema dourada do único disco de Viking Metal, digno desse nome, estilo e semântica, que é o Hammerheart dos Bathory.
Estas notas valem o que valem, mas a atenção segue e a vontade de nos defender do que nos é imposto pela via dos números tem de ser semeada, e as sementes são sempre pequenas em tamanho, mas possíveis de florescer, pela potência que encerram, como nos disse Aristoteles acerca das qualidades, séculos atrás.
Bom fim de semana a todos.
Ps: Se quiserem me ajudar a incentivar este blog partilhem-no no Facebook, comentem e dêem a mostrar a quem de interesse.Muito obrigado, long live metal!!!
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
Cutucando o ninho da vespa
O ou a Blitz convidou-me para ser editor online por um dia e podem verificar aqui o resultado nos seguintes links:
http://blitz.aeiou.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=bz.stories/70658
http://blitz.aeiou.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=bz.stories/70660
http://blitz.aeiou.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=bz.stories/70666
A estrutura do artigo virtual contém uma entrevista,a escolha de 3 temas de bandas que me tenham chamado atenção e respeito e três noticias que da mesma forma me despertaram o interesse.
Tenho pelo Blitz, como qualquer Português que goste ou se relacione com a música, uma relação ambígua. Já estivemos de relações cortadas no passado, já fomos capa quase forçada á direcção pelo argumento público, presentemente somos uma banda que conta com o Blitz e vice-versa, daí este convite, e que através do caminho, quanto a mim, positivo da revista e do seu portal vamos aferindo do estado da música nacional, internacional e de quem a discute e segue atentamente ou menos. Nada é perfeito, nem o Bitz mas é um presença a que recorremos inevitavelmente durante estes anos todos, para nos indignarmos ou para respeitarmos e aprendermos conforme a ocasião. O Blitz já foi justo, já foi injusto mas tornou-se quase como uma wikipedia ou um wikileaks ou wikirumours, tornando tudo ainda mais ambíguo.
Quando me fizeram o convite, aceitei e pensei. Podia fazer algo mais estéril, sem me chatear, dando uma no cravo e outra na ferradura, contando as minhas histórias como outras banda o tem feito. Ou podia falar do que me incomodava e, com ou sem glória, mandar e receber chumbo tendo, no entanto, este meio exercício, meio desabafo, meio teste pelo menos me ajudado a mim e a chegar a algumas conclusões importantes.
Ontem, quando regressava da festa de anos de um amigo, pensei nalgumas coisas que, se não se importam gostava de partilhar aqui, num meio próprio, que seja meu e no qual eu esteja inteiramente integrado.
Primeiro fiz uma espécie de postulado para os haters:
1- Os haterz são uma espécie de snipers. Atiradores anónimos que ficam muito mas mesmo muito zangados se evitamos ou nos defendemos das suas balas ou, poir ainda, se disparamos de volta.
2- Encontro-me no meu pleno direito de achar uma merda quem me acha uma merda. (isto inclui miss daisies, kords, jeronimos e nóias outros que hoje recordo mas para a semana já estarão esquecidos)
3- Acho que muita gente dessa na minha posição seria como eles me pintam: arrogante, burro, lamechas, queixinhas. Acho não, sei disso. Na mesma ordem de ideias muitos gostavam de ser como eu. O contrário não se aplica.
4- Com tanta coisa que há para falar (mesmo nestes links) não se falou de muita coisa.
5- Sou um espírito livre. Estou e canto onde quiser. Não tenho de ir vingar as misérias da minha vida e mente para um forum.
Posto isto, devo dizer que foi, pelo menos, um sucesso para mim ver a carapuça enfiar e os haters sairem debaixo das rochas que habitam. Nunca foi minha intenção queixar-me, mais, creio eu, pensar soluções e relatar injustiças mas também experiências que, ingénuo, julgavam que iam agradar e fazer bem à cena musical Portuguesa e ao Metal em particular. Enganei-me e saí da Loud por isso. Exagerei muitas vezes, claro, mas sou claro ao dizer que a vida de um músico em Portugal é profundamente mal-entendida e que a generalidade das pessoas não faz ideia do que é estar num grupo com responsabilidades. A vida é fácil para quem não faz e não aparece.
Tudo isto vindo de pessoas que, a maior parte, fazem o que não gostam toda a vida e acusam os outros de traição a uma causa. Para se fazer o que gosta na vida e na música tem de se fazer o que não se gosta, vezes e vezes sem conta. Em nome de uma fome maior, nem sempre entendida, nem sempre explicável.
Finalmente, acho que devo às pessoas que acompanham de forma positiva a minha carreira, algo mais do que esta guerrilha aos haters. Mas acho que me devia a mim, aos meus colegas, a todos os músicos, à minha familia e à minha mulher, estas palavras, tirando um peso do peito e da cabeça e deixando todos saberem que há quem esteja atento e não se importe de dar combate a quem quer estragar a magia que existe em fazer, ouvir e viver música.
Um abraço a todos!
http://blitz.aeiou.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=bz.stories/70658
http://blitz.aeiou.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=bz.stories/70660
http://blitz.aeiou.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=bz.stories/70666
A estrutura do artigo virtual contém uma entrevista,a escolha de 3 temas de bandas que me tenham chamado atenção e respeito e três noticias que da mesma forma me despertaram o interesse.
Tenho pelo Blitz, como qualquer Português que goste ou se relacione com a música, uma relação ambígua. Já estivemos de relações cortadas no passado, já fomos capa quase forçada á direcção pelo argumento público, presentemente somos uma banda que conta com o Blitz e vice-versa, daí este convite, e que através do caminho, quanto a mim, positivo da revista e do seu portal vamos aferindo do estado da música nacional, internacional e de quem a discute e segue atentamente ou menos. Nada é perfeito, nem o Bitz mas é um presença a que recorremos inevitavelmente durante estes anos todos, para nos indignarmos ou para respeitarmos e aprendermos conforme a ocasião. O Blitz já foi justo, já foi injusto mas tornou-se quase como uma wikipedia ou um wikileaks ou wikirumours, tornando tudo ainda mais ambíguo.
Quando me fizeram o convite, aceitei e pensei. Podia fazer algo mais estéril, sem me chatear, dando uma no cravo e outra na ferradura, contando as minhas histórias como outras banda o tem feito. Ou podia falar do que me incomodava e, com ou sem glória, mandar e receber chumbo tendo, no entanto, este meio exercício, meio desabafo, meio teste pelo menos me ajudado a mim e a chegar a algumas conclusões importantes.
Ontem, quando regressava da festa de anos de um amigo, pensei nalgumas coisas que, se não se importam gostava de partilhar aqui, num meio próprio, que seja meu e no qual eu esteja inteiramente integrado.
Primeiro fiz uma espécie de postulado para os haters:
1- Os haterz são uma espécie de snipers. Atiradores anónimos que ficam muito mas mesmo muito zangados se evitamos ou nos defendemos das suas balas ou, poir ainda, se disparamos de volta.
2- Encontro-me no meu pleno direito de achar uma merda quem me acha uma merda. (isto inclui miss daisies, kords, jeronimos e nóias outros que hoje recordo mas para a semana já estarão esquecidos)
3- Acho que muita gente dessa na minha posição seria como eles me pintam: arrogante, burro, lamechas, queixinhas. Acho não, sei disso. Na mesma ordem de ideias muitos gostavam de ser como eu. O contrário não se aplica.
4- Com tanta coisa que há para falar (mesmo nestes links) não se falou de muita coisa.
5- Sou um espírito livre. Estou e canto onde quiser. Não tenho de ir vingar as misérias da minha vida e mente para um forum.
Posto isto, devo dizer que foi, pelo menos, um sucesso para mim ver a carapuça enfiar e os haters sairem debaixo das rochas que habitam. Nunca foi minha intenção queixar-me, mais, creio eu, pensar soluções e relatar injustiças mas também experiências que, ingénuo, julgavam que iam agradar e fazer bem à cena musical Portuguesa e ao Metal em particular. Enganei-me e saí da Loud por isso. Exagerei muitas vezes, claro, mas sou claro ao dizer que a vida de um músico em Portugal é profundamente mal-entendida e que a generalidade das pessoas não faz ideia do que é estar num grupo com responsabilidades. A vida é fácil para quem não faz e não aparece.
Tudo isto vindo de pessoas que, a maior parte, fazem o que não gostam toda a vida e acusam os outros de traição a uma causa. Para se fazer o que gosta na vida e na música tem de se fazer o que não se gosta, vezes e vezes sem conta. Em nome de uma fome maior, nem sempre entendida, nem sempre explicável.
Finalmente, acho que devo às pessoas que acompanham de forma positiva a minha carreira, algo mais do que esta guerrilha aos haters. Mas acho que me devia a mim, aos meus colegas, a todos os músicos, à minha familia e à minha mulher, estas palavras, tirando um peso do peito e da cabeça e deixando todos saberem que há quem esteja atento e não se importe de dar combate a quem quer estragar a magia que existe em fazer, ouvir e viver música.
Um abraço a todos!
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
Entrevista Jornal de Leiria
Caros:
O Spectator está de volta. Não porque faça falta a alguém mas porque, para mim, sinto vontade de partilhar alguma da minha angústia mas também algum do meu positivismo e novidades com pessoa inteligentes e interessadas.
Começo por postar um link para uma entrevista que dei, há coisa de dois meses, ao Jornal de Leiria. Destaco o trabalho deste jornal regional que é incisivo, independente e de qualidade, um exemplo a seguir por muita da Imprensa mais cotada e divulgada, mas nem por isso melhor cumpridora do seu serviço de formar e informar.
Mais tarde vos darei conta do odisseia em pleno mar alto aquando da nossa passagem pelo cruzeiro do Metal, 70.000 of Metal e de como as tradições históricas poderão voltar à temática do Metal, com maturidade e inteligência.
Enjoy your reading,
http://www.jornaldeleiria.pt/portal/index.php/files/index.php?id=5639
O Spectator está de volta. Não porque faça falta a alguém mas porque, para mim, sinto vontade de partilhar alguma da minha angústia mas também algum do meu positivismo e novidades com pessoa inteligentes e interessadas.
Começo por postar um link para uma entrevista que dei, há coisa de dois meses, ao Jornal de Leiria. Destaco o trabalho deste jornal regional que é incisivo, independente e de qualidade, um exemplo a seguir por muita da Imprensa mais cotada e divulgada, mas nem por isso melhor cumpridora do seu serviço de formar e informar.
Mais tarde vos darei conta do odisseia em pleno mar alto aquando da nossa passagem pelo cruzeiro do Metal, 70.000 of Metal e de como as tradições históricas poderão voltar à temática do Metal, com maturidade e inteligência.
Enjoy your reading,
http://www.jornaldeleiria.pt/portal/index.php/files/index.php?id=5639
terça-feira, 18 de maio de 2010
Outra publicação de tristeza
The Last In Line
We're a ship without a storm the cold
without the warm light inside the darkness
that it needs yeah
We're a laugh without a tear
the hope without the fear we are coming home
We're off to the witch
we may never never never come home
but the magic that we'll feel is worth a lifetime
We're all born upon the cross
the throw before the toss
you can release yourself
but the only way is down
We don't come alone we are fire we are stone
we're the hand that writes then quickly moves away
We'll know for the first time
if we're evil or divine
we're the last in line yeah
we're the last in line
Two eyes from the east it's the angel or the beast
and the answer lies between the good and bad
We search for the truth we could die upon
the tooth but the thrill of just the chase is worth the pain
We'll know for the first time if we're evil or divine we're the last in line yeah we're the last in line oh oh oh
Yeah we're off to the witch we may never never never come home but the magic that we'll feel is worth a lifetime
We're all born upon the cross you know we'rethe throw before the toss
You can release yourself but the only way you go is down
We'll know for the first time if we're evil or divine we're the last in line oh oh we're the last in line
See all we shine we're the last in we're the last in we're the last in we're the last in
We're the last in we're the last line oh oh ooh oh
We're the ship without the storm we're the cold inside the warm
We're the last without a tear we're the throw without the meal
We're the last in line we're the last in line
We're the last in line see how we shine we're the last in line
We're a ship without a storm the cold
without the warm light inside the darkness
that it needs yeah
We're a laugh without a tear
the hope without the fear we are coming home
We're off to the witch
we may never never never come home
but the magic that we'll feel is worth a lifetime
We're all born upon the cross
the throw before the toss
you can release yourself
but the only way is down
We don't come alone we are fire we are stone
we're the hand that writes then quickly moves away
We'll know for the first time
if we're evil or divine
we're the last in line yeah
we're the last in line
Two eyes from the east it's the angel or the beast
and the answer lies between the good and bad
We search for the truth we could die upon
the tooth but the thrill of just the chase is worth the pain
We'll know for the first time if we're evil or divine we're the last in line yeah we're the last in line oh oh oh
Yeah we're off to the witch we may never never never come home but the magic that we'll feel is worth a lifetime
We're all born upon the cross you know we'rethe throw before the toss
You can release yourself but the only way you go is down
We'll know for the first time if we're evil or divine we're the last in line oh oh we're the last in line
See all we shine we're the last in we're the last in we're the last in we're the last in
We're the last in we're the last line oh oh ooh oh
We're the ship without the storm we're the cold inside the warm
We're the last without a tear we're the throw without the meal
We're the last in line we're the last in line
We're the last in line see how we shine we're the last in line
quarta-feira, 21 de abril de 2010
quinta-feira, 15 de abril de 2010
Peter Steele RIP
http://www.youtube.com/watch?v=Ew9Rb1BrMAU
First Quorthon. Now Pete."beware the wolves at night, beware the lunar light" We are in the studio working in new songs honouring your memory and your teachings. My idols are oficially extinct.
Primeiro Quorthon. Agora o Pete.
Os meus ídolos estão oficialmente extintos.
First Quorthon. Now Pete."beware the wolves at night, beware the lunar light" We are in the studio working in new songs honouring your memory and your teachings. My idols are oficially extinct.
Primeiro Quorthon. Agora o Pete.
Os meus ídolos estão oficialmente extintos.
sexta-feira, 9 de abril de 2010
Novos rumos
Para os leitores atentos da Loud, tem vindo a verificar que a última série de artigos, tem como denominador comum as novas formas de comunicar o Metal e qual o grau de crescimento que essas novas formas inspiram às bandas e aos segudidores de cada época.
Falou-se do guita hero que deu um boost estrondoso à carreira dos Metallica, muito mais que os discos de estúdio.
Falou-se da filmografia Metal, em particular do biopic da banda Anvil, que viu o seu nome de novo falado e cobiçado pela cena Metal internacional.
Neste número abordar-se-á uma nova maneira de marcar espectáculos, em foco estará este cruzeiro Metal que podem descobrir neste link:
http://www.70000tons.com/
Feel free to comment
Um abraço bom fim de semana a todos!
Tip of the week:
sexta-feira, 2 de abril de 2010
terça-feira, 30 de março de 2010
O mundo não parou, a observação continua
Debaixo de severo ataque de spam a esta ilustre tabuinha virtual, volto à vossa comunicação com duas urgências, para além de revitalizar este espaço, deixado como capim aos vermes informáticos.
1- Agilizar este blog, torná-lo mais rápido em texto e em intenção/informação. Posts mais curtos mas mais eficazes e periódicos. Tenho bom exemplo do meu outro blog de poesia que tem crescido de forma muito sustentada. Espero o mesmo deste.
2- Alertar-vos para a seguinte "polémica" e seus desvelos, incluindo as respostas devidas. Os vossos comentários serão bem-vindos.
link:
http://dn.sapo.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1530354&seccao=Alberto%20Gon%E7alves&tag=Opini%E3o%20-%20Em%20Foco
texto:
Na crónica da semana passada, escrevi umas linhas acerca do hip hop e da morte de um praticante do género numa perseguição policial. Sobre a morte, limitei-me a dizer que me pareceu mal explicada e desproporcionada. Sobre o hip hop, limitei-me a reproduzir algumas evidências repetidas por intelectuais americanos contemporâneos, por acaso pretos (ou negros, ou de cor, ou afro-americanos, ou o que quiserem) e não por acaso incomodados com o facto de semelhante subcultura poder ser representativa de uma etnia. Mais do que a respectiva pobreza musical ou lírica, os intelectuais em causa lamentam principalmente os "valores" assíduos em muito hip hop: a "glamourização" do gueto, a legitimação do crime, a misoginia e a homofobia.
Estas trivialidades despertaram uma pequena sublevação. O site do DN e a Internet em geral encheram-se de comentários destinados a afirmar a minha "intolerância" e a exigir a minha demissão, o degredo ou coisas assim tolerantes. Não percebi porquê. É claro que acho o hip hop uma miséria estética, como acho esteticamente miseráveis uns 95% (contas por baixo) da música popular produzida após 1955 (antes dessa data, o ratio melhora um bocadinho). A diferença está na influência e no crédito que, ao longo de duas ou três décadas, o hip hop adquiriu.
O heavy metal, para usar um exemplo normalmente associado a jovens brancos (ou caras-pálidas, ou caucasianos, ou o que quiserem), é de um primarismo similar, incluindo na celebração da violência (e na misoginia, etc.). Sucede que, ao contrário do hip hop, nem a "criatividade" do heavy metal beneficia de adulação externa ao culto (não conheço académicos empenhados em dissecar o lirismo da banda Nuclear Assault), nem o seu peso (sem trocadilho) ultrapassa círculos restritos.
Já o hip hop marca subúrbios inteiros, não só americanos. E se a popularidade do género alcança as classes médias (pretas e brancas), nestas a sua preponderância é residual ou decorativa. Nos bairros pobres e predominantemente pretos, porém, os "princípios" do hip hop condicionam opções de vida. Há oito dias, sugeri que o estereótipo de uma identidade que apenas se define pela aversão ao "sistema" derivava do folclore, nem sempre inofensivo, do black power dos anos 1960. Faltou lembrar uma tradição anterior e aparentada, disseminada por brancos interessados em perpetuar, para fins ideológicos, a marginalização dos pretos (o ensaio The White Negro, de Norman Mailer e de 1957, resume e participa de tal "programa"). Enquanto herdeiro desse espírito, o hip hop isola as pessoas da sociedade, para a qual se reserva uma postura de mero confronto que condena os habitantes do gueto, real ou virtual, a uma existência diminuída. Dito de maneira diferente, o preto "autêntico" é o que se remove do "mundo dos brancos" (?). Os outros, os que se esforçam por integrar um universo que o paternalismo manda rejeitar, são os Uncle Remus, os Pais Tomás, os vendidos em suma.
O racismo aqui implícito ganha um twist irónico se repararmos que a "afirmação" identitária associada ao hip hop vem sendo explorada pela indústria em prol de uma audiência maioritariamente branca. É, no entanto, um reparo a evitar: Stephin Merritt, um dos raríssimos talentos em actividade na música pop, afirmou uma ocasião que, no seu confrangedor exibicionismo, a imagem dos "artistas" de hip hop evoca as caricaturas da iconografia esclavagista. Num ápice, meia dúzia de indignados profissionais saltaram a pedir a cabeça de Merritt. Aparentemente, o assunto é delicado em toda a parte.
Por mim, não me aborrece que os cultores do hip hop se ofendam com o meu artigo (pouco original, repito): a opinião é livre. Aborrece--me que certos sujeitos alheios ao tema distorçam o artigo a ponto de concluir que eu tentei "justificar" a morte do sr. Nuno Rodrigues ou, até, que me congratulei com ela. Aí entramos no domínio da velhacaria, inata aos blogues e aos partidos de extrema-esquerda por onde esses sujeitos se arrastam em busca de atenção. E com velhacos não há conversa. Com os demais, duas palavrinhas de esclarecimento: que eu saiba, o sr. Nuno Rodrigues, ou "MC Snake", não fez mal a ninguém excepto, eventualmente, a ele mesmo, ao ceder a um estereótipo que aprofunda a exclusão de que se queixava nas letras que dele li. Ou seja, não foi o hip hop que levou o polícia a disparar (nos tiros somente interveio a estupidez do agente), mas o hip hop talvez tenha levado o sr. Nuno Rodrigues a fugir em primeiro lugar ao polícia.
A minha resposta:
Não caindo na mácula essencial da Sociologia que é a de tudo generalizar, para capitalizar mais cedo o timing de saída/escape dos nós complicados das subcivilizações que pretene estudar, a verdade é que os sociólogos se fazem representar mal publicamente. Não é a primeira alarvidade publicada ou posta em prática nas conferências do estilo e não será de todo a última. Teria todo o prazer em convidar esse observador da sociedade, o para conhecer, por exemplo, o escritor JL Peixoto, o politologo e cronista do Expresso Henrique Raposo, o deputado Europeu Paulo Rangel, o comandante da TAP Pedro Venâncio, o encenador João Brites, o actor Miguel Moreira, entre outros que da solidez das sua carreiras sentiram e traduziram em influências nas suas obras a inteligência, profundidade e eternidade do Heavy Metal. Num concerto de Metal, também o gostaria de ver, se bem que concerteza lhe faltem os necessários tomates presenciais, quem se esconde por trás das palavras e das certezas da estupidez, raramente aparece. Por ora, sejamos como os Romanos, que diziam que às Àguias não importam as moscas.
Este artigo a ser opinião, tem o efeito da pulga, da carraça, do percevejo. Só a notamos quando nos pica para a chupa do sangue. Este Sr. é assim. Nada mais que um bicharoco que pensa ter algum dom. Não tem, muito menos para a música. Só para a
FR
Moonspell
Rui Miguel Abreu/Blitz
http://www.33-45.org/?p=882
Até breve!
1- Agilizar este blog, torná-lo mais rápido em texto e em intenção/informação. Posts mais curtos mas mais eficazes e periódicos. Tenho bom exemplo do meu outro blog de poesia que tem crescido de forma muito sustentada. Espero o mesmo deste.
2- Alertar-vos para a seguinte "polémica" e seus desvelos, incluindo as respostas devidas. Os vossos comentários serão bem-vindos.
link:
http://dn.sapo.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1530354&seccao=Alberto%20Gon%E7alves&tag=Opini%E3o%20-%20Em%20Foco
texto:
Na crónica da semana passada, escrevi umas linhas acerca do hip hop e da morte de um praticante do género numa perseguição policial. Sobre a morte, limitei-me a dizer que me pareceu mal explicada e desproporcionada. Sobre o hip hop, limitei-me a reproduzir algumas evidências repetidas por intelectuais americanos contemporâneos, por acaso pretos (ou negros, ou de cor, ou afro-americanos, ou o que quiserem) e não por acaso incomodados com o facto de semelhante subcultura poder ser representativa de uma etnia. Mais do que a respectiva pobreza musical ou lírica, os intelectuais em causa lamentam principalmente os "valores" assíduos em muito hip hop: a "glamourização" do gueto, a legitimação do crime, a misoginia e a homofobia.
Estas trivialidades despertaram uma pequena sublevação. O site do DN e a Internet em geral encheram-se de comentários destinados a afirmar a minha "intolerância" e a exigir a minha demissão, o degredo ou coisas assim tolerantes. Não percebi porquê. É claro que acho o hip hop uma miséria estética, como acho esteticamente miseráveis uns 95% (contas por baixo) da música popular produzida após 1955 (antes dessa data, o ratio melhora um bocadinho). A diferença está na influência e no crédito que, ao longo de duas ou três décadas, o hip hop adquiriu.
O heavy metal, para usar um exemplo normalmente associado a jovens brancos (ou caras-pálidas, ou caucasianos, ou o que quiserem), é de um primarismo similar, incluindo na celebração da violência (e na misoginia, etc.). Sucede que, ao contrário do hip hop, nem a "criatividade" do heavy metal beneficia de adulação externa ao culto (não conheço académicos empenhados em dissecar o lirismo da banda Nuclear Assault), nem o seu peso (sem trocadilho) ultrapassa círculos restritos.
Já o hip hop marca subúrbios inteiros, não só americanos. E se a popularidade do género alcança as classes médias (pretas e brancas), nestas a sua preponderância é residual ou decorativa. Nos bairros pobres e predominantemente pretos, porém, os "princípios" do hip hop condicionam opções de vida. Há oito dias, sugeri que o estereótipo de uma identidade que apenas se define pela aversão ao "sistema" derivava do folclore, nem sempre inofensivo, do black power dos anos 1960. Faltou lembrar uma tradição anterior e aparentada, disseminada por brancos interessados em perpetuar, para fins ideológicos, a marginalização dos pretos (o ensaio The White Negro, de Norman Mailer e de 1957, resume e participa de tal "programa"). Enquanto herdeiro desse espírito, o hip hop isola as pessoas da sociedade, para a qual se reserva uma postura de mero confronto que condena os habitantes do gueto, real ou virtual, a uma existência diminuída. Dito de maneira diferente, o preto "autêntico" é o que se remove do "mundo dos brancos" (?). Os outros, os que se esforçam por integrar um universo que o paternalismo manda rejeitar, são os Uncle Remus, os Pais Tomás, os vendidos em suma.
O racismo aqui implícito ganha um twist irónico se repararmos que a "afirmação" identitária associada ao hip hop vem sendo explorada pela indústria em prol de uma audiência maioritariamente branca. É, no entanto, um reparo a evitar: Stephin Merritt, um dos raríssimos talentos em actividade na música pop, afirmou uma ocasião que, no seu confrangedor exibicionismo, a imagem dos "artistas" de hip hop evoca as caricaturas da iconografia esclavagista. Num ápice, meia dúzia de indignados profissionais saltaram a pedir a cabeça de Merritt. Aparentemente, o assunto é delicado em toda a parte.
Por mim, não me aborrece que os cultores do hip hop se ofendam com o meu artigo (pouco original, repito): a opinião é livre. Aborrece--me que certos sujeitos alheios ao tema distorçam o artigo a ponto de concluir que eu tentei "justificar" a morte do sr. Nuno Rodrigues ou, até, que me congratulei com ela. Aí entramos no domínio da velhacaria, inata aos blogues e aos partidos de extrema-esquerda por onde esses sujeitos se arrastam em busca de atenção. E com velhacos não há conversa. Com os demais, duas palavrinhas de esclarecimento: que eu saiba, o sr. Nuno Rodrigues, ou "MC Snake", não fez mal a ninguém excepto, eventualmente, a ele mesmo, ao ceder a um estereótipo que aprofunda a exclusão de que se queixava nas letras que dele li. Ou seja, não foi o hip hop que levou o polícia a disparar (nos tiros somente interveio a estupidez do agente), mas o hip hop talvez tenha levado o sr. Nuno Rodrigues a fugir em primeiro lugar ao polícia.
A minha resposta:
Não caindo na mácula essencial da Sociologia que é a de tudo generalizar, para capitalizar mais cedo o timing de saída/escape dos nós complicados das subcivilizações que pretene estudar, a verdade é que os sociólogos se fazem representar mal publicamente. Não é a primeira alarvidade publicada ou posta em prática nas conferências do estilo e não será de todo a última. Teria todo o prazer em convidar esse observador da sociedade, o para conhecer, por exemplo, o escritor JL Peixoto, o politologo e cronista do Expresso Henrique Raposo, o deputado Europeu Paulo Rangel, o comandante da TAP Pedro Venâncio, o encenador João Brites, o actor Miguel Moreira, entre outros que da solidez das sua carreiras sentiram e traduziram em influências nas suas obras a inteligência, profundidade e eternidade do Heavy Metal. Num concerto de Metal, também o gostaria de ver, se bem que concerteza lhe faltem os necessários tomates presenciais, quem se esconde por trás das palavras e das certezas da estupidez, raramente aparece. Por ora, sejamos como os Romanos, que diziam que às Àguias não importam as moscas.
Este artigo a ser opinião, tem o efeito da pulga, da carraça, do percevejo. Só a notamos quando nos pica para a chupa do sangue. Este Sr. é assim. Nada mais que um bicharoco que pensa ter algum dom. Não tem, muito menos para a música. Só para a
FR
Moonspell
Rui Miguel Abreu/Blitz
http://www.33-45.org/?p=882
Até breve!
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
METAL DAY @FIL
METAL DAY AT FIL
Na sequência do concerto de dia 23 de Janeiro, os MOONSPELL decidiram alargar o conceito e fazer desse dia um DIA DE METAL na FIL, de modo a que todos os aficionados e curiosos, possam contactar com o que é a Cultura Metal não só no nosso país, mas também internacionalmente, como a própria natureza da música e seus fãs o reclama.
Estão previstas actividades que levem o público que vai ao concerto a aparecer mais cedo, trazendo amigos e famílias, não só para presenciar o espectáculo, mas também para conviver com o que é ser Metaleiro e ser surpreendido pelas ramificações intensas do Metal enquanto cultura e a sua relação profunda com outras formas de Arte.
Entre estas actividades encontra-se uma pequena aldeia Metal, com possibilidade de compra de merchandise oficial dos Moonspell; uma conferência subordinada ao tema Metal e Escrita; uma exposição de fotografias do metal ao vivo em Portugal (3 first songs/as 3 primeiras canções) e no mundo; e a exibição de um filme ligados à cultura Metal (Global Metal) ; e no fim uma aftershow party com a presença dos Moonspell agora como DJ’s convidados.
Os Opus Diabolicum, tributo de cordas aos Moonspell, também estará por lá em actuações espontâneas com as suas versões clássicas dos temas maiores da banda.
Horários:
17h30 Abertura das Portas
18h Conferência O Metal e a Escrita com:
JOSE LUIS PEIXOTO (ESCRITOR)
HENRIQUE RAPOSO (INVESTIGADOR UNIVERSITÁRIO, CRONISTA DO EXPRESSO)
ANTÓNIO PACHECO (EDITOR SAÍDA DE EMERGÊNCIA)
NÉLSON SANTOS (COLABORADOR DA LOUD! JORNALISTA DA TSF)
FERNANDO RIBEIRO (VOCALISTA DOS MOONSPELL)
20h Exibição do filme GLOBAL METAL do Sam Dunn
Concerto:
22h Bizarra Locomotiva
23h Moonspell
Aftershow party:
01h DJ set Moonspell
Muito mais que um concerto, um evento METAL a não perder!!!
depois do concerto regressam os posts ao spectator ;)
see you saturday!!!
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
2009 era vulgaris
Aproveito para dizer que o Spectator retoma os textos e finaliza a América e começa a dissecar Portugal depois da ressaca natalícia. A todos quantos observam o Spectator votos de boa sobrevivência à época de fritos e oferendas e acima de tudo um 2010 em grande acompanhados do óculo que vê o mundo e tudo e nada perdoa.
happy unholidays!!!
happy unholidays!!!
terça-feira, 17 de novembro de 2009
America parte III
Aeroporto de S.Antonio Texas. 4 da manhã, depois do último concerto que acabou há meras três horas. Depois do duche no motel do costume, de cabelos bem molhados e de olhos bem abertos, estamos na àrea do check in, entrando na fase final, os quilómetros (e as milhas áreas) duros da recta final da nossa maratona pelo Novo Mundo. Consultemos a agenda infernal:
3.00- sair de S.Antonio
4.00- aeroporto
6.00- voo para Monterrey, Mexico
9.00- check in no Sheraton Monterrey
14.00- soundcheck (ao qual não compareço para não gastar o fio de voz que me resta)
22.00- no palco
6.00- check in aeroporto
8.00- voo para a cidade do México
E repitam pelo infinito até dia 19, quando regressaremos à pátria. É assim, num resumo possível:
San Antonio, Texas, EUA, escala em Houston, destino final Monterrey, concerto, voar Monterrey, cidade do México, concerto, dia de viagem, folga em Valencia, Venezuela, outro dia concerto, sair da Venezuela, Valencia, Caracas para apanhar o avião, depois de uma viagem por estradas infernais, voar para a Colômbia, tocar, ir para o aeroporto, voar para Quito, tocar nesse dia, hoje de madrugada, mais uma sem dormir, voar para o Chile, tocar daqui a umas horas, amanhã, 8 da manhã no aeroporto, voar, tocar Buenos Aires, voar segunda de manhã para S.Paulo, dia de folga, tocar na Terça, arrumar tudo, voar para Portugal, chegar de madrugada, pousar as malas, respirar.
A vida tem sido rápida desde que vos deixei nas outras linhas. A aproximação à Califórnia, trouxe o bom tempo, o excelente vinho, e os maneirismos Californianos que conseguem divertir e irritar ao mesmo tempo, de uma maneira impressionante e renovada com cada visita nossa. A primeira paragem é São Francisco, onde reencontramos o nosso camarada Venice e o nosso amigo John Gonçalves (The Gift) ambos nas suas aventuras pessoais pela Américas que em boa hora se cruzam connosco, trazendo-nos o calor da amizade lusa que tão bem sabe em qualquer parte do planeta. O concerto está cheio mas o clube é bem modesto. Montamos o cenário, mais uma vez, num espaço físico improvável e ligamos o motor de toda a gente que enche aquele espaço e o transfigura do sítio mais feio do mundo, num local pleno de emoções. A aproximação da Noite das Bruxas é palpável e vêem-se já sinais de comemoração antecipada na fauna que compra bilhete. Para além dos metaleiros, há bruxas que não voam, carrascos que não falam, é São Francisco, diverso, bonito, generoso, com os cabazes da nossa Gothic Gourmet (Beverly) e dos nossos amigos Robert (com os vistos do Brasil na mão!!!) e a sua esposa Jana a coroarem a noite. Depois de três garrafas de Coppola e de fumos medicinais, ao concerto segue-se um recital de kazoo, cortesia do Mike que para sempre ficará gravado nas nossas memórias.
Ramona, Califórnia parece uma cidadezinha saída dum filme, com as suas barbearias, a sua única avenida larga, os carros que circulam. Uma espécie de cidadezinha Eduardo mãos de Tesoura sem o toque ou o tique do Tim Burton, mas com as casa e passeios certinhos e a tranquilidade do isolamento entre montanhas e estradas e serviços. O concerto, apesar de ser na noite de Halloween, é uma espécie de antecâmara para o dia seguinte, Dia dos Mortos, em Los Angeles, no mítico Roxy em plena Sunset Boulevard.
É já nesta gigantesca avenida, à porta do Guitar Centre (um dos maiores do mundo) que acordo com a triste e profunda notícia da morte do António Sérgio (descanse em paz). É triste receber notícias assim e a impotência da distância alarga o horizonte dessa tristeza. Pouco posso fazer do que enviar os nossos respeitos a quem sempre lhe há de querer bem. O António Sérgio conquistou, pela voz e pelo amor inteligente pela música, a sua imortalidade.
Atravesso a estrada para um pequeno almoço de omeleta e fruta (aqui nesta avenida tudo é famoso até este grill de quatro ou cinco mesas) e passo o resto da manhã a comprar banda desenhada, incluindo a nova aventura 3D do Clive Barker, Seduth. Alguns dólares depois é tempo de subir ao Roxy e lá está, beneficiar do status que Los Angeles têm para dar (partilhar a mesa com a ex-actriz porno Jasmine que telefona ao seu ex-colega Ron Jeremy, mesmo ao meu lado, e com a sua nova conquista o algo desalentado e atordoado Mustis (ex- Dimmu bogir, tantos exs caramba!, no sim,sim, sim mítico Rainbow; ser cumprimentado por toda a gente, conhecida ou menos; trocar algumas palavras com o Kannon dos míticos, esses sim, Hirax e respirar aquele ar de rock stardom que o Rainbow e as suas histórias têm em definitivo, tivemos uma boa mesa, passámos um bom bocado)~; mas também o reverso da medalha, a atitude de quem já viu tudo ( o pessoal técnico do Roxy teve de ser posto em sentido pelos tugas!!!) e a quem não interessa nada. E não interessa, o concerto é brutal, sala quase cheia (se fosse hoje o halloween, e não o domingo da ressaca…) mas ao rubro, com a nossa maquiadora/fã Morgan, numa azáfama para nos pôr…hmmm…como personagens deste Dia dos Mortos, passado a tocar com todo privilégio de estarmos vivos.
Por entre os sacos da Hustler, da Guitar Centre, da excitação de L.A. Lá partimos para o país real, e as próximas datas até ao Texas são tranquilas, mais pequenas, com um cancelamento à mistura (crise e má promoção) que nos traz um bem vindo dia de folga (a voz agradece) e nos permite reequilibrar as contas da nossa cabeça e resistência, enfrentando o Texas, os seus pássaros agressivos (eu e o Venice fomos atacados por um pardal furioso que nos conseguiu fazer mudar de mesa) e as suas amazonas texanas num final feliz de uma tour Norte Americana, dura mas eficaz, que nos permitiu tornar-nos uma banda melhor, mais consciente do nosso valor mas também das dificuldades que todas as bandas passam na perseguição do sonho que nos alimenta desde a origem: tocar e encantar. Haver culto.
Como sabem em poucas horas estamos novamente em palco, num renovado Café Iguana no México, cheio que nem um ovo de serpente, para o primeiro banho de multidão no México, para a primeira das reacções apaixonadas da América que é mesmo Latina. Em rota para uma das minhas cidades preferidas (cidade do México) penso nisto tudo, nesta vertigem de milhas e milhas e esqueço com profundidade as injustições e omissões que nos fazem no nosso país (lista do Blitz por exemplo) e lamentamos que mais bandas não saiam como nós fazemos, não pela quimera da internacionalização, mas sim porque a distância nos permite estar mais connosco, com a nossa música, com o nosso trabalho. Não estamos em casa a teorizar listas e ódios de estimação. Tal como muitos bandas estamos a trabalhar e a ganhar fã por fã, tostão por tostão. A feira de merchandise pirata de Moonspell fora da venue Circo Volador e mais de duas mil pessoas a cantar em uníssono e em PORTUGUÊS o refrão da Alma Mater vale muito mais a capa do Blitz que nunca havemos de ter ou o respeito dos despeitados da Imprensa que mete os Buraka ou algum do fado exportado num lugar que não têm, mas que os Moonspell têm. Basta ir ao youtube e comprovar.
A América Latina, apesar dos Sheratons e das enchentes, têm o seu darkside e temo um encontro com este, infelizmente, na terra natal do nosso baixista Aires, em Valencia, Venezuela. Um país que vive uma ditadura de isolamento, em que as pessoas se sentem excepcionais por fazerem parte de algo “superior” ao capitalismo ocidental, mas que na verdade para comer um hamburger no Burger King se paga 20 euros, onde te tiram os cigarros por serem narcóticos, onde te olham com tudo menos respeito, onde te tiram as impressões digitais pelo simples facto de trocar dolares por bolivares (fortes). A juntar a isto fica a mudança não avisada para uma sala pequena (um auditório) onde quase 800 pessoas se aglomeram num espaço de 300 e poucas, ficando gente de fora, a espreitar de bilhete pago pela entrada da porta e um promotor que não toma conta de nós, nem nos paga na totalidade. Sabendo que uma banda volta sempre, ficamos contentes em apanhar o avião para a grande revelação surpresa da tour: Quito, Equador. Não antes sem passar pela Colômbia, em menos de 24 horas, arrancando (apesar dos problemas técnicos do video) em Bogotá, uma reacção fantástica de mais de um milhar de pessoas que nos vão ver e nos acolhem como uma banda grande, que há onze anos não viam e que sublinharam veemente que não vão deixar passar mais onze anos sem que lá voltemos!!! Gracias Bogotá!!!
Não sem antes (ainda no capitulo venezuela) enviarmos um abraço aos fãs sacrificados da Venezuela que se multiplicam em desculpas no myspace, quando se não fossem eles nada teria fazer sentido, estas provações seriam terríveis, e também uma palavra ao grande Alfredo Escalante (ídolo da rádio e do rock na Venezuela, uma das poucas pessoas no mundo que entrevistou o grande Freddie Mercury, por exemplo, ídolo da juventude do nosso Don Aires, Alfredo que faz a viagem de Caracas a Valencia para apresentar o nosso concerto, trazendo-me à memória o nosso António Sérgio, pela sua importância e até fisionomia, lerei com todo o gosto a tua biografia Alfredo!).
No Quito, o dia começa bem, e a noite acaba melhor num convívio com fãs. Somos recebidos no aeroporto com uma bandeira Moonspell e as gentes que enchem o clube (mais pequeno que Bogotá) mas a rebentar pelas costuras dão-nos provas de que o Equador é um país no caminho da simplicidade e depois das confusões todas essa é uma excelente notícia. Que grande país e que grande noite! Aos Tiamat ainda acontece o desagradável do gás pimenta lançado por um fã mais excitado mas quando subo ao palco para cantar com eles a Sleeping Beauty a nuvem já não está lá, apenas a paixão de muitos.
Vou tomar agora uma banho, devorar a club sandwich daqui deste Sheraton de Santiago e preparar-me para a noite chilena. Afinal recebi um telefonema do Mike a dizer que temos de começar a tempo por causa das autoridades, que o promotor vendeu muitos, mas muitos bilhetes e que nada se pode atrasar e que me “vou passar com o sitio”. Vamos a isso.
3.00- sair de S.Antonio
4.00- aeroporto
6.00- voo para Monterrey, Mexico
9.00- check in no Sheraton Monterrey
14.00- soundcheck (ao qual não compareço para não gastar o fio de voz que me resta)
22.00- no palco
6.00- check in aeroporto
8.00- voo para a cidade do México
E repitam pelo infinito até dia 19, quando regressaremos à pátria. É assim, num resumo possível:
San Antonio, Texas, EUA, escala em Houston, destino final Monterrey, concerto, voar Monterrey, cidade do México, concerto, dia de viagem, folga em Valencia, Venezuela, outro dia concerto, sair da Venezuela, Valencia, Caracas para apanhar o avião, depois de uma viagem por estradas infernais, voar para a Colômbia, tocar, ir para o aeroporto, voar para Quito, tocar nesse dia, hoje de madrugada, mais uma sem dormir, voar para o Chile, tocar daqui a umas horas, amanhã, 8 da manhã no aeroporto, voar, tocar Buenos Aires, voar segunda de manhã para S.Paulo, dia de folga, tocar na Terça, arrumar tudo, voar para Portugal, chegar de madrugada, pousar as malas, respirar.
A vida tem sido rápida desde que vos deixei nas outras linhas. A aproximação à Califórnia, trouxe o bom tempo, o excelente vinho, e os maneirismos Californianos que conseguem divertir e irritar ao mesmo tempo, de uma maneira impressionante e renovada com cada visita nossa. A primeira paragem é São Francisco, onde reencontramos o nosso camarada Venice e o nosso amigo John Gonçalves (The Gift) ambos nas suas aventuras pessoais pela Américas que em boa hora se cruzam connosco, trazendo-nos o calor da amizade lusa que tão bem sabe em qualquer parte do planeta. O concerto está cheio mas o clube é bem modesto. Montamos o cenário, mais uma vez, num espaço físico improvável e ligamos o motor de toda a gente que enche aquele espaço e o transfigura do sítio mais feio do mundo, num local pleno de emoções. A aproximação da Noite das Bruxas é palpável e vêem-se já sinais de comemoração antecipada na fauna que compra bilhete. Para além dos metaleiros, há bruxas que não voam, carrascos que não falam, é São Francisco, diverso, bonito, generoso, com os cabazes da nossa Gothic Gourmet (Beverly) e dos nossos amigos Robert (com os vistos do Brasil na mão!!!) e a sua esposa Jana a coroarem a noite. Depois de três garrafas de Coppola e de fumos medicinais, ao concerto segue-se um recital de kazoo, cortesia do Mike que para sempre ficará gravado nas nossas memórias.
Ramona, Califórnia parece uma cidadezinha saída dum filme, com as suas barbearias, a sua única avenida larga, os carros que circulam. Uma espécie de cidadezinha Eduardo mãos de Tesoura sem o toque ou o tique do Tim Burton, mas com as casa e passeios certinhos e a tranquilidade do isolamento entre montanhas e estradas e serviços. O concerto, apesar de ser na noite de Halloween, é uma espécie de antecâmara para o dia seguinte, Dia dos Mortos, em Los Angeles, no mítico Roxy em plena Sunset Boulevard.
É já nesta gigantesca avenida, à porta do Guitar Centre (um dos maiores do mundo) que acordo com a triste e profunda notícia da morte do António Sérgio (descanse em paz). É triste receber notícias assim e a impotência da distância alarga o horizonte dessa tristeza. Pouco posso fazer do que enviar os nossos respeitos a quem sempre lhe há de querer bem. O António Sérgio conquistou, pela voz e pelo amor inteligente pela música, a sua imortalidade.
Atravesso a estrada para um pequeno almoço de omeleta e fruta (aqui nesta avenida tudo é famoso até este grill de quatro ou cinco mesas) e passo o resto da manhã a comprar banda desenhada, incluindo a nova aventura 3D do Clive Barker, Seduth. Alguns dólares depois é tempo de subir ao Roxy e lá está, beneficiar do status que Los Angeles têm para dar (partilhar a mesa com a ex-actriz porno Jasmine que telefona ao seu ex-colega Ron Jeremy, mesmo ao meu lado, e com a sua nova conquista o algo desalentado e atordoado Mustis (ex- Dimmu bogir, tantos exs caramba!, no sim,sim, sim mítico Rainbow; ser cumprimentado por toda a gente, conhecida ou menos; trocar algumas palavras com o Kannon dos míticos, esses sim, Hirax e respirar aquele ar de rock stardom que o Rainbow e as suas histórias têm em definitivo, tivemos uma boa mesa, passámos um bom bocado)~; mas também o reverso da medalha, a atitude de quem já viu tudo ( o pessoal técnico do Roxy teve de ser posto em sentido pelos tugas!!!) e a quem não interessa nada. E não interessa, o concerto é brutal, sala quase cheia (se fosse hoje o halloween, e não o domingo da ressaca…) mas ao rubro, com a nossa maquiadora/fã Morgan, numa azáfama para nos pôr…hmmm…como personagens deste Dia dos Mortos, passado a tocar com todo privilégio de estarmos vivos.
Por entre os sacos da Hustler, da Guitar Centre, da excitação de L.A. Lá partimos para o país real, e as próximas datas até ao Texas são tranquilas, mais pequenas, com um cancelamento à mistura (crise e má promoção) que nos traz um bem vindo dia de folga (a voz agradece) e nos permite reequilibrar as contas da nossa cabeça e resistência, enfrentando o Texas, os seus pássaros agressivos (eu e o Venice fomos atacados por um pardal furioso que nos conseguiu fazer mudar de mesa) e as suas amazonas texanas num final feliz de uma tour Norte Americana, dura mas eficaz, que nos permitiu tornar-nos uma banda melhor, mais consciente do nosso valor mas também das dificuldades que todas as bandas passam na perseguição do sonho que nos alimenta desde a origem: tocar e encantar. Haver culto.
Como sabem em poucas horas estamos novamente em palco, num renovado Café Iguana no México, cheio que nem um ovo de serpente, para o primeiro banho de multidão no México, para a primeira das reacções apaixonadas da América que é mesmo Latina. Em rota para uma das minhas cidades preferidas (cidade do México) penso nisto tudo, nesta vertigem de milhas e milhas e esqueço com profundidade as injustições e omissões que nos fazem no nosso país (lista do Blitz por exemplo) e lamentamos que mais bandas não saiam como nós fazemos, não pela quimera da internacionalização, mas sim porque a distância nos permite estar mais connosco, com a nossa música, com o nosso trabalho. Não estamos em casa a teorizar listas e ódios de estimação. Tal como muitos bandas estamos a trabalhar e a ganhar fã por fã, tostão por tostão. A feira de merchandise pirata de Moonspell fora da venue Circo Volador e mais de duas mil pessoas a cantar em uníssono e em PORTUGUÊS o refrão da Alma Mater vale muito mais a capa do Blitz que nunca havemos de ter ou o respeito dos despeitados da Imprensa que mete os Buraka ou algum do fado exportado num lugar que não têm, mas que os Moonspell têm. Basta ir ao youtube e comprovar.
A América Latina, apesar dos Sheratons e das enchentes, têm o seu darkside e temo um encontro com este, infelizmente, na terra natal do nosso baixista Aires, em Valencia, Venezuela. Um país que vive uma ditadura de isolamento, em que as pessoas se sentem excepcionais por fazerem parte de algo “superior” ao capitalismo ocidental, mas que na verdade para comer um hamburger no Burger King se paga 20 euros, onde te tiram os cigarros por serem narcóticos, onde te olham com tudo menos respeito, onde te tiram as impressões digitais pelo simples facto de trocar dolares por bolivares (fortes). A juntar a isto fica a mudança não avisada para uma sala pequena (um auditório) onde quase 800 pessoas se aglomeram num espaço de 300 e poucas, ficando gente de fora, a espreitar de bilhete pago pela entrada da porta e um promotor que não toma conta de nós, nem nos paga na totalidade. Sabendo que uma banda volta sempre, ficamos contentes em apanhar o avião para a grande revelação surpresa da tour: Quito, Equador. Não antes sem passar pela Colômbia, em menos de 24 horas, arrancando (apesar dos problemas técnicos do video) em Bogotá, uma reacção fantástica de mais de um milhar de pessoas que nos vão ver e nos acolhem como uma banda grande, que há onze anos não viam e que sublinharam veemente que não vão deixar passar mais onze anos sem que lá voltemos!!! Gracias Bogotá!!!
Não sem antes (ainda no capitulo venezuela) enviarmos um abraço aos fãs sacrificados da Venezuela que se multiplicam em desculpas no myspace, quando se não fossem eles nada teria fazer sentido, estas provações seriam terríveis, e também uma palavra ao grande Alfredo Escalante (ídolo da rádio e do rock na Venezuela, uma das poucas pessoas no mundo que entrevistou o grande Freddie Mercury, por exemplo, ídolo da juventude do nosso Don Aires, Alfredo que faz a viagem de Caracas a Valencia para apresentar o nosso concerto, trazendo-me à memória o nosso António Sérgio, pela sua importância e até fisionomia, lerei com todo o gosto a tua biografia Alfredo!).
No Quito, o dia começa bem, e a noite acaba melhor num convívio com fãs. Somos recebidos no aeroporto com uma bandeira Moonspell e as gentes que enchem o clube (mais pequeno que Bogotá) mas a rebentar pelas costuras dão-nos provas de que o Equador é um país no caminho da simplicidade e depois das confusões todas essa é uma excelente notícia. Que grande país e que grande noite! Aos Tiamat ainda acontece o desagradável do gás pimenta lançado por um fã mais excitado mas quando subo ao palco para cantar com eles a Sleeping Beauty a nuvem já não está lá, apenas a paixão de muitos.
Vou tomar agora uma banho, devorar a club sandwich daqui deste Sheraton de Santiago e preparar-me para a noite chilena. Afinal recebi um telefonema do Mike a dizer que temos de começar a tempo por causa das autoridades, que o promotor vendeu muitos, mas muitos bilhetes e que nada se pode atrasar e que me “vou passar com o sitio”. Vamos a isso.
sábado, 31 de outubro de 2009
Tour USA parte 2
Semana 2
O nosso comandante Pedro Venâncio, aka Venice, diz-nos até já. Foi uma semana bem passada, desde Atlanta, um break na sua rotina dourada dos hotéis de cinco estrelas e de comida a horas, acolhido pelo sorriso mais sentido, quase adolescente do nosso amigo dos ares, que nos faz recuperar a magia daquele charme sujo do estilo de vida Rock, que, por vezes, esquecemos no meio da ansiedade de que as condições nos façam justiça. Ter um comandante da TAP a carregar as nossas caixas e instrumentos, a pôr as nossas águas e toalhas a jeito no palco, dormindo no back lounge do autocarro, a partilhar pizza fria e café, não é para todos. Significa que não há melhor status que a amizade. Obrigado Venice. See you in Frisco.
Há que nos determos sobre esta particularidade dos EUA. As condições são duras, a crise, aqui e ali, afecta algumas vendas de bilhetes mas há no fim deste arco-íris, por vezes negro, algo que reluz. Os já muitos amigos que temos nos EUA tornam a nossa vida mais fácil quase sempre, e equilibram o que de negativo possa haver nesta rotina de doidos. Ou o nosso amigo Tony Mecha, Brooklyn, NY, com os seus presentes e hospitalidade e verdadeira amizade, que vem de longe, dos seus tempos do mítico L’amour e amizade mútua Peter Steele e Type O, reforçada pelas últimas férias em Lisboa, connosco; não olvidando o bom americano, o Mark Creevy de Chicago que nos enche o autocarro de Samuel Adams, octoberfest, provavelmente a melhor cerveja do (novo) mundo e nos satisfaz o capricho das compras electrónicas; ao americo/brasileiro Robert Archie, também já com uma passagem em Lisboa no seu currículo, que para além de todo o vinho californiano e cabaz gourmet, ainda nos desenrasca junto ao consulado brasileiro em S.Francisco no calvário dos vistos temporários de entretainers, exigido burocraticamente pelas autoridades do pais irmão, não sem o seu quê de irónico já que estaremos por lá menos de 48 horas, diferente do facilitismo português em situações mais e por bastantes vezes menos idênticas. A amizade e a hospitalidade mima-nos e permite-nos momentos de qualidade no mais absurdo ou sujo dos sítios. Agradecidos!
Hoje é Seattle, que dispensa apresentações musicais. O clube é o Studio Seven/Showbox, mítico e sujo como quase todas as salas de aspecto bem grunge da sua capital e berço. Todas as salas tem bandas a tocar, a ensaiar, a dar no duro, umas mais acertadamente que outras mas criando um ambiente que nos coloca perante o privilégio de não sermos nós fechados no local de ensaio, mas sim a fechar a noite em palco, num dos concertos mais esperados da digressão, graças à estupenda reacção da última passagem por aqui em Novembro último com Danzig e Dimmu Borgir.
Até cá chegarmos estivemos três vezes no Canadá, com Vancouver a rivalizar em beleza, modernidade e adesão do público/tratamento da banda com as melhores salas Europeias e com a visita do aniversariante John Gonçalves (The Gift) companheiro destas e de outras andanças. Uma semana antes, Montreal, a confirmar sempre a regra de um dos melhores concertos das tours Norte Americanas, apesar do episódio, infelizmente not on tape, entre Don Aires e a polícia local.
O Aires tem as suas dificuldades com a porta do autocarro, em especial à noite, onde todos os gatos são pardos, e a seu quid pro quo com a entrada da sua casa sobre rodas, chama a atenção dos vizinhos que prontamente evocam a segurança máxima da cidade de Montreal. O vosso escriba já dorme o sono dos justos mas sente as pancadas nas paredes de alerta da policia. Mas, habituado às confusões da estrada, limito-me a virar a cabeça para o outro lado do travesseiro, deixando ao Pedro (Paixão) o papel de narrador, salvador da situação e testemunha da revista (de perna aberta) a Don Aires e ao seu diálogo com a autoridade que termina em boa disposição, iluminado pelas sirenes dos cinco carros da polícia que responderam à chamada.
Seguimos para o Mod Club em Toronto, um sítio fantástico, situado no quarteirão Português. Há Sumol (manga infelizmente) e água das Pedras no frigorifico do camarim e tudo adiciona a um dia não só muito produtivo e passado, à portuguesa, no café da esquina e uma noite bem passada, protegida pelos murais com versos camonianos e o seu busto em mármore, na entrada do clube. Os dois dias que se seguem são, esperadamente, os mais fracos e mais duros da tour, Cleveland numa Segunda Feira não é fácil e Detroit numa terça não destoa. Apesar do pitoresco Rock de Detroit, a crise nesta cidade que já foi a capital mundial do automóvel, sente-se nas ruas abandonadas e Cleveland é tranquilo sempre, para não dizer aborrecido. Chicago salva a semana e prova-se outra vez como a cidade talismã (com NY) para Moonspell e cuja fidelidade do público, a grande comunidade polaca desta cidade ajuda, será a maior do território Norte Americano, apesar da competição feroz da California cujas pré-vendas são as melhores da tour. E o clima primaveril já se deseja depois dos frios do Noroeste Americano.
O único senão de Chicago é o concerto ter lugar num sports bar daqueles dos filmes onde as pessoas se encontram para ver a final da Super Bowl (futebol americano) o que retira ambiente ao concerto embora a canja de galinha ao fim compense. O quarteirão de Kansas City, embora não Português,é de todo agradável e o Riot Room, pequeno mas com estilo de grande. O público hispânico toma conta do concerto, e nós temos de tomar conta deles, o entusiasmo tem destas coisas. O Mike tatua uma rosas roxas “across the street” e o Sábado à noite transforma as ruas nume festa de filmes, com carros conduzidos por afro-americanos, cheios de lcds laterais, a picarem-se nas estradas e miúdas bem vestidas mas mal bebidas a fazerem drama nas ruas, entre os três Portugueses (o nosso grupo) que comem os cachorros quentes e nocturnos antes de partirem rumo ao Velho Oeste, direcção Colorado.
O cabaret Cervantes, sic, revela-nos uma pequena mas verdadeiramente entusiasta audiência que fica até ao fim nesta noite fria de Domingo, passada entre lattes, skype e sestas. Também nos revela que nem todos os promotores tentam o seu máximo, e a promoção de 5 dias apenas não ajuda ao milagre apesar do concerto pequeno ter sabido a grande.
As próximas 24 horas, com pausas fisiológicas, são passadas numa viagem de doidos desde Denver a Vancouver, Canadá (vejam no mapa) adicionando mais umas boas centenas de quilómetros (2 milhares aliás, um Lisboa-Zurich num dia) à rodagem da banda, e os filmes repetidos no sinal de satélite (mais de 600 canais ao nosso dispor, medo…) que quebram a inflação de tédio que faz os quilómetros esticarem pela estrada do tempo fora.
A noite da viagem acaba num diner, com um pequeno-almoço de panquecas, ovos e bacon bem saboreado e o desejado (e prévio) banho quente nos hospitaleiros e enormes quatros do Holiday Inn Express.
Vem aí a Califórnia, vem aí o Texas. Vem aí a odisseia Latino Americana. Cacahuentes, el gran espirito del oso.
O nosso comandante Pedro Venâncio, aka Venice, diz-nos até já. Foi uma semana bem passada, desde Atlanta, um break na sua rotina dourada dos hotéis de cinco estrelas e de comida a horas, acolhido pelo sorriso mais sentido, quase adolescente do nosso amigo dos ares, que nos faz recuperar a magia daquele charme sujo do estilo de vida Rock, que, por vezes, esquecemos no meio da ansiedade de que as condições nos façam justiça. Ter um comandante da TAP a carregar as nossas caixas e instrumentos, a pôr as nossas águas e toalhas a jeito no palco, dormindo no back lounge do autocarro, a partilhar pizza fria e café, não é para todos. Significa que não há melhor status que a amizade. Obrigado Venice. See you in Frisco.
Há que nos determos sobre esta particularidade dos EUA. As condições são duras, a crise, aqui e ali, afecta algumas vendas de bilhetes mas há no fim deste arco-íris, por vezes negro, algo que reluz. Os já muitos amigos que temos nos EUA tornam a nossa vida mais fácil quase sempre, e equilibram o que de negativo possa haver nesta rotina de doidos. Ou o nosso amigo Tony Mecha, Brooklyn, NY, com os seus presentes e hospitalidade e verdadeira amizade, que vem de longe, dos seus tempos do mítico L’amour e amizade mútua Peter Steele e Type O, reforçada pelas últimas férias em Lisboa, connosco; não olvidando o bom americano, o Mark Creevy de Chicago que nos enche o autocarro de Samuel Adams, octoberfest, provavelmente a melhor cerveja do (novo) mundo e nos satisfaz o capricho das compras electrónicas; ao americo/brasileiro Robert Archie, também já com uma passagem em Lisboa no seu currículo, que para além de todo o vinho californiano e cabaz gourmet, ainda nos desenrasca junto ao consulado brasileiro em S.Francisco no calvário dos vistos temporários de entretainers, exigido burocraticamente pelas autoridades do pais irmão, não sem o seu quê de irónico já que estaremos por lá menos de 48 horas, diferente do facilitismo português em situações mais e por bastantes vezes menos idênticas. A amizade e a hospitalidade mima-nos e permite-nos momentos de qualidade no mais absurdo ou sujo dos sítios. Agradecidos!
Hoje é Seattle, que dispensa apresentações musicais. O clube é o Studio Seven/Showbox, mítico e sujo como quase todas as salas de aspecto bem grunge da sua capital e berço. Todas as salas tem bandas a tocar, a ensaiar, a dar no duro, umas mais acertadamente que outras mas criando um ambiente que nos coloca perante o privilégio de não sermos nós fechados no local de ensaio, mas sim a fechar a noite em palco, num dos concertos mais esperados da digressão, graças à estupenda reacção da última passagem por aqui em Novembro último com Danzig e Dimmu Borgir.
Até cá chegarmos estivemos três vezes no Canadá, com Vancouver a rivalizar em beleza, modernidade e adesão do público/tratamento da banda com as melhores salas Europeias e com a visita do aniversariante John Gonçalves (The Gift) companheiro destas e de outras andanças. Uma semana antes, Montreal, a confirmar sempre a regra de um dos melhores concertos das tours Norte Americanas, apesar do episódio, infelizmente not on tape, entre Don Aires e a polícia local.
O Aires tem as suas dificuldades com a porta do autocarro, em especial à noite, onde todos os gatos são pardos, e a seu quid pro quo com a entrada da sua casa sobre rodas, chama a atenção dos vizinhos que prontamente evocam a segurança máxima da cidade de Montreal. O vosso escriba já dorme o sono dos justos mas sente as pancadas nas paredes de alerta da policia. Mas, habituado às confusões da estrada, limito-me a virar a cabeça para o outro lado do travesseiro, deixando ao Pedro (Paixão) o papel de narrador, salvador da situação e testemunha da revista (de perna aberta) a Don Aires e ao seu diálogo com a autoridade que termina em boa disposição, iluminado pelas sirenes dos cinco carros da polícia que responderam à chamada.
Seguimos para o Mod Club em Toronto, um sítio fantástico, situado no quarteirão Português. Há Sumol (manga infelizmente) e água das Pedras no frigorifico do camarim e tudo adiciona a um dia não só muito produtivo e passado, à portuguesa, no café da esquina e uma noite bem passada, protegida pelos murais com versos camonianos e o seu busto em mármore, na entrada do clube. Os dois dias que se seguem são, esperadamente, os mais fracos e mais duros da tour, Cleveland numa Segunda Feira não é fácil e Detroit numa terça não destoa. Apesar do pitoresco Rock de Detroit, a crise nesta cidade que já foi a capital mundial do automóvel, sente-se nas ruas abandonadas e Cleveland é tranquilo sempre, para não dizer aborrecido. Chicago salva a semana e prova-se outra vez como a cidade talismã (com NY) para Moonspell e cuja fidelidade do público, a grande comunidade polaca desta cidade ajuda, será a maior do território Norte Americano, apesar da competição feroz da California cujas pré-vendas são as melhores da tour. E o clima primaveril já se deseja depois dos frios do Noroeste Americano.
O único senão de Chicago é o concerto ter lugar num sports bar daqueles dos filmes onde as pessoas se encontram para ver a final da Super Bowl (futebol americano) o que retira ambiente ao concerto embora a canja de galinha ao fim compense. O quarteirão de Kansas City, embora não Português,é de todo agradável e o Riot Room, pequeno mas com estilo de grande. O público hispânico toma conta do concerto, e nós temos de tomar conta deles, o entusiasmo tem destas coisas. O Mike tatua uma rosas roxas “across the street” e o Sábado à noite transforma as ruas nume festa de filmes, com carros conduzidos por afro-americanos, cheios de lcds laterais, a picarem-se nas estradas e miúdas bem vestidas mas mal bebidas a fazerem drama nas ruas, entre os três Portugueses (o nosso grupo) que comem os cachorros quentes e nocturnos antes de partirem rumo ao Velho Oeste, direcção Colorado.
O cabaret Cervantes, sic, revela-nos uma pequena mas verdadeiramente entusiasta audiência que fica até ao fim nesta noite fria de Domingo, passada entre lattes, skype e sestas. Também nos revela que nem todos os promotores tentam o seu máximo, e a promoção de 5 dias apenas não ajuda ao milagre apesar do concerto pequeno ter sabido a grande.
As próximas 24 horas, com pausas fisiológicas, são passadas numa viagem de doidos desde Denver a Vancouver, Canadá (vejam no mapa) adicionando mais umas boas centenas de quilómetros (2 milhares aliás, um Lisboa-Zurich num dia) à rodagem da banda, e os filmes repetidos no sinal de satélite (mais de 600 canais ao nosso dispor, medo…) que quebram a inflação de tédio que faz os quilómetros esticarem pela estrada do tempo fora.
A noite da viagem acaba num diner, com um pequeno-almoço de panquecas, ovos e bacon bem saboreado e o desejado (e prévio) banho quente nos hospitaleiros e enormes quatros do Holiday Inn Express.
Vem aí a Califórnia, vem aí o Texas. Vem aí a odisseia Latino Americana. Cacahuentes, el gran espirito del oso.
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
Tour USA parte 1
Semana 1
Arrancar de Lisboa com toda esta bagagem de concertos dos (Amália) Hoje, seguidos do warm up/see you soon no Hard Rock Café em Lisboa, é pesado, mas não me/nos faz pagar excesso. Os voos para Tampa são neutros, desprovidos do efeito Venice, mas chega-se bem à humidade quente da Florida. O autocarro está atrasado duas horas mas é a regra aceite por todos entre cigarros e cafés do Starbucks e as quase 24 horas acordados, com a calma que nos caracteriza. Afinal a estrada dura há 14 anos exactos e provavelmente metade destes foram passados à espera de alguma coisa.
A noite e a manhã são passadas dentro do autocarro numa estação de serviço e começam as hostilidades gastronómicas do all day breakfast, no festim possível de panquecas, ovos, bacon, e sentar cá fora, no lancil da estrada interior, à sombra deste terrível Sol. Em cinco minutos já está um vagabundo das estradas a polir as jantes do autocarro por 5 doláres cada uma, duas mulheres de mau aspecto (white trash) num carro enorme simulando convites para algo mais que uma pergunta inocente, e um rapaz backpacker a oferecer-nos o seu trabalho na estrada como técnico. A América é assim, empreendedora, a todos os níveis, mesmo ao mais baixo.
A tarde do concerto passa-se na esplanada entre PBR’s (Pabst Blue Ribbon, a melhor cerveja dos estates) e um charuto dominicano (devido ao embargo, não há cubanos). À noite a luta começa, os fãs aparecem e o feitiço faz-se.
Tampa, Florida; Atlanta, Georgia (recebidos pela grande Jarboe/Swans) num clube nas traseiras de uma casa assombrada, tipo a da saudosa Feira Popular o já mítico Jaxx, Springfield, com uma excelente e entusiasta casa, a compor o ambiente Roadhouse (Patrick Swayze, rip), e a noite concluída com Jagerbombs (vodka e jagermeister); e a passagem penosa pela Allentown, no estado da Pensilvânia, com os fãs de Moonspell e nós próprios a ter que esperarmos pela actuação de doze bandas, divididas em duas salas, antes de entrarmos em palco. Com um PA em mono (sem crossfade, mesmo mono, isto é, “só dava dum lado”) e arrancar aplausos aos fãs que resistiram todinhos lá, estóicos ao barulho e ao calor, premiados nós ainda com um cabaz de Halloween (miniaturas de bebidas, whisky, vodka, rum, copinhos de shot, caraemlos, chupas, bolachinhas, tudo no tema dark) que bom proveito nos fez.
Tudo isto a preparar-nos para uma noite gloriosa no BB Kings de New York City, sala cheia, nome nos néon de Times Square, catering de primeira linha, tudo o que Nova Iorque pode oferecer a uma banda Portuguesa que ponha, a todos o mesmo tempo, o brilho no olhar do jovem emigrante que trouxe a camisola da selecção vestida e veio ouvir a Alma Mater, ao hispânico que atravessou a cidade para ouvir a banda que já viu no seu país Natal, México, Colômbia ou ao fã nova Iorquino que compra o bilhete VIP a 50 dólares, vê o concerto sentado com um cocktail, recebe um poster autografado e respectiva palheta personalizada e conhece a banda pessoalmente. Status.
Arrancar de Lisboa com toda esta bagagem de concertos dos (Amália) Hoje, seguidos do warm up/see you soon no Hard Rock Café em Lisboa, é pesado, mas não me/nos faz pagar excesso. Os voos para Tampa são neutros, desprovidos do efeito Venice, mas chega-se bem à humidade quente da Florida. O autocarro está atrasado duas horas mas é a regra aceite por todos entre cigarros e cafés do Starbucks e as quase 24 horas acordados, com a calma que nos caracteriza. Afinal a estrada dura há 14 anos exactos e provavelmente metade destes foram passados à espera de alguma coisa.
A noite e a manhã são passadas dentro do autocarro numa estação de serviço e começam as hostilidades gastronómicas do all day breakfast, no festim possível de panquecas, ovos, bacon, e sentar cá fora, no lancil da estrada interior, à sombra deste terrível Sol. Em cinco minutos já está um vagabundo das estradas a polir as jantes do autocarro por 5 doláres cada uma, duas mulheres de mau aspecto (white trash) num carro enorme simulando convites para algo mais que uma pergunta inocente, e um rapaz backpacker a oferecer-nos o seu trabalho na estrada como técnico. A América é assim, empreendedora, a todos os níveis, mesmo ao mais baixo.
A tarde do concerto passa-se na esplanada entre PBR’s (Pabst Blue Ribbon, a melhor cerveja dos estates) e um charuto dominicano (devido ao embargo, não há cubanos). À noite a luta começa, os fãs aparecem e o feitiço faz-se.
Tampa, Florida; Atlanta, Georgia (recebidos pela grande Jarboe/Swans) num clube nas traseiras de uma casa assombrada, tipo a da saudosa Feira Popular o já mítico Jaxx, Springfield, com uma excelente e entusiasta casa, a compor o ambiente Roadhouse (Patrick Swayze, rip), e a noite concluída com Jagerbombs (vodka e jagermeister); e a passagem penosa pela Allentown, no estado da Pensilvânia, com os fãs de Moonspell e nós próprios a ter que esperarmos pela actuação de doze bandas, divididas em duas salas, antes de entrarmos em palco. Com um PA em mono (sem crossfade, mesmo mono, isto é, “só dava dum lado”) e arrancar aplausos aos fãs que resistiram todinhos lá, estóicos ao barulho e ao calor, premiados nós ainda com um cabaz de Halloween (miniaturas de bebidas, whisky, vodka, rum, copinhos de shot, caraemlos, chupas, bolachinhas, tudo no tema dark) que bom proveito nos fez.
Tudo isto a preparar-nos para uma noite gloriosa no BB Kings de New York City, sala cheia, nome nos néon de Times Square, catering de primeira linha, tudo o que Nova Iorque pode oferecer a uma banda Portuguesa que ponha, a todos o mesmo tempo, o brilho no olhar do jovem emigrante que trouxe a camisola da selecção vestida e veio ouvir a Alma Mater, ao hispânico que atravessou a cidade para ouvir a banda que já viu no seu país Natal, México, Colômbia ou ao fã nova Iorquino que compra o bilhete VIP a 50 dólares, vê o concerto sentado com um cocktail, recebe um poster autografado e respectiva palheta personalizada e conhece a banda pessoalmente. Status.
sexta-feira, 17 de julho de 2009
"os criadores são meninos que andam a entregar recados dos Deuses."-José Mário Branco
Nunca usei, nem gosto da palavra bloggar, ou blogar. Parece-me uma meia palavra, assim como os blogs me parecem meias-coisas. Meias-casas; meias-ideias; meias-conclusões; meias-leituras. Este blog, com o seu ritmo próprio, refém voluntarioso do ritmo do meu trabalho e da minha mudança, também ele é meio. Metade de uma coluna mensal na Loud!, metade que me permite extravasar aquilo que não cabe no conceito e nos àvaros 3000 caracteres que me são dados com generosidade pelo editor.
Em todo o caso, blogo quase em directo duma conferência sobre Arte e Música. Ao meu lado encontra-se talvez a pessoa com o discurso e a mentalidade mais completa e profunda de toda a música Portuguesa, entendida como cena e manifestação. Essa pessoa é o José Mário Branco que me acabou de revelar na sua intervenção verdades observadas com a astúcia e a inteligência de quem sabe sentir e que sente o que sabe. Resta agradecer. Algumas ideias: o objecto artistico estar fora do sujeito e resultar de um encontro entre este e quem os ouve e a frase magnifica, até fora de contexto, "os criadores são meninos que andam a entregar recados dos Deuses."
Aliás,na minha suspeita opinião, a intervenção das pessoas ligadas à música teve o condão de aquecer as intervenções mais académicas e umbilicais das pessoas da Arte Contemporânea.
Para efeitos de consulta aqui vos transcrevo a minha intervenção escrita, perdendo-se a oralidade e a dinâmica da mesma:
"Como convidado tenho sempre o péssimo hábito (para além de ler as minhas intervenções) de não compreender totalmente na sua exactidão orgânica o tema e os títulos dos debates, conferências, comunicações. Não o faço por mal, nem quero de forma alguma demonstrar ingratidão ou desrespeito pelas pessoas que disponbilizaram tempo a pensar em como condensar as ideias a debater numa expressão ainda por cima tão sonante e interessante como a que hoje nos reúne aqui: politica, valor, criação.
Esta particularidade minha nasce de uma divisão básica que faço para a vida e para a Arte e que serve duplamente para quando a arte imita a vida ou a vida imita a arte. Aliás, a palavra criação é tão destes dois âmbitos, que talvez seja o melhor dos elos verbais possíveis entre elas. A divisão a que me refiro é entre o essencial e o acessório, o criativo e o comunicado, o profundo e o periférico. Nem sempre esta divisão tem um valor qualitativo de nobreza. Como artista nascido para aquilo que faço nos finais de 80, atravessando em tempo real algumas das modificações mais importantes para o paradigma da música e sua comunicação (gravar em fita, gravar em digital, internet, concertos) sei da importância do pensar global quando se é um artista e de como um artista moderno acumula funções (agente, divulgador, estratega). O que, na verdade, quero dizer é que neste trinómio a criação será sempre a causa, a politica que eu entendo como comunicação de influência, artística e comercial; e o valor enquanto resultado misto da criação e da comunicação será sempre sua consequência.
Defendo uma ideia porque não romântica da criação, de o criador se deixar inebriar pela observação e consequente transformação interior dessa observação em objecto criativo e comunicável. Digo isto porque muitas vezes leio entrevistas e desabafos de músicos em piloto automático com o seu conceito mas preocupados se a rádio irá passar os seus temas, ou se a televisão lhe abrirá as portas. Há espaço para essas preocupações legitimas desde que não retirem o espaço ao amor pela criação, amor que nos leva ao extremo dos cuidados e das intenções quasi épicas para com a nossa obra.
Como última ideia, gostaria até de defender que podemos aliar esse romantismo à comunicação da nossa obra (edições especiais, ideias, metal brunch) e não saindo do nosso conceito comunicado, fazer uma exposição comercial mais equilibrada com a nossa criação feita com a consciência de causa e não como acessório à divulgação de algo. É esta simplicidade que defendo para os Moonspell."
Até breve!
Em todo o caso, blogo quase em directo duma conferência sobre Arte e Música. Ao meu lado encontra-se talvez a pessoa com o discurso e a mentalidade mais completa e profunda de toda a música Portuguesa, entendida como cena e manifestação. Essa pessoa é o José Mário Branco que me acabou de revelar na sua intervenção verdades observadas com a astúcia e a inteligência de quem sabe sentir e que sente o que sabe. Resta agradecer. Algumas ideias: o objecto artistico estar fora do sujeito e resultar de um encontro entre este e quem os ouve e a frase magnifica, até fora de contexto, "os criadores são meninos que andam a entregar recados dos Deuses."
Aliás,na minha suspeita opinião, a intervenção das pessoas ligadas à música teve o condão de aquecer as intervenções mais académicas e umbilicais das pessoas da Arte Contemporânea.
Para efeitos de consulta aqui vos transcrevo a minha intervenção escrita, perdendo-se a oralidade e a dinâmica da mesma:
"Como convidado tenho sempre o péssimo hábito (para além de ler as minhas intervenções) de não compreender totalmente na sua exactidão orgânica o tema e os títulos dos debates, conferências, comunicações. Não o faço por mal, nem quero de forma alguma demonstrar ingratidão ou desrespeito pelas pessoas que disponbilizaram tempo a pensar em como condensar as ideias a debater numa expressão ainda por cima tão sonante e interessante como a que hoje nos reúne aqui: politica, valor, criação.
Esta particularidade minha nasce de uma divisão básica que faço para a vida e para a Arte e que serve duplamente para quando a arte imita a vida ou a vida imita a arte. Aliás, a palavra criação é tão destes dois âmbitos, que talvez seja o melhor dos elos verbais possíveis entre elas. A divisão a que me refiro é entre o essencial e o acessório, o criativo e o comunicado, o profundo e o periférico. Nem sempre esta divisão tem um valor qualitativo de nobreza. Como artista nascido para aquilo que faço nos finais de 80, atravessando em tempo real algumas das modificações mais importantes para o paradigma da música e sua comunicação (gravar em fita, gravar em digital, internet, concertos) sei da importância do pensar global quando se é um artista e de como um artista moderno acumula funções (agente, divulgador, estratega). O que, na verdade, quero dizer é que neste trinómio a criação será sempre a causa, a politica que eu entendo como comunicação de influência, artística e comercial; e o valor enquanto resultado misto da criação e da comunicação será sempre sua consequência.
Defendo uma ideia porque não romântica da criação, de o criador se deixar inebriar pela observação e consequente transformação interior dessa observação em objecto criativo e comunicável. Digo isto porque muitas vezes leio entrevistas e desabafos de músicos em piloto automático com o seu conceito mas preocupados se a rádio irá passar os seus temas, ou se a televisão lhe abrirá as portas. Há espaço para essas preocupações legitimas desde que não retirem o espaço ao amor pela criação, amor que nos leva ao extremo dos cuidados e das intenções quasi épicas para com a nossa obra.
Como última ideia, gostaria até de defender que podemos aliar esse romantismo à comunicação da nossa obra (edições especiais, ideias, metal brunch) e não saindo do nosso conceito comunicado, fazer uma exposição comercial mais equilibrada com a nossa criação feita com a consciência de causa e não como acessório à divulgação de algo. É esta simplicidade que defendo para os Moonspell."
Até breve!
quarta-feira, 17 de junho de 2009
Show your ass, pack your stuff
A janela do nosso camarim em Durbuy, Bélgica, dá cá para fora para o palco "secundário" onde as tarefas dificeis dor Rock estão em plena actividade, no cruzamento entre as bancas de merchandise e bijuteria alternativa, o omnipresente hot dog e o cair do dia, excitando a noite.
Tocam, naquele presente momento, uma banda cujo nome esqueci. O estilo é aquele rock com um pé no betinho, Orange amplifier, com atitude punk, tipo o vocalista a descer até à meia centena de pessoas e dançar com elas, beijar a miúda gorda com os dreadlocks coloridos. Conseguida a reacção, volta ao palco, e brinca com guitarras, cabos, e mostra o cu, em apoteose Rock. Esta banda amanhã, provavelmente, estará a vender muitos discos na América e a aparecer, ao vivo, no Conen'o'Brien
Passado mais uma banda no palco principal (New Model Army, yeah!)e entra outra banda e esta sim lembro-me do nome Peter Pan Raging Speedhorn, rock, metal com muito Motorhead e atitude. Os nossos amigos dos quais não me lembro do nome, já arrumaram, já estão a distribuir flyers, a caminho da carrinha em direcção ao horizonte. Um caso, mais outro de Show your ass, pack your stuff.
E o que é bonito: é que nada há de decadente neste mostrar e arrumar. Cada vez me fascina mais o sonho do rock, o compromisso sobre o qual falei na última coluna da Loud!para o atingir, compromisso esse que não significa cedência mas, pelo contrário, a luta comprometida (ai, as palavras!!!)para conseguir, e, passo a passo, no verdadeiro sentido da estrada.
Por isso sei que, apesar dos pesadelos ocasioniais, eu sou nada mais que um privilegiado e trabalhar todos os dias e estar a compor todos os dias por muito estranho ou exagerado que pareça, é em absoluto normal. Privilégios não se discutem, honram-se.
É num e de um intervalo de um ensaio para o Hellfest (sim já tocámos milhares de vezes estas canções) que vos escrevo. Está um calor terrível, mas não se compara ao calor interior que é estar a noite toda acordado a descobrir novos mundos dentro do nosso.
Tocam, naquele presente momento, uma banda cujo nome esqueci. O estilo é aquele rock com um pé no betinho, Orange amplifier, com atitude punk, tipo o vocalista a descer até à meia centena de pessoas e dançar com elas, beijar a miúda gorda com os dreadlocks coloridos. Conseguida a reacção, volta ao palco, e brinca com guitarras, cabos, e mostra o cu, em apoteose Rock. Esta banda amanhã, provavelmente, estará a vender muitos discos na América e a aparecer, ao vivo, no Conen'o'Brien
Passado mais uma banda no palco principal (New Model Army, yeah!)e entra outra banda e esta sim lembro-me do nome Peter Pan Raging Speedhorn, rock, metal com muito Motorhead e atitude. Os nossos amigos dos quais não me lembro do nome, já arrumaram, já estão a distribuir flyers, a caminho da carrinha em direcção ao horizonte. Um caso, mais outro de Show your ass, pack your stuff.
E o que é bonito: é que nada há de decadente neste mostrar e arrumar. Cada vez me fascina mais o sonho do rock, o compromisso sobre o qual falei na última coluna da Loud!para o atingir, compromisso esse que não significa cedência mas, pelo contrário, a luta comprometida (ai, as palavras!!!)para conseguir, e, passo a passo, no verdadeiro sentido da estrada.
Por isso sei que, apesar dos pesadelos ocasioniais, eu sou nada mais que um privilegiado e trabalhar todos os dias e estar a compor todos os dias por muito estranho ou exagerado que pareça, é em absoluto normal. Privilégios não se discutem, honram-se.
É num e de um intervalo de um ensaio para o Hellfest (sim já tocámos milhares de vezes estas canções) que vos escrevo. Está um calor terrível, mas não se compara ao calor interior que é estar a noite toda acordado a descobrir novos mundos dentro do nosso.
sábado, 30 de maio de 2009
Federação Ibérica, não gracias!!!
De vez em quando, não há mesmo tempo dentro da cabeça e os sentimentos que a invadem também precisam de alguma protecção. Por isso apesar do meu coração estar noutro dos sítios, hoje prefiro falar de alguma coisa que não seja dele e aqui chegamos ao tema deste post "retrasado":
Federação Ibérica.
Eu não quero!
Muito se tem falado deste assunto nestes últimos tempos tendo pessoas que admiro tanto, como António Lobo Antunes, se pronunciado a favor desta ideia, tendo, obviamente a sua teia de razões. Não me pretendo arvorar em defensor da pátria mas o cansaço da nossa "impossibilidade" de país, cansa-me.
É um facto que a nossa classe política e decisória é, na sua maioria, medíocre e desperançada. Exemplos abundam, infestam as àguas. Como é possível, por exemplo, concorrer a um cargo de deputado Europeu em simultaneidade com um cargo autárquico ^(Elisa Ferreira, Porto)? Esta papice custa e o povo, anestesiado, não deixará de castigar a pouca vergonha e o mísero tacto. Como é possível que o CDS Nuno Melo vá ser enfiado em Bruxelas, quando é uma voz inteligente e carismática no parlamento? Outros exemplos haveria, mas apetece avançar. Estamos conversados e conformados, mas será Portugal só quem manda e quem esquece?
O meu historiador preferido (A.H.Oliveira Marques)diz que Portugal é um acidente geográfico. Que não existe, na Europa do seu tempo, não do nosso, um país com independência física perante um colosso (Espanha)como este nosso canto. Isso não me deprime, anima-me. Á boca pequena da História fala-se de razões. Conde D.Henrique de Borgonha, "ligações templárias", rouba o Porto (gal) a Espanha. D.Dinis, um século depois, concretiza o pinhal (madeira para as caravelas, parece um livro de Dan Brown, mas não é especulação pior ainda, para verificar de onde vem o trauma da nossa impossibilidade: da nossa radical origem. Porque somos país então? Por interesse visionário, por preseverança, porque Espanha deixa?
A Federação Ibérica é fruto do ressentimento que todos temos contra o nosso país e que não conseguimos resolver de modo algum. É o capitular, a desistência e ao assumir que o nosso país nunca, historicamente, teve muito sentido. É o gasóleo mais barato em Espanha, é o viver melhor, é a prestação e é a relva mais verde no quintal do nosso vizinho. Ás vezes parece-me que as pessoas que o dizem nunca foram à Espanha, melhor às "Espanhas" que os reis católicos forçaram juntas e que assobiam ao hino e não o acompanham em Bilbao. Portugal, até no exercício político de ser uma provincia Ibérica, nunca seria a Catalunha. Não por nos faltar identidade, mas por ela divergir, e como, dos nossos vizinhos geográficos. Já encontrei mais semelhanças com Gregos do que com Espanhóis.
Não levem para o caminho errado, adoro Espanha, porque é Espanha e pelo seu tamanho consegue, muitas vezes, ser mais nação que nós. Porque talvez ninguém questione tanto o seu direito a ser nação e a ser, manta de retalhos ou país, o direito a ser. É mau e terrível deixar o ressentimento falar. Sim, este é o país Cronos, devorador dos seus filhos, mas mesmo assim um país com voz própria e atitudes, mesmo deploráveis, que eu nunca encontrei em parte alguma do mundo. Lembra-me a África do maginfico livro de Obama Dreams from my father, a propósito de uma refeição na casa de uma historiadora no Quénia: "Olhem para a refeição de peixe que comemos (...) muita gente vos dirá que os Luo são um povo que só comia peixe, bem é verdade mas só os que viviam ao pé do lago(...) antes de assentarem, eram pastores como os Masai.(...)os quenianos orgulham-se do seu chá mas adquirimos este hábito dos Ingleses. Os nossos antepassados não beberiam tal coisa. E os molhos usados no peixe vêm da Índia ou da Indonésia. Vêem? Esta nesta refeição não encontrarão o autêntico que os jovens negros americanos buscam em África- embora a refeição seja genuinamente Africana."
É nesta autencidade, neste invisivel cheiro a terra de país, nesta mistura pós produzida numa nação que nos temos, hoje e sempre, de concentrar. Porque não estamos aqui por acaso, porque não gostamos do país só pelas suas qualidades mas que temos de aprender a lidar com força com as suas contigências e horrores, tal como fazemos, ou deviamos fazer com as pessoas. Porque não podemos deixar o ressentimento falar mais alto que nós. Porque usar um crachá de Portugal não é usar uma suástica (e mesmo que o fosse, a suástica era um símbolo de paz e movimento até ser invertido por homens, os nazis, que não tinham noção de nação mas sim de um mundo robótico e perversamente feito à imagem da sua fraqueza, eram políticos, não viviam nas ruas). Porque faz sentido termos chegado aqui e não podermos desistir e nos vendermos ao gasóleo mais barato, à ideia de uma Califórnia espanhola, à ideia de que os homens de cultura serão em Espanha melhor tratados.
Portugal pode ser um país de asnos mas será sempre um país. Leiam o final da Ilustre Cas de Ramires, que o Eça sabe melhor que todos nós.
Post scriptum: A única Ibéria que quero ver e ouvir são os IBÉRIA 6 de Junho na Moita no In Live Café. BE THERE!!!
Federação Ibérica.
Eu não quero!
Muito se tem falado deste assunto nestes últimos tempos tendo pessoas que admiro tanto, como António Lobo Antunes, se pronunciado a favor desta ideia, tendo, obviamente a sua teia de razões. Não me pretendo arvorar em defensor da pátria mas o cansaço da nossa "impossibilidade" de país, cansa-me.
É um facto que a nossa classe política e decisória é, na sua maioria, medíocre e desperançada. Exemplos abundam, infestam as àguas. Como é possível, por exemplo, concorrer a um cargo de deputado Europeu em simultaneidade com um cargo autárquico ^(Elisa Ferreira, Porto)? Esta papice custa e o povo, anestesiado, não deixará de castigar a pouca vergonha e o mísero tacto. Como é possível que o CDS Nuno Melo vá ser enfiado em Bruxelas, quando é uma voz inteligente e carismática no parlamento? Outros exemplos haveria, mas apetece avançar. Estamos conversados e conformados, mas será Portugal só quem manda e quem esquece?
O meu historiador preferido (A.H.Oliveira Marques)diz que Portugal é um acidente geográfico. Que não existe, na Europa do seu tempo, não do nosso, um país com independência física perante um colosso (Espanha)como este nosso canto. Isso não me deprime, anima-me. Á boca pequena da História fala-se de razões. Conde D.Henrique de Borgonha, "ligações templárias", rouba o Porto (gal) a Espanha. D.Dinis, um século depois, concretiza o pinhal (madeira para as caravelas, parece um livro de Dan Brown, mas não é especulação pior ainda, para verificar de onde vem o trauma da nossa impossibilidade: da nossa radical origem. Porque somos país então? Por interesse visionário, por preseverança, porque Espanha deixa?
A Federação Ibérica é fruto do ressentimento que todos temos contra o nosso país e que não conseguimos resolver de modo algum. É o capitular, a desistência e ao assumir que o nosso país nunca, historicamente, teve muito sentido. É o gasóleo mais barato em Espanha, é o viver melhor, é a prestação e é a relva mais verde no quintal do nosso vizinho. Ás vezes parece-me que as pessoas que o dizem nunca foram à Espanha, melhor às "Espanhas" que os reis católicos forçaram juntas e que assobiam ao hino e não o acompanham em Bilbao. Portugal, até no exercício político de ser uma provincia Ibérica, nunca seria a Catalunha. Não por nos faltar identidade, mas por ela divergir, e como, dos nossos vizinhos geográficos. Já encontrei mais semelhanças com Gregos do que com Espanhóis.
Não levem para o caminho errado, adoro Espanha, porque é Espanha e pelo seu tamanho consegue, muitas vezes, ser mais nação que nós. Porque talvez ninguém questione tanto o seu direito a ser nação e a ser, manta de retalhos ou país, o direito a ser. É mau e terrível deixar o ressentimento falar. Sim, este é o país Cronos, devorador dos seus filhos, mas mesmo assim um país com voz própria e atitudes, mesmo deploráveis, que eu nunca encontrei em parte alguma do mundo. Lembra-me a África do maginfico livro de Obama Dreams from my father, a propósito de uma refeição na casa de uma historiadora no Quénia: "Olhem para a refeição de peixe que comemos (...) muita gente vos dirá que os Luo são um povo que só comia peixe, bem é verdade mas só os que viviam ao pé do lago(...) antes de assentarem, eram pastores como os Masai.(...)os quenianos orgulham-se do seu chá mas adquirimos este hábito dos Ingleses. Os nossos antepassados não beberiam tal coisa. E os molhos usados no peixe vêm da Índia ou da Indonésia. Vêem? Esta nesta refeição não encontrarão o autêntico que os jovens negros americanos buscam em África- embora a refeição seja genuinamente Africana."
É nesta autencidade, neste invisivel cheiro a terra de país, nesta mistura pós produzida numa nação que nos temos, hoje e sempre, de concentrar. Porque não estamos aqui por acaso, porque não gostamos do país só pelas suas qualidades mas que temos de aprender a lidar com força com as suas contigências e horrores, tal como fazemos, ou deviamos fazer com as pessoas. Porque não podemos deixar o ressentimento falar mais alto que nós. Porque usar um crachá de Portugal não é usar uma suástica (e mesmo que o fosse, a suástica era um símbolo de paz e movimento até ser invertido por homens, os nazis, que não tinham noção de nação mas sim de um mundo robótico e perversamente feito à imagem da sua fraqueza, eram políticos, não viviam nas ruas). Porque faz sentido termos chegado aqui e não podermos desistir e nos vendermos ao gasóleo mais barato, à ideia de uma Califórnia espanhola, à ideia de que os homens de cultura serão em Espanha melhor tratados.
Portugal pode ser um país de asnos mas será sempre um país. Leiam o final da Ilustre Cas de Ramires, que o Eça sabe melhor que todos nós.
Post scriptum: A única Ibéria que quero ver e ouvir são os IBÉRIA 6 de Junho na Moita no In Live Café. BE THERE!!!
sábado, 25 de abril de 2009
Alguns dias de dor para outros de Rock
É oficial. Estamos na estrada outra vez e a primeira semana foi lenta a passar. As mensagens sucedem-se no meu telefone: bem-vindo à Bélgica,à Alemanha,à Rep.Checa, à Polónia, à Bielorrúsia, à Polónia outra vez, à Eslováquia,à Roménia, a já nem sei onde na confusão dos dias com as noites e das noites com o dia.
Estou no meio de uma das músicas quando sinto. Em baixo, do lado esquerdo, região lombar, a dor. Aguda, ciática, como um pequeno e depois grande choque eléctrico, para cima nas costas, para baixo na perna. No meio do calor, por baixo das roupas, dos acessórios, da comunhão com o público de Varsóvia, uma pequena vertigem. No camarim, o contentamento de outra grande noite, quando se arrefece a preocupação. Sem nada à mão, apenas um creme. Passa outro dia, a dor aumenta but the show must go on. As noites são mais duras, as estradas do Leste impiedosas nas suas curvas e alturas.
A minha primeira sessão de fisioterapia/massagem é surreal. Passa-se na Eslováquia, uma massagista de meia idade, loura oxigenada, tipo mulher almodovar mas de Leste. Num estúdio chamado Relax, mobilado a Ikea, contrastando com cor e o estilo próprio, já familiar na nossas mentes, do rigor prático do edificio, ginásio onde tocamos em Bratislava. Surreal porque eu sem falar uma palavra de checo, ela sem falar uma palavra de Inglês, exemplificando como eu me devia virar, durante uma hora e tal, até que finaliza e o baterista de Cradle (Martin) serve de tradutor para as más noticias: um disco da coluna desviado, prisão do nervo ciático. Chamadas sucedem-se e opiniões também: chamamos um quiropata, metemos uma cinta, estalamos as costas. A decisão vem de mim: fico assim, faço a fisioterapia possível, as massagens possíveis e avanço com uma consulta no especialista em Portugal, raios X e depois sim a terapia que tiver de seguir. Agradeço à senhora que me oferece a massagem e uma cinta fabulosa, que me endireita e põe no sítio, roubando espaço à postura errada e permitindo passar os concertos a fazer, com alguma confessa cautela, aquilo que sinto, que é reagir ao nosso som, às suas ondas, sombras e luzes como se a dor não estivesse lá e não se libertasse até, traiçoeira, durante o sono, fazendo-me dar um grito mudo quando posição no beliche é outra ou quando a confiança dos cremes, dos alongamentos e massagens do Mike, me possibilita fruir a tour outra vez.
Passou quase uma semana, a dor está lá à espera. Ontem em Belgrado, Sérvia, outra massagem, suave, melhores noticias, um tempo espetacular, um concerto intenso. Volta o Rock com a dor mas estou preparado para engolir quilómetros, dar gritos mudos, beber pouco, andar muito embora mais devagar, sabendo que a dor nos acorda para a realidade dos nossos corpos limitados mas que também torna cada concerto, cada conquista, cada "a sério? tens isso nas costas não reparei em nada!" mais saboroso, ajudando a pender a balança e o equilibrio de forma mais justa, tanto para as noites e dias de Rock, como para a sua irmã Dor.
Estou no meio de uma das músicas quando sinto. Em baixo, do lado esquerdo, região lombar, a dor. Aguda, ciática, como um pequeno e depois grande choque eléctrico, para cima nas costas, para baixo na perna. No meio do calor, por baixo das roupas, dos acessórios, da comunhão com o público de Varsóvia, uma pequena vertigem. No camarim, o contentamento de outra grande noite, quando se arrefece a preocupação. Sem nada à mão, apenas um creme. Passa outro dia, a dor aumenta but the show must go on. As noites são mais duras, as estradas do Leste impiedosas nas suas curvas e alturas.
A minha primeira sessão de fisioterapia/massagem é surreal. Passa-se na Eslováquia, uma massagista de meia idade, loura oxigenada, tipo mulher almodovar mas de Leste. Num estúdio chamado Relax, mobilado a Ikea, contrastando com cor e o estilo próprio, já familiar na nossas mentes, do rigor prático do edificio, ginásio onde tocamos em Bratislava. Surreal porque eu sem falar uma palavra de checo, ela sem falar uma palavra de Inglês, exemplificando como eu me devia virar, durante uma hora e tal, até que finaliza e o baterista de Cradle (Martin) serve de tradutor para as más noticias: um disco da coluna desviado, prisão do nervo ciático. Chamadas sucedem-se e opiniões também: chamamos um quiropata, metemos uma cinta, estalamos as costas. A decisão vem de mim: fico assim, faço a fisioterapia possível, as massagens possíveis e avanço com uma consulta no especialista em Portugal, raios X e depois sim a terapia que tiver de seguir. Agradeço à senhora que me oferece a massagem e uma cinta fabulosa, que me endireita e põe no sítio, roubando espaço à postura errada e permitindo passar os concertos a fazer, com alguma confessa cautela, aquilo que sinto, que é reagir ao nosso som, às suas ondas, sombras e luzes como se a dor não estivesse lá e não se libertasse até, traiçoeira, durante o sono, fazendo-me dar um grito mudo quando posição no beliche é outra ou quando a confiança dos cremes, dos alongamentos e massagens do Mike, me possibilita fruir a tour outra vez.
Passou quase uma semana, a dor está lá à espera. Ontem em Belgrado, Sérvia, outra massagem, suave, melhores noticias, um tempo espetacular, um concerto intenso. Volta o Rock com a dor mas estou preparado para engolir quilómetros, dar gritos mudos, beber pouco, andar muito embora mais devagar, sabendo que a dor nos acorda para a realidade dos nossos corpos limitados mas que também torna cada concerto, cada conquista, cada "a sério? tens isso nas costas não reparei em nada!" mais saboroso, ajudando a pender a balança e o equilibrio de forma mais justa, tanto para as noites e dias de Rock, como para a sua irmã Dor.
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