terça-feira, 29 de março de 2011

Inquérito da revista Blitz

A revista Blitz deste mês é tem como tema maioritário a música de intervenção, inscrevendo-a na situação actual de crise do nosso país. Para esse efeito elaboraram um inquérito que colocaram a algumas figuras da cena musical Portuguesa.

Eu também tive a oportunidade de prestar o meu contributo e deixar o meu testemunho. Fica aqui a transcrição, com os meus agradecimentos ao Blitz.



1. A palavra ainda é uma arma?

Moon: A palavra será sempre uma arma. A falta dela (a quebra de promessa), alias, tem sido a principal arma contra todos nós. É lamentável como ainda nem nos encaminhamos para uma fiscalização séria do trabalho dos gestores e dos politicos. Até os artistas tem o seu público como juíz. Mas sim “a pena é mais forte do que a espada”, ainda me revejo neste adagio. Funciona é nos dois sentidos, no da reinvindicação mas também no da opressão.

2. Que canção de protesto gostaria de ter escrito?

How fortunate the men with none do Bertold Brecht. É pura poesia, ironia e desprendimento. Os Dead can dance fizeram um tema ao estilo deles. Mas a letra vai ao âmago da nossa história e humanidade. SE a musicasse fazia uma coisa épica, à Tyler Bates na banda Sonora do 300.

3. A revolução vai passar na televisão, no Facebook ou na rua?

Vai passar na televisão, ditada pelos gostos, direcção politica e audiências. Vai ser combinada no Facebook, esquecidas as banalidades, e vai acontecer na rua, dos gabinetes não se espera nada. Importante é não esquecermos que somos nós que vamos fazer a opção e teremos de viver com ela.


4. Existe uma geração parva?

Não. Há é gente parva, como todas as gerações. Também não me parece que a canção dos Deolinda seja um hino dessa geração, ou sequer uma canção de intervenção. Só se a intervenção for a contemplação do óbvio.Estudar, por exemplo, é sempre uma forma de enriquecimento pessoal e nos tempos que correm já podemos, muito mais facilmente, usar a nossa imaginação e criatividade para vencer o desemprego e a inércia. Parece-me mais uma canção para quem ainda espera que o estado social lhe resolva os problemas, indicando o caminho. Eu, pessoalmente, conto cada vez menos com isso, reinvidico é justiça no tratamento. Há mais pessoas a estudarem porque o ensino se democratizou e ainda bem! Eles que me desculpem. É, para mim, um retrato nada feliz, desajustado da realidade. A geração no poder é a anterior à nossa, e quando a nossa tiver as condições reunidas para lhe suceder, estou optimista que faremos melhores escolhas. O segredo é pegar nas pequenas histórias de sucesso de Portugal a nível de gestão, novos mercados, tecnologias, desporto e artes e torná-la a realidade de um país. Mas antes os velhos modos (no governo, na indústria musical, por aí fora) terão de desaparecer e irão desaparecer, quanto mais não seja por exaustão. Não adianta fazer o retrato dos parvos, o importante é pintar por cima.

5. Cairo é: um exemplo a seguir, uma música dos Táxi, ou o cenário de algo que nunca veremos a acontecer em Portugal?

Parece-me que os árabes,apesar de tudo, são dos únicos povos que ainda conseguem sonhar e que tem objectivos mais nobres do que enriquecer, mantendo o status quo. Estas pessoas querem nações, tem fome de ser um país que viva em função dos seus habitantes e não para alimentar em exclusivo uma família real ou de governantes. Toda esta revolução acontece por causa dessa fome. Foi insustentável para os governantes manterem a farsa. Espero muito honestamente que estes novos exemplos não regridam no período pós-revolucionário como aconteceu ao Irão com a Revolução Islâmica. A Europa é uma federação de povos cépticos. Os Ingleses orientam-se porque são mais civilizados para o fazer em conjunto com as elites. Os povos de Sul não conseguirão dessa maneira. A Europa também se fartou de guerras, não podemos ter cidades em ruínas em 2011, não é o nosso cenário. Mais uma vez repito que a haver revolução sera pela inteligência, pela justiça e pela exaustão em relação à dualidade de critérios dos governos. Não sei se pegaremos em armas. Mas algo irá acontecer, talvez não tão radicalmente, mais demoradamente, à Europeu.


6. Que música dedica ao Governo português?
Fuck the system, dos Exploited.



«E eu e tu o que é que temos que fazer?» (completar a gosto a letra do tema do Abrunhosa)

talvez sobreviver


Destaque ainda para a belíssima entrevista de um dos homens mais esclarecidos que já conheci em Portugal no meio musical, José Mário Branco:

http://blitz.aeiou.pt/gen.pl?p=stories&op=view&m=17&fokey=bz.stories/72077

Divulguem, comentem e uma boa semana a todos.

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