segunda-feira, 25 de junho de 2007

É mesmo tudo uma questão de perspectiva

Passar tempo a mais nos aeroportos não só nos desperta para uma dimensão estanque e irreal destes sítios de vida passageira mas que, por vezes, se eterniza (o caso daquele refugiado que vivia, penso eu, no aeroporto de Paris, condenado a um limbo e a uma terra de ninguém, creio até que o Tom Hanks protagonizou um filme baseado nesse mito ou realidade não sei precisar). O corpo massacrado pelas securas e poupanças dos aviões, pelo tratamento bovino que nos faz andar de um lado para o outro carregados como bestas ordeiras e de cabeça baixa, nos corredores, passadeiras rolantes, escadas, desvios, labirintos, portas, check ins, seguranças, botas fora, pulseira de picos, àgua (!) para o lixo, e os sempre indecifráveis instrumentos e electronias que as nossas bolsas vomitam perante o olhar eternamente estupefacto dos controladores. Adiante...

Nos aeroportos, como em todo o lado, por entre os capuccinos de 4,70€ e as sandes de atum a 7€, também se aprende. Como é o caso da observação em curso que vos passo de imediato a contar, não sem antes assinalar, com respeito, TODOS os comentários ao post Com rockers assim... e vos agradecer por vitalizarem este blog. A isto acrescento que este blog mais do que uma continuação da coluna da Loud! pretende ter vida própria e estimular, dentro das regras já descritas, a discussão e a opinião, coisa que o registo escrito não proporciona, apesar de (espero eu) fazer trabalhar o pensamento. Finalmente, também há que dizer que este maior dinamismo da escrita virtual se enquadra naquilo que quero que seja o blog: um registo mais directo, porventura mais quotidiano, de linguagem mais simples em que caibam reflexões mundanas e inquietações mais "comuns". Quero não só guardar as profundidades para a Loud! (que as merece), bem como usar este meio para "desabafar" com inteligência e gosto (assim o espero) acerca de coisas mais cutâneas e correntes. Tal não impede, no entanto, a permuta de densidades entre revista e blog, já que nem sempre estou preocupado com o que é que passam no Hard Rock Café ou com quem me aborda no Metro; ou com a morte lenta da imaginação no Metal ou com as glórias e humilhações da vida de um músico.

Esta participação acima considerada motivou este post. Muito mais que um direito à resposta, tomem isto como uma observação do óbvio. Por duas razões: a primeira é que se o direito à resposta é um instrumento precioso à democracia da opinião, exercido abundantemente nos jornais, televisões, revistas e blogs, muitas das vezes este direito é exercido apenas na óptica do continuar da teimosia e do aprofundar da agressividade com que se defende uma opinião, sem olhar ao meio que nos rodeia. Há exemplos fartos que podem ser consultados aqui mesmo sem sair do blog e nas infinitas linhas dos nossos jornais. Efeito perverso: muitas vezes o direito directo à resposta congela a dialéctica da discussão. Não quero que isso aconteça aqui. Segundo: a observação do óbvio, tida tantas vezes como uma perda de tempo, é essencial para solidificar ideias e fortalecer pensamentos. É errado evitá-la ou, pelo menos, evitá-la sempre.

No corredor rolante do aeroporto de Paris CDG (um inferno sujo de desconforto) que dá acesso a outros terminais (A ou será D, não importa) existe uma publicidade fantástica (e cara, presumo!)de um determinado banco. A ideia base é uma repetição de fotografias idênticas com atributos (substantivos ou adjectivos) opostos. Por exemplo: brócolos intercalados por uma fatia de bolo de chocolate. De um lado, primeiro brócolo com a legenda Bom, imediatamente a seguir bolo com a legenda Mau. No quadro a seguir as legendas invertem-se sobre a repetição das imagens. Por todo o corredor se repete a fórmula: torre de Pisa/edíficio moderno (perfeição/imperfeição), música clássica/rock (harmonia/barulho), ... A mensagem é clara e o banco, guloso, procura reunir todas as sensibilidades e, em especial, o vil metal (que não o nosso) de quem as origina. Muitos me acusam de fazer o mesmo, pois bem quem não o faz? Talvez, a constatação do óbvio seja aqui necessária para destruir os mitos da excessiva distância ou proximidade. Tal, como todos os outros, aproveito a vida para lidar com o inferno dos outros que nos pode ser tão doce ou amargo (a sociabilidade insociável do Kant).

Por isso, e concluíndo, pois que me espera um almoço dinamarquês de pizza: é meu direito e dever achar, por exemplo, que ir ao "saudoso" Lusitano e Gingão era também, muitas vezes, uma perda de tempo e uma dolorosa entrada na fogueira das vaidades do pequeno metal Português e que por muitas vezes o que lá se passava nada trouxe de novo à cena e, pelo contrário, talvez o afastamento desses clubes e o aproveitamento dessas horas para praticar, estudar, ler, conversar entre amigos no recato de um subúrbio tenha feito, para mim, a diferença que hoje é inegável; como se calhar também era porreiro ir lá beber uma burra, curtir com uma miúda ou duas e ouvir Morbid Angel em pleno moshpit. É mesmo tudo uma questão de perspectiva. E de resultado, neste caso. Como também não me acho provinciano em querer ir ao Hard Rock e ouvir Rock em vez de kuduru; mas também aceitar que, sim, é um desabafo normal, que, em todo o caso, não me é interdito pela minha "celebridade" É mesmo tudo uma questão de perspectiva

É mesmo tudo uma questão de perspectiva. E as vossas são aqui bem-vindas.

16 comentários:

Grind On disse...

É verdade! É realmente tudo uma questão de prespectiva. Tal como também é verdade que idas ao Gingão, não tanto o Lusitano, por vezes era como assistir a uma passerele e/ou ouvir os da mesa do canto a dizer mal da mesa do outro canto. Mas em todo o pano cai a nodoa, e não é isso que estraga a toalha!

Ando nisto há alguns anos, desde os tempos de Morbid God e do mitico concerto de Moonspell com Cradle of Filth no Garage (tinha outro nome que não me lembro), e talvez devido à idade, mas nessa altura sentia algo no Metal que hoje já não sinto. E associo muito essa perda ao que o Metal se foi transformando, aos Endoramas dos Grandiosos Kreator, aos Abducteds dos Hypocrisy, aos Eternitys dos Doomers Anathema, aos Eternals dos obscuros Samael, aos Roots dos thrashers Sepultura, aos Thelis dos pesados Therion, aos Hosts dos góticos Paradise Lost, etc... etc...

Parece que tudo aconteceu em poucos anos. Não conseguindo explicar muito bem o que mudou, mas parece que o metal se intelectualizou e desligou-se da sua origem, bandas que eram referencias para mim, deixaram de o ser. Curiosamente, pela mesma altura cai o prédio do Gingão! Não deixa de ser poético!

Valha-nos o Barroselas Metal Fest para nos trazer tudo de volta, nem que seja só por 3 dias.

Esta é a minha prespectiva e vale o que vale!

Fátima Inácio Gomes disse...

Pois então muito obrigada pelo espaço!!! Particularmente, aprecio imenso a troca de impressões, o debate, especialmente o aceso, que não incendiado, e que tantas vezes me obriga a pensar em algo que me escapava e abre uma brecha na escuridão da minha própria estupidez e pensamento formatado (só assim conseguimos lutar contra a formatação que cada vez mais impera na sociedade!).

Obrigada, ainda, pela confiança e coragem, já que és capaz de despir a capa da "celebridade" para mostrares que também tens as tuas mesquinhices...

Por fim, frisar a tua atitude de nos quereres ouvir (e somos todos tão umbicalistas!), sem a atitude do entrevistado dos Mayhem, na Loud deste mês, que se está a "cagar" para todos!
Pois bem, eu que sou uma defensora acérrima do individualismo, acho de um egoismo extremo e repulsivo atitudes destas, por muita piada que possam ter para quem olha para o fenómeno como uma anomalia contestatária do sistema, e por isso, louvável. Haja pachorra!
Mas isto também é uma questão de perspectiva... (ele lá terá as suas razões de queixa, que me escapam!...)

Já agora: a linha do aeroporto CDG é a D! :D

Francisco Rodrigues disse...

Os aeroportos são locais de variadíssimas sensações. O "tratamento bovino" está muito bem descrito, eu não conseguiria melhor; eu já senti medo no aeroporto de Edimburgo, quando poucos dias depois dos atentados em Londres, a polícia abordava, quase usando armaduras, a eito quem passava e com enormes pistolões. A porta de chegada, também dos aeroportos, é imensas vezes uma "passadeira vermelha da fama e vaidade" para muitos - lembro-me de vários jogadores de futebol, por exemplo. Os peackers, em Stunstead (Londres), ameaçavam insistentemente a explosão de bagagens abandonadas - ouvir aquilo continuamente até tira o sono a quem curtiu noites a fio no Fringe Festival de Edimburgo e tem que esperar 6h (!) pelo avião para o Porto.
Quanto aos bares, é uma questão de prespectiva, mas também de investimento. O investimento pode ser pessoal, tanto no caso de curtir miudas e beber umas super Bock, como na formação pessoal do descanso construtivo do caminho a seguir, individualmente. Há também o investimento social que, pode ser imediato ou a longo prazo: o imediato surgirá no domínio da interacção nos bares onde se conversa, bebe e curte; o a longo prazo pode vir com aquilo que nós investimos nas horas de aprendizagem e será o fruto do nosso trabalho e criação, porque não?

Ora, tenho uma amigdalite para curar, sobre a alergia à penicilina, bem como um exame de eslectromagnetismo para fazer. Não está nada, mesmo nada, fácil.

Emanuel disse...

sim é mesmo tudo uma questão de perspectiva!...então aqui deixo algumas perspectivas/opiniões sobre o estado de situações que se vê acontecer por aí nos meandros do metal...por vezes vejo aquilo que pode ser uma confusão entre clubismo e gostos variados no metal...tão simples como um adepto do clube X não suportar adeptos do clube Y..por vezes apreciadores de metal extremo "agridem" apreciadores do metal mais simpático(em termos de sonoridade) e vice-versa...eu cá tanto vibro ao som de Blind guardian ou Nightwish como ao som de cannibal corpse, ou slipknot, ou no concerto de Anathema em vilar de mouros 2005, ou então ouvindo o album "whoracle" dos in flames e de seguida com o Reroute to remain dos mesmos.Melhor até...adoro o Butterfly fx assim como adoro o wolfheart e dá-me imenso prazer ouvir daemonarch...no entanto sei que há por aí muitos que criticariam esta minha posição...incoerência de gosto??...eu digo mente aberta...Assim como não entro na onda geral do grind apesar de adorar Napalm Death ou Nasum...o hard rock passa kuduro isso sim já axo fora do termo....não aprecio a postura dos Manowar mas no entanto enquanto passa carry on aqui no meu leitorvejo como é divertido ouvi-los...podia continuar mas axo ke já deu para ver onde quero chegar...a minha perspectiva do modo como estou no Metal.

(na minha cidade não há bares de rock/metal regulares....o ke será pior??não os ter ou te-los e passarem kuduro???)

Grind On disse...

Para verem que não sou tão extremista, estou quase a ir para o Coliseu ver Type O' Negative.

(mas bom, bom era o Pete Steele tocar uma cover de Carnivore, hehehe)

Joaquim Esteves disse...

obrigado pelo espaço que nos "ofereces" para dialogarmos ctg de uma maneira igualitaria!achei a iniciativa de louvar desde o principio!
é verdade que não se devem evitar as discussoes e sim enfrentá-las! mas como já tudo não passa de um disco riscado e de conceitos quase intrinssecos a minha pessoa, aborrecem-me um bocado estas discussoes...

Ora bem,em relação aos aeroportos...eu como uma pessoa bastante optimista e a modos que observadora, aproveito o momento em kk lado, nem mm k tenha k estar a espera de um maldito avião que está à minha frente há 6 horas, mas nao pode descolar, porque há demasiado gelo na pista...ARRGGGHHH. acontece que obtenho um certo prazer(sado-mazo???) de ver e ser tratado como "bovino".tudo em fila indiana, tratado como animal para o matadouro e ser engolido pelo indiscreto olhar de milhares de camaras! É fantastico ver como o medo pode ser poderoso, ridiculo e molestador! como toda a gente tem medo de tudo e de todos!(até da água!mais de 0.2l já podes fazer uma bomba!)ter que passar descalço no detector de metais, ter que abrir a mala, ja s tornou parte de uma rotina que acho piada...

Fátima Inácio Gomes disse...

"Para verem que não sou tão extremista, estou quase a ir para o Coliseu ver Type O' Negative."

Inveja!
Argggghhh! :'(

Nota: As palavras do/da Wildmadrigal poderiam ser minhas, trocando apenas alguns nomes de bandas! :p É exactamente esse o meu enquadramento...

Joaquim Esteves disse...

em relação a ouvir diferentes tipos de musica, sendo esta metal ou nao metal, fui sempre criticado...pk, a semelhança de Wildmadrigal e da Fatima, gosto de ouvir um pouco de tudo...e por ouvir power metal germanico(sim,edguy é altamente) e Windir, de seguida, sempre me disseram que nao sabia apreciar nada...entao, a partir dessa altura eu curto o k curto e tou-me nas tintas pro k os outros ouvem. "és metaleiro?n importa de ouves nightwish ou gorgoroth, senta-te a meu lado e pede uma caneca!"
best regards!

Francisco Rodrigues disse...

Eu gosto de metal, mas gosto também de outras coisas; as guerrilhas de gostos musicais passam-me completamente ao lado porque vejo-as como desperdício de energia e tempo. Mau era se gostassemos todos da mesma mulher. Às feias e gordas, alguém tem que lhes dar calor ;) Com a música passa-se o mesmo, tal como na literatura. e tudo depende também, do momento.

sr. grauuu disse...

Eu do heavy metal gosto de bandas filarmónicas com um nome de terra portuguesa bem típico à frente ou de uma colectividade também bem típica. Aprecio particularmente os motoristas da STCP com saxofones a ficarem vermelhos de tanto soprar... Saudoso concerto no coreto do Jardim da Cordoaria! Também aprecio entrar numa aldeia bem típica e ver o cortejo dos bombeiros com o bombo e as caixas a bombar e toda a metalhada a soprar uma melodia bem portuguesa.

Fátima Inácio Gomes disse...

Ora aí está um excelente contributo para a discussão, Sr.Grauuuuu (ooops! excedi-me nos u's!... já agora, o número de u's está na mm linha que o número de apelidos e "de" dos apelidos finos? :P). No que a bandas diz respeito, a minha paixão vai para a percursão, absolutamente! Daí que até prefira a fanfarra dos bombeiros. Dixit.

Francisco Rodrigues disse...

O instrumento musical que mais me seduz é o berimbau. A nível de construção é muito simples e barato, mas toca-lo bem já é outra história. Felizmente tenho dois e vieram ambos do Brasil. Já agora, também adoro, embora não pratique, a arte/dança/luta chamada capoeira. É fantástica.

Grind On disse...

Fátima, o concerto foi morno. Esperava-se bem mais de uma primeira aparição de Type O' em Portugal. Perdeste alguma coisa, mas não perdeste muito!

Ainda bem que existe tanta malta ecletica! Eu não consigo ouvir nada dessa treta... oiço tanto berinbaus como power metal. Paciencia para Edguy, Blind Guardian, Slipknot, Nightwish é nenhuma. Mas isso não impede que haja debate.

Um debate não tem só um tipo de opiniões. Afinal se apenas são validos os pensamentos ecléticos versus os não-ecleticos, vocês acabam por ser os não-ecleticos.

O meu primeiro post, mais do que avaliar bandas, foi o avaliar da evolução de uma forma de estar (o metal não é só um estilo musical) e como as bandas tentaram acompanhar as tendencias. Nada mais! Houve malta (como eu) que não conseguio acompanhar as novas tendencias.

Fátima Inácio Gomes disse...

Ouvi comentários como o teu, relativamente a TON :D *olha-o-meu-ar-de-satisfação-perversa*

É o problema de quem se faz esperar tanto... as expectativas são sempre tão altas!!! Mas que gostava, gostava *sniff*

Mas mais gostava hoje de rever Metallica!!! Com mais onda ou menos onda é uma banda que me acompanhou num largo percurso e que ao vivo consegue SEMPRE fazer esquecer qq mal-sabor de boca que álbuns&Lars'moods&Hetfields's amuos possam ter trazido a mts fãs. Das duas vezes que os vi, foram brutais! Que bem me ia fazer.

Outros ainda que, certamente, tb vou perder (as parcas andam a tecê-las contra mim!) são Samael! Já agora, Grind, que pensas, enquanto radical assumido (e acho que muito bem! Gosto de te ouvir :D) da nova onda dos Samael?!... eu tou a gostar bem!... Imagino que tu... ;)

Grind On disse...

Type O se tivesse vindo a Portugal na altura do "October Rust", o Coliseu teria sido pequeno para tanta gente!

Metallica foi uma grande banda, e obviamente que ainda o é... mas não para mim! Vi o primeiro concerto deles em Portugal e sentia-se uma euforia cá fora que semelhante só me lembro da primeira vez que veio cá Slayer. Fui ao segundo concerto no Restelo e já achei seca. Agora, não consigo nem ouvir, nem ir a concertos deles.

Gostei muito de Samael, mas o ultimo album deles que realmente gostei foi o Ceremony of Opposites. Penso que foi por essa altura que eles vieram ao Pavilhão Carlos Lopes para um excelente concerto. O Passages oiço mais ou menos, dai para a frente foi mais uma que lhes perdi o rasto. Não conheço este ultimo.

Penso que isto confirma o rotulo de radical assumido. Conto que haja espaço para um ser desagradável destes nestas tertulias, bem agradáveis.

Fátima Inácio Gomes disse...

É claro que há espaço!... :D é sempre preciso alguém quem bater!... hummm, acho que tens o perfil adequado *evil*