Caros resistentes. Esta não é mais uma entrada a dizer que vou tentar voltar aqui. Ja cá estou.
2009 trouxe-me um ínicio de ano agitado a nível pessoal e quase que cumpri apenas os mínimos em diversas ocasiões que se apresentaram. Estes mínimos não estão mal: continuei a colaboração com a Loud!; gravei um projecto um pouco fora do meu baralho sónico, do qual vos darei conta certa a seu tempo,mas que me trouxe confiança e sobretudo amigos verdadeiros; concertos com muito calor e garra em Guimarães e Grécia; e muitos momentos que me aproximaram da vida que há em todos os minutos dos quais destaco o concerto acústico do Danny Cavanaugh em Braga em Janeiro passado. Depois uma pausa mais ou menos forçado para uma pequena intervenção cirúrgica que me permitiu reflectir, ver coisas, passear, ler muito e escrever ainda mais. E como escrever é bola de neve e sangue aqui estou a aplacar, para já, alguma da minha sede e fome.
Claro está que o objectivo de qualquer comunicação, até aos peixes, é reunir uma audiência, por isso se espalharem as novas e dizerem a um amigo que existem por aqui novas palavras e intenções, fico grato. Tão grato como por continuarem a ler estas palavras sem prazos. Digam também que o blog poético http://ocofreabertopoesia.blogspot.com/sofrerá idêntica intervenção.
Antes de vos contar a peripécia de hoje, remeto-vos para o arquivo se quiserem recordar algo do que aqui já se publicou e aguardarem também pela publicação neste blog das minhas últimas crónicas na Loud! Farei isso para a semana que vem em simultâneo com a escrita do meu artigo novo na mesma.
Subia eu pelo sol acima da Rua do Carmo quando passa por mim um individuo com umas coisas na mão, tipo uns panfletos, ou umas tiras de papel. Não sei se vos acontece, mas já desenvolvi uma espécie de radar para as pessoas que me vão de algo modo chatear. Tive essa intuição. Felizmente muitas vezes me engano, mas não tantas quanto gostaria, por um lado é bom porque me afasto da paranóia de ser público, perder o anonimato ok, mas nunca ceder à prisão de não andar de metro ou sair à rua num dia de chuva ou de Sol, como hoje; mas mau também porque acertar neste caso não constitui victória, antes pelo contrário.
Parece, então, que esse individuo também tinha um desses radares e sem mais nem ontem, sem bom dia ou boa tarde me disse: "Dá uma chance a Deus, pá! Deus existe pá", num tom pouco consentâneo com a "bondade" da mensagem. Ou talvez nem por isso se rebuscarmos toda a história da envagelização da humanidade que tem de tudo, menos de candura. Claro que o olhei nos olhos, mesmo que não goste na totalidade de fazer isso e nem identifique essa atitude somente com a coragem, e ele repetiu o mesmo oráculo. Sem parar (muito) porque nos fomos afastando, mas deu mesmo para ele ouvir, apenas lhe disse,: "Qual é o teu problema, pá?". Sei que não é muito para quem estudou Filosofia da Religião e leu Feuerbach mas resolveu o problema, diluindo-se o olhar de algum ódio por entre os raios de Sol e a multidão consumidora.
Mas o que fica é o atrevimento, não sei se me reconheceu como antropocentrista dedicado, ou pelo aspecto de quem não acredita "nessas coisas de Deus", mas o facto é que num país livre e laico, toda a gente tem direito à opinião ou, neste caso, à estupidez. Eu cá continuo a achar que se deve respeitar tanto a fé como a falta dela e que não se deve incomodar as pessoas na rua cheia de Sol com atitudes destas. O exercício da liberdade é feito com responsabilidade, quem o respeita, sabe disso. Bem sei que o exemplo "que vem de cima" de políticos e clérigos não é o melhor, mas, eu, pelo menos já parei de esperar por Godot, e sei que dessas fontes não há muito para aprender, na sua generalidade.
Por isso pá: eu não dou uma chance a Deus. Não acredito nele e estou no meu direito de o fazer em pleno, sem perigo de maior, nem o de me cair um raio em cima, desde a Revolução Francesa. Já me bastava as pessoas que não param nas passadeiras e que protestam quando uma pessoa lhes aponta isso; o taxista que parou o carro para discutir código comigo e que disse que só não me ofendia, bem...porque eu era grande; o "pedinte" punk que acha que por eu ser músico tenho de sustentar a sua escolha de preguiça anarca (eu cá acredito no trabalho, desculpa); só faltava o envagelizador dos Sábados de manhã que me aponta a existência de Deus como os putos que desafiam os outros para andar à porrada no recreio.
Tenham cuidado ateus, satanistas, ou pessoas ocupadas de si mesmas. Ele anda aí.
14 comentários:
é com enorme prazer que neste dia de sol me volto a cruzar ,aqui nesta rua, contigo e com as tuas palavras.
Bem-vindo de volta.
seja bem vindo (não num sentido de um "you're welcome" mal traduzido num filme dos de Domingo à tarde)
Do texto todo há um ponto que destaco, visto partilhar a opinião: o acreditar no trabalho. Seja qual for o objectivo, - nem que seja para instaurar a preguiça - requer trabalho. É certo que não será necessariamente no sentido árduo do termo (apesar de aconselhável), mas de acção. Toda a acção provoca uma reacção consequente.
Eles andem aí, como se costuma dizer.
abraço,
Nirthnyl
Creio que você se encontra certo em sua crença, pois o certo é o que cada um de nós acredita e não o que nos impõem. No caso desse evangelizador, já fui muitas vezes parado por alguns destes, que me diziam coisas que nem eles mesmos sabiam dizer, ou seja, teriam que perguntar para o "Pastor" ou "Superior" deles.
Acho interessante você estar de volta ao Blog e espero que continue.
Fabiano
De algum lugar obscuro do Brasil...
Gostei muito de ler o blog e na minha opinião respondeu muito bem!
Rápidas melhoras e que tudo corra bem!
Continue a escrever, não imagina o bem que nos faz ler!
Bem... que grande azar que tiveste, seres abordado assim por tal personagem! eu em Lisboa nunca fui abordado por pessoal religioso, só por vendedores de droga! XD
há uns anos, em Faro, era às vezes abordado por velhinhas das testemunhas de jeová, mas era na boa, nas calmas, eu até punha-me a discutir filosofia com as senhoras.. ahahah! bem... boa sorte pra proxima ;)
ainda bem que este blog voltou ao activo :D irei seguir ;)
O texto está muito bom. Há certas alturas em que o embaraço nos tolda a razão e põe os nervos em ebulição. Nem sempre o sangue fica frio o suficiente perante tamanhas provocações e, na ausência do calor, pensamos que teríamos dito a tal palavra ou feito a tal coisa. Doutrinamento.
Welcome back :)
Uma vez mais uma reflexão com todo o sentido e pertinência!
Nunca acreditei na religião nem em Deus, assim como também nunca acreditei no Pai Natal. Seria óptimo que estas figuras realmente existissem, provavelmente o mundo seria um lugar bem mais agradável e justo.
Lembro-me que em pequena ,enquanto os meus pais me conseguiram obrigar, ir à catequese e de entre aqueles discursos pomposos das senhoras catequistas colocar algumas perguntas menos pertinentes relativamente à religião às ditas senhoras, que não só não me sabiam responder como também me passaram a encarar como a "ovelha negra". Às tantas chateei-me e inventava sempre uma doença qualquer ao sábado para não ir, até que as senhoras em causa ligaram à minha mãe a dizer que eu estava excluída por faltas...Fiquei tão feliz xD
Compreendo... Gente que precisa de trabalhar num campo de batatas em agosto...cruzados ocos da actualidade... Não obstante, de me ter vindo a parecer, que algumas pessoas (jovens e adultos jovens) olham de lado e com o perfil já desenhado, para quem acredita n'Ele. Como se acreditar ou ter fé ou o raio, nos impedisse de sermos e termos opinoes indomadas e vontades livres. Acho que deveriam começar a pensar que a igreja e Deus, podem ser coisas diferentes. Parece haver uma certa vergonha em se admitir no grupo de amigos que até se tem uma fé. Não se explica. Pode esconder-se. Ass. falling
São estranhos muros que as pessoas criam para nos unir, mas que acabam nos separando. A maioria das pessoas que não hesitam em demonstrar aos outros sua opinião sobre Deus e outras figuras do imaginário humano sempre é excluída e enxergada com outros olhos.
"Poderíamos ser melhores se não quiséssemos ser tão bons."
Fabiano
Finalmente de regresso! Já fazias falta! E dia 18 lá estamos!
Muito bom:) *
Welcome back !
Isto nas ruas de Lisboa encontramos com cada personagem que às vezes até parece mentira, mas também eu já tive alguns desses "encontros imediatos". O mais recente foi ali na zona de Alvalade, em que fui abordado por uma senhora com os seus 60 e tal anos, acompanhada por uma jovem na casa dos 20 e poucos. A senhora de pronto se identificou como sendo Testemunha de Jeová, dizendo-me que andava a espalhar a palavra do senhor e as tretas do costume. Mas o engraçado desta história, e que me fez soltar uma gargalhada descontrolada, foi no momento em que eu ia dizer educadamente que não estava interessado, a dita jovem olhou para mim com um ar muito assustado, isto depois de estar especada a olhar fixamente a minha t-shirt (usava uma de Moonspell naquele dia, do Memorial), e perguntou-me com muita cautela "peço desculpa, mas o senhor é satânico? Venha connosco, ainda há salvação para si, Deus ama toda a gente". E após isto a senhora disse que o mal deste mundo era a música feita por bandas rock, que era um meio usado por Satanás para colher almas.
Depois de parar de me rir, lá disse às duas senhoras que não era satânico, nem budista, nem islâmico, nem nada, que era agnóstico, e que os gostos musicais de cada um a eles lhes dizia respeito, e fiz-me de novo à minha vida.
Mas pronto, é daquelas tais histórias que cada vez que conto a amigos desmancham-se todos a rir. Isto tudo na minha opinião só demonstra a ignorância das pessoas, nomeadamente os "autómatos" da igreja cristã.
Bons posts, e até dia 18. \m/
lol li tudo ao contrário, acabei no principio eheheh.
é um bom retorno sim sr, e o que eu me ri com o encontro imediato com o tal enciclopédia:)....
não posso ter a tua opinião em relaçao a não acreditar em Deus, mas isso são, temas que passam por dentro de cada um.
mas sim tá m script engraçado esse da rua do Carmo lol.
funny
Olá, olha estou a devorar o teu blog, seguindo o link dado pela Sónia Tavares.
Percebo que seja aborrecido e contraditório ao teu sucesso, o acontecimento publico que se torna quando vais ao metro ou queres tar contigo mesmo pelas ruas, onde a apreciação do Sol e do normal é perturbado pela admiração (espero que admiração em norma) dos outros. O público que tem sempre alguma curiosidade que vos perturba como maldade depercebida depois do bem que as vossas carreiras nos fazem.
"Qual é o teu problema" parece-me a resposta indicada a alguem que perturba com regularidade pessoas na rua, seja qual for a razão. O toque de agressividade paga-se pelo irritante tom de bondade, que me causa alguma impressão. Como se nos conhececem, ou advinhaçem por dom divino o que é melhor para nós, tendo-nos sempre como infelizes e desgraçados, como talvez eles sejam e disfarçam.
Apoio a liberdade de querer passar a passadeira já que o código nos dá, tambem acho que não temos de dar esmola a nimguem seja qual for o nosso meio de sustento.
Enfim, vou continuar a visitar o teu blog, tenho de ver o outro =) , e não te vou perturbar quando tiveres no café da esquina de costas para uma das 7 maravilhas nacionais :P , pelo facto de vos gostar de ver por lá
Postar um comentário