quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Atómos- Pinion

Que o mundo é composto por partículas divisiveis até ao ínfimo quark, que o tempo se compõe de momentos extensíveis até às "escalas" de Plank e suas discussões, todos sabemos, ou intuimos ou pesquisamos sem problemas de maior. Que a vida se organiza também destas quasi imensuráveis nuances vamos aprendendo com cada dia que passa. Ao negrume interior, à desilusão impôe-se, sem falhar, o sorriso de alguém que nos interpela no Metro. Perante a ilusão de partilhar opiniões intencionalmente feitas para dizer o que se pensa, mais do que aquilo que convém dizer (embora a mentira anestética também possua direito à existência), insurgir-se-à sempre a fortaleza dos outros que não concordam com o direito a concordar connosco.

Poesia à parte, dar uma opinião é hoje algo de uma complexidade impressionante. A sua proliferação e o seu veicular intenso que lhe permite chegar a todo o lado e a toda a gente tornou esta complexidade digna de um multiverso, com sistemas, regras, caos e abismos próprios. Existem muito mais opinadores que objectos dessa opinião. Apesar de falarmos numa escala gigantesca, perdoar-me-ão a falta de rigor, para cada assunto (milhares de assuntos) existem milhares de opiniões (milhares sobre milhares). Existe quem atravesse a fronteira e se torne um híbrido entre opinador e assunto de opinião. São esses os comentadores, os defuntos opinion makers (já não há necessidade deles no multiverso da opinião) e os incautos que, como eu, gostam de escrever em blogs com óbvios telhados de vidro. Outra coisa interessante, pelo menos, na imensidão opinativa é que a opinião é o combustível de si mesma, auto-fágica, auto-estimulada, auto-destrutiva, independente do que quer que seja para crescer e multiplicar. A opinião é, muitas vezes, o assunto em si mesmo dispensando até o amnio, o ovo, a génese.

Por tudo isto dar uma opinião não é fácil. Mas é inevitável. O que é mais grave é a dificuldade em ouvi-la e isso só se aprenderá (e não satisfatoriamente) com os anos. Os primeiros anos são os melhores e os piores. Existe, por exemplo, numa banda um certo feeling de Indestrutibilidade , de fome do mundo, de ânsia de ser que nos permite dar mais que os primeiros passos. Mas, cauda da serpente, existe também um autismo que, se os anos passarem por nós, nos vai parecer prejudicial e nos fará sentir teimosos ao ponto da sobranceria corajosa mas, na verdade, pouco inteligente. Navegar entre margens é o mais aconselhável.

Muitas vezes dei opiniões (pedidas) a bandas novas que depois vim a saber terem sido confundidas com arrogância. Muitas vezes bandas que se iniciam se queixaram de não ter nota máxima na Loud! ou noutra revista qualquer, confundido isso com bota baixo, sufoco, tentativa de destruição da emergente carreira. Muitas vezes fui, até grosseiramente, palavreado com coisas tudo menos elogiosas por coisas que disse ou escrevi que achei (procuro sempre pensar no que digo e no que escrevo durante um tempo aceitável, nem sempre o consigo, mas fica a nota), com certeza, que teria de documentar com objectivos que eu, pelo menos, conheço e acho importantes. Daí manter este blog e a sua mater dolorosa coluna na Loud! porque apesar das farpas e dos amores o mais importante é não desistir de dizer ou de escrever agitem-se as hostes, abram-se os sorrisos e corações ou piquem-se os bois para a carroça andar em frente.

Posto isto que fazer com tudo isto? Perguntar com delicadeza se querem uma opinião ou um mero incentivo em forma de elogio? Ignorar dizendo que tudo está bem quando começa bem, deixando de fora coisas que poderiam ser mais importantes (mesmo que duras) do que o afagar de egos juvenis ou mais entradotes? Existe muita paranóia neste país, nesta cena Portuguesa da qual eu fazendo parte não faço verdadeiramente tal o exotismo da minha suposta posição priveligiada mas sempre vigiada? Quer me parecer pelo que vejo e pelo que leio e pelo que muitas vezes me escrevem em directo, sem espinhas, que nunca ninguém é verdadeiramente culpado de nada. Que existem "coisas" conspirativas, entretelas, máquinas e mecanismos que empurram uns para cima e outros, eternamente, para baixo. Há um ditado chinês que diz: não dêem peixe a um homem, dêem-lhe uma cana e ensinem-no a pescar. Num país de pescadores, parece-me bem triste que ainda não tenhamos entendido a mensagem preciosa desta sábia glosa. É como eu com o Excel, não me façam as contas, ensinem-me a calcular (claro que eu sou só contabilista, esqueçam o artista). Mais triste é verificar que ainda existem tantas e tantas pessoas que pensam nesses termos conspirativos apesar de eles terem braços, cabeça, coração, tal como eu. Afinal todos passámos pelo mesmo (SMO, roubalheira, promotores, estúdios sem dignidade,etc.) mas nem todos quiseram aprender a pescar e isso dói. A verdade dói. A mim também. Mas há quem vença a dor e estatutos à parte continue a viver a verdade, com frustração, com energia, com ambição, com fazer.

Finalizando uma questíuncula: venham até ao lado de cá um bocadinho. Estamos num estádio de futebol. Chamamos filho da puta ao árbitro. Ele ouve. Ignora. Ali. Mas, de certeza, pensa naquilo e não gosta e se tivesse oportunidade de responder o faria alguma vezes, outras não. As pessoas sob escrutínio, como eu, não têm sempre de calar e obedecer às regras do estatuto que criaram para nós. Não contem comigo para o és figura pública, aguenta-te. Não responderei todas as vezes, porque na verdade não é totalmente meritória essa atitude, como, na minha opinião, também não é totalmente meritório fechar a bolha connosco lá dentro, indiferentes ao mundo, às opiniões que nos fazem ter sentido enquanto homens que inspiram, são inspirados ou que combatem aquilo que acham injusto. Chamem-me doido mas continuarei a navegar entre as margens.

Nem tudo é mau! Estou contente, por exemplo, por ter escrito isto. Amanhã a luta continua, vão aparecendo e desaparecendo conforme vos dê mais jeito, gozo, raiva ou comunhão.

10 comentários:

Joaquim Esteves disse...

Caro Spectator:
Eh verdade tudo aquilo que falas! as vezes eh horrivel ouvir duras criticas e opinioes infudamentadas (gostei da comparacao com o arbitro!).
mas tu, como homem "grandote" que es, que "engoliu tanto sapo" para chegar onde chegou, para fazer o que fizeste, deves ter criado muito calo e dureza de espirito para suportar essas bocas foleiras que vao circulando por ai!Lah esta, consegue-se superar isso e este blog eh a prova disso: like it or not, face it!Nao sei se falo em nome de todos os que frequentam assiduamente este blog, mas ainda bem que partilhas as tuas opinioes connosco e das-nos a oportunidade de partilhar as nossas contigo!

Eh um facto que nao concordo com tudo o que dizes, mas ainda bem que se podem trocar opinioes, desde que, sejam fundamentadas e racionais! que nao sejam respostas baixas de pessoas baixas, que tentam ser algo que nao sao! enfim, os caes ladram e a caravana passa.

best regards!

P.S.-desculpem a falta de acentuacao,mais uma vez!

lakecoventina disse...

Eu acho que devemos respeitar as opiniões de todos sobre qualquer assunto,mesmo sendo opostas á nossa,desde que sejam dignas disso!
Voçe é um "opnion makers",mas não lhe considero defunto!
Da minha parte nunca houve "farpas" só "amores" com que escreves!É louvável a sua dedicação á todos nós e este blog é uma prova disso!Eu acredito que isso causa inveja em muitos,daí os cometários maldosos.E de nada adianta...seu público só faz crescer!
Este ex.do árbitro é muito bom,não sei como eles aguentam,tempo todo sendo humilhado e filho da puta é o "nome" mais "romantico"!
Esta certo voçe por não aguentar desaforos,se não merece porque deveria...!
Voçe não é doido e sim talentoso!
Abraços!Felicidades!

Anônimo disse...

enfim, as vezes não podemos agradar a todos e as pessoas conseguem ser bem inconvenientes quando nem é necessário.

força ai!!

beijinhos****

Anônimo disse...

Na sinceridade de uma pessoa que luta por chegar a uma margem que parece sempre demasiado distante, é minha convicção que o átomo embrião deste assunto, o cerne da questão, acaba sempre por ser a finalidade, tanto dos objectos de opinião como dos opinadores. Quando se sai da nossa bolha, a inevitabilidade da opinião é certa, tal como a própria inevitabilidade é constante nas nossas vidas.

Quando o fim das nossas acções e daquilo que criamos, é honesto e motiva-nos para sermos melhores, como criadores e ,mais importante, como pessoas, aprendemos a dar valor à verdade, por muito que magoe ou queime o nosso ego. Por vezes deixamo-nos levar pela paixão, e tomamos tudo como um ataque pessoal, porque quem faz com alma, sofre como um poeta.

O caminho para sermos melhor reside em saber ouvir, e aprender, nunca relegando as nossas convicções e sonhos, porque no fundo, é isso que nos comanda. É a fonte da nossa força.
O calor do reconforto da aceitação é algo que o criador sempre procura e se alimenta, e procurar "respostas" em pessoas que admira será sempre algo, inevitável, mas em última análise, depende apenas de si próprio para avançar e transformar dificuldades em desafios.

No fim de tudo, as palavras e as intenções desaparecem no tempo... os corpos soltam um último suspiro, e tudo o que realmente fica, é o que deixamos de nós, nos outros.

Anônimo disse...

Sempre tomei melhor calúnias injustas do que opiniões fundamentadas que me fazem ter de olhar, enfentar, recordar os meus próprios defeitos porque me é mais difícil lidar com as minhas fraquezas do que com as dos outros. Por outro lado, nunca estive no estrado da fama por isso nunca poderei avaliar ao certo a dureza de um golpear contínuo, mais ou menos profundo. Não choro os "opinion makers" porque me quer parecer que muitas vezes foram eles o veículo perpetuador da injustiça. Por fim, gosto de me lembrar que há muitas coisas sobre as quais não tenho opinião alguma, faz-me ter esperança no muito que posso descobrir, assim como gosto de ler o teu blogue.

susanna disse...

De facto todos parecem alvitrar mil e uma razões. Há que ouvir todas as opiniões e tentar apreender. Tudo bem.
Mas algo que nos designa muito é encarrilar em críticas, praz-nos porque é fácil, dá-nos usufruto mas é delator dos hipócritas que somos. Apelamos à filantropia, comovemo-nos quando somos os melhores, mas se cambaleamos uma única vez já temos a quem apontar o dedo.
Um mau trabalhador culpa sempre as ferramentas.
Somos uma espécie de montão nodoso, conseguimo-nos nortear por contrariedades: hoje amo, amanhã odeio. E todo o crítico acha que os seus argumentos são indubitáveis, apesar de e, se lhe apetecer serem perfeitamente amoldáveis.
Infelizmente as más lições aprendem-se depressa e artigos laudatórios parecem ser mais módicos e raros.
Tens que olvidar todo o sobejo e lembrar toda a dedicação e carinho dos fãs de Moonspell. As críticas são momentâneas, os fãs não!

“Cloudy mornings give way to clear evenings”

susannacatalao

Unknown disse...

DESILUDIDO foi a primeira palavra que me veio a cabeça ao ler este post. Amargo e ao mesmo tempo esperançoso, magoado mas tambem persistente e lutador! Assim me pareces, amigo...
Acima de tudo fica bem vincada a sensaçao de alivio por conseguires por ca para fora o que te entristece, frustra e magoa.
Doido mas coerente contigo mesmo, marcas por isso a diferença para alguns que como eu sentem na pele (ainda que por razoes diferentes) o preço dessa doidice ou loucura.
Sermos nós proprios dói! Coerencia connosco proprios tem por vezes preços muito elevados, alguns dificilimos de pagar.
O teu mérito (e o de nós todos que como tu teimam em nao alinhar em circos ou carneiradas) esta acima de tudo na capacidade de aprender e bem assim nos fortalecermos com cada rasteira da vida. Caímos sim! Mas temos esta capacidade fantastica e esta coragem de nao ficarmos no chao em eternos lamentos. Levantamo-nos e seguimos em frente, prontos para novos trambolhoes e com mais força ainda voltamos a caminhar, alimentados sempre e só por este vicio de sermos nós proprios. Obedientes e submissos unicamente aos nossos principios e nunca aquilo que alguem convencionou ser o bem, o correcto, ou pior ainda, o conveniente!!
Tenho até a pretensao e a imodestia de pensar que navegadores assim, marcam e continuarao a marcar a diferença e a fazer destes dias de navegaçao, por vezes, dias de tormenta, mas sempre convictos de chegar a bom porto!

Beijo lunar

Anônimo disse...

ave, spectatore!

muito do que dizes nesta crónica faz sentido; nada de novo aí: sensatez equilibrada com frontalidade. talvez erre, mas seria capaz de apostar que tu mesmo já foste mau pescador. quiçá a tua “aptidão piscatória” não a tenhas aprendido em nenhum manual ou na observação cuidada de pescadores mais experientes mas seja resultado de muito cai-e-levanta, com o normal aperfeiçoamento que o tempo que escorre nos concede, sempre à (e na) medida que o homem que és envelhece. suposições à parte, para um «doido navegante» tão esforçado, que luta todos os dias e tantas vezes se supera, que inspira e é inspirado, és um bom exemplo para muita gente. louvo-te por isso; já que és figura pública, usa(s) os teus poderes para o bem, metaleiro.

por isto muitos te admiram e são presença assídua deste blog. aprenderam a valorizar e a respeitar o que dizes, não só porque a música que fazes com os teus companheiros nos alcança e toca, mas também porque permitiste um pequeno vislumbrar de ti mesmo. mais do que o vocalista dos moonspell, és aqui e agora e sempre o fernando ribeiro, e o traje que escolhes envergar não te fica demasiado largo nem demasiado apertado, é à tua figura, com os ajustes ocasionais (uns pontos, umas costuras e uns cortes que se vão dando aqui e ali com os anos, com mais ou menos satisfação, com uma eventual consciência de lição aprendida, mas sempre com uma classe e um carisma indiscutíveis).

honestidade e frontalidade, que têm por trás ponderação e sensatez em doses q.b., o olhar crítico e nada leviano que tens sobre o que te rodeia, em tudo contribuem para que tenhas em nós spectators atentos e interessados, preocupados em apreender primeiramente a letra e só mais tarde a música. alguns necessitarão de orientação, outros nem tanto, mas quantos de nós não navegam também entre margens, de astrolábio na mão mas de olhar na lua? ser visionário não é ser idealista, não é ser o joane de serviço em terra de chico-espertos, é virar de direcção quando seguir com o rebanho deixa de ser cómodo ou útil ou necessário, ou avançar firme e seguro em grupos de um, mas sempre em frente, com segurança e sem medo de confrontos, e, por que não?, com os moon como banda sonora.

fiquem bem.
V.R.

lakecoventina disse...

Deve ser dificil estar na sua pele ser confudido como arrogante quando voçe apenas quer ajudar,dando opiniões por voçe ter experiencia suficiente sobre este assunto,afinal o Moonspell já passaram por momentos desagradáveis e venceram os obstáculos com dignidade.Talvez,p/ alguns seja mais fácil cobiçar do que "aprender a pescar"Eu acho este ditado chines se encaixa bem á voçes,cá p/nós,é muito melhor "aprender a pescar do que já ter o pescado em mãos"aprendemos com nossos erros e acertos.Voçes conseguiram exito por não temer a verdade,de que infelizmente há pessoas "sanguessugas" que só enxergam o dinheiro como prioridade,desrespeitando o talento dos artistas.Se estar numa posição privilegiada não chegou lá por arrogancia e sim por talento e dedicação á quem merece todos nós seus admiradores(a)!
Esquecer que voçe é um artista...taí uma hipótese impossivel p/ mim,pois voçe consegue preencher divinamente esta posição!
Bem,tudo o que lhe escrevo é minha opinião do fundo da minha alma,do coração,dos meus"miolos"nem sempre(as vezes me falha).Não é e nem nunca foi minha intenção "atravessar a fronteira e se tornar um híbrido entre opinador e assunto de opinião"
Fique bem!

Anônimo disse...

depois de ler este post e restantes comments o meu sentimento é de clara emoção sobre tamanha verdade..não me estou a sentir á altura de discorrer um texto sobre teu Fernando.No entanto vou pegar na caneta e pedir a alguem que me ensine a escrever!

cheers! thanks