Offline.
Só mais uma achega. O Offline a que me referia era a uma escolha criteriosa daquilo em que nos metemos, por assim dizer, a uma selecção espiritual e conivente com aquilo que somos, e mais que tudo, com aquilo que queremos preservar em nós. Se bem que umas férias do vício (em todas as suas virtudes e...vícios) também não é, de todo, má ideia. Longe de mim ser um hippie moderno, anti-net, nada disso só sou mais um dependente, tal como vós, sempre me frente pela iluminação do ser a menos que esta nos funda a cabeça numa pasta de ruído, disputa e falta de respeito (thank you Lord of E). Aí, sou contra.
Mas estava eu na minha vidinha pacata aqui no reino de Hamlet (prevísivel mas certeiro) quando em cima de mesinha acrílica da sala repousava, tranquilo no seu papel pardo, um envelope A4 com selos ou carimbos, não me recordo, da terrinha, jardim à beira mar plantado, Europe's West coast, you know, de Portugal. Para minha surpresa, lá dentro dois exemplares enviados espontaneamente para o estúdio pelo editor e homónimo do nosso guitarrista (se soubessem as confusões que isto já deu...) do novo número da Underworld, para mim, a melhor fanzine, revista, publicação, enfim, que se faz em Portugal. Sem espinhas. E passo a explicar.
Como já perceberam (e por isso aqui continuam a vir) eu sou uma espécie de junky perante o absoluto da música. E, acreditem ou não, a música, hoje em dia, é mesmo o meu único junk. Lá vão os tempos, assobio para o lado, descontraído, a subir, nada comigo, ok? Como um junky flutuo entre os downers e os "uppers". Um dos maiores "uppers" para mim,e já há algum tempo, é este "infame pasquim" (private underworld joke). Nos tempos da Mondo Bizarre, eu a lia, como leio quase tudo, de ponta a ponta . Sem dúvida que derivava muito para um alternativo que me escapava. Em especial, quando ouvia os discos :) Mas gostava daquelas entrevistas e artigos que me chamavam a atenção para pessoas que ainda amavam a música, que faziam dela vida com regras próprias e escolhidas, com "façam eles mesmos" de verdade, enfim, um mundo que me transmitia uma pureza e uma descontracção que nem sempre,admito, encontro no meu. (Guardo reservas, não se preocupem.)
O ou a Underworld já existia então, era diferente, um pouco errático/a, mas sempre acutilante, bem escrito e melhor vivido. Não o considero um substituto da Mondo. É bem mais que isso: volvidos alguns anitos conseguiu refinar o que era bom e eliminar algumas coisas que estavam ora a mais ora a menos. Sei bem do que falo, tenho a colecção toda. Ao receber este verdadeiro presente aqui na pacata Aarhus esse feeling voltou em força porque ou estava down ou porque há contexto para ele, ou porque ambos. A edição deste "mês" tem um diário de bordo dos The Ocean, por exemplo, que revive um espírito que me é familiar pese embora eu goste (desde sempre) de tudo mais certinho, mas que me fez curtir o desprendimento do logo se vê, mais um joint, um copo, um acorde. As críticas sempre justas,sem merdas, bem explicadas no mel e no fel que me fazem segui-las ou, pelo menos, entendê-las. Porque aqui há uma coisa que se faz entender que é o bom português utilizado. A entrevista ao Paul Raven (rip) com quem me cruzei um par de vezes e que quis e muito produzir o Irreligious em 1996. O dossier Electronica, a conversa com os Down, o artigo sobre Crowley.
António Barreto mode on(voz off grossa e seca): há pessoas capazes nesta publicação. Homens e mulheres que se informam, que vivem dentro das perguntas que fazem, dos textos que escrevem, da música que ouvem e dão a ouvir. E se isto, ainda por cima à borla, não os torna na melhor cena que anda por aí então não sei. Ou talvez hoje seja apenas um dia up graças a eles, às três músicas do novo disco que ouvi, aos discos de Dawnrider e Riding Panico. Mas sinto-me mais perto das coisas e para um Português esse é um sentimento que em momento algum se pode desprezar.
Acabo este elogio da loucura por izer que tenho contribuido erraticamente para esta grande publicação mas que tenciono solenemente fazer mais e melhor. Deixo o endereço para o formato pdf da Underworld http://underworldmag.org/pdf/underworld25.pdf
Não fiquem indiferentes a ela. Até breve!
2 comentários:
Venho convidar-te a participares na Nova Águia - a adesão é simples, envias email a dizer quem és e a manifestar o teu interesse em participar.
Tudo muito simples.
Abraço, Fernando.
Viva El Rey!
Viva Portugal!
P. S. A Underworld é excelente - e o bastião de combate de um gajo tão nobre que assina só com duas letras. Também não perco uma.
P. P. S. Não tens de quê. Regressem do Valhalla com mais uma saga sonora que nos orgulhe ainda mais a todos!
Seu texto anterior estava claro para mim,tão claro quanto a sua alma(? talvez,espero que sim).É claro que voçe não é anti-net,este blog,entre outras págs que voçe alimenta confirmam isso!Eu acho que as palavras documentam os atos e percebo na net uma essencia malevolente que aprisiona a alma em sua própria sabedoria,por isso entendo o seu desgaste em certas ocasiões.Flaubert descreve bem determinadas estupidez humana.Porém há diversas coisas positivas na net.
Eu sinto em suas palavras o orgulho que voçe tem de ser Portugues,fala aí,mesmo fora da Pátria,levamos conosco tudo aquilo que nos é importante.
Se voçe diz que a música é o seu único junk,eu acredito e fico feliz com isso,para mim também é,mas não é o único(não abro mão da minha "água-benta",etc.).Isso me fez lembrar de uma bela obra do Baudelaire.
Voçe disse:Como um junky flutuo entre os downers e os "uppers" concordo,porém vejo de outra forma,lhe vejo assim... como um polvo que nos envolve no afago de seus tentáculos.
Por voçe já ter citado antes,procurei a revista Underworld e não encontrei por aqui,não sei não,mas acho que não chega aqui no meu País.De qualquer forma,obrigada por tornar disponivel.Gostei da entrevista Down,me deu saudade e revolta pelo"Dimebag"(tinha tudo a ver c/ele este"nome carinhoso"),gosto muito do Pantera.Émile Zola grande escritor "Germinal" é uma realidade mórbida.
Eu fazia coleção das revistas Rock Brigade,Roadie Crew,(as tenho até hoje),hoje em dia só compro quando há algo novo que me chame atenção.Estou gostando muito da revista A Obscura Arte.
Falou aí mano
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