quinta-feira, 10 de março de 2011

Conquistadores- report Maxmen 70.000 tons of Metal





“Por mares nunca assim navegados”

Dias antes de zarparmos para esta nova aventura, os comentários dos nossos amigos e familiares sobre o Titanic cresceram de tom, sem nós queremos acreditar que o mais negro dos humores se instalava dentro do nosso próprio núcleo de amigos e familiares. Afinal, era-nos complicado explicar que íamos tocar num cruzeiro de Metal. Cinco dias entre Miami, Estados Unidos e Cozumel, México and back. Dois concertos, um num teatro do barco, um sítio maravilhosamente luxuriante, com talha fingida e candeeiros de sereias; outro, à volta, num palco montado exactamente na piscina,sete horas antes do Majesty of the Seas partir, e concluído minutos antes da chaminé começar a cuspir os primeiros fumos. Connosco, tocavam mais trinta e nove bandas, para uma lotação esgotada de 2000 pagantes, mil euros por bilhete, quarenta e oito nacionalidades. Arábia Saudita, Estados Unidos, Japão, Holanda, um grande contingente Alemão, quer em bandas, quer em festivaleiros, Espanha, Costa Rica, México e...Portugal! Explicar que não havia backstage, aliás a ideia era exactamente um open space, onde todos pudéssemos beber copos ou fazer jacuzzi juntos.
Foi sob o signo da incompreensão terrena e desejo Luso pelo Mar que saímos de Portugal de avião...Prometia a viagem: Lisboa- Londres (3 horas de espera)-Chicago (8 horas de espera)-Guatemala City, primeira paragem desta mini-epopeia de dez dias que para alem do cruzeiro, incluía dois concertos, um em Guatemala, outro na cidade do México e depois os dois do barco. Guatemala City foi uma confusão de pagamentos e sonos, lembro-me vagamente de secar a roupa do concerto com uma ventoinha e de todos as refeições serem pequenos-almoços. Teríamos ido ainda à Costa Rica mas o promotor disse que tinha partido uma perna e que não podia receber-nos como ele desejaria. Down to México.

O México é sempre a valer! Sala esgotada, duas mil e quinhentas almas, merecendo o melhor. Por isso tocamos na íntegra o nosso primeiro álbum Wolfheart e saímos sobre uma chuva de aplausos, dois soutiens e pedidos de encore. Acho que nem passámos 24 horas no México. Quando dei por mim já estava no Bubba Shrimp, um diner enorme inspirado no filme Forrest Gump, a comer marisco frito com batatas fritas e ketchup e cerveja americana. Comprados os essenciais para o barco, fomos fazer o check in no Majesty of the Seas, o enorme paquete que serviria de cenário, sobre as águas do Golfo do México, ao festim metálico do século!!! O primeiro problema foi arranjar transporte para o porto. Havia dois dias que dois policias da Miami Dade tinham sido executados por membros de gangs e esse dia era o funeral. Quando acordei vi a cidade parada e um desfile fúnebre de centenas de carros policiais, durante pelo menos vinte minutos. À grande e à Americana. Depois de muita negociação, chegámos, via shutlle/hotel/brazilian connections, finalmente ao porto.

Ao principio nem vimos o barco. Estava atrás de uma estrutura ainda maior que o escondia e onde fizemos o check in. Deram-nos um cartão tipo hotel, ligado ao nosso cartão de crédito, cash não era bem vindo a bordo, um cartão mágico que a organização já carregara para os músicos com a quantia de cem dólares para nós gastarmos como quiséssemos durante a viagem. A isto chamo saber receber. Depois da foto da praxe à porta do barco, onde conseguimos ficar todos mal fazendo com que a origem da foto pudesse ser ali no Terreiro do Paço, depois do exercício obrigatório de salvamento, que só o Pedro Paixão, o nosso teclista prestou atenção, subimos ao convés, vimos Miami anoitecer e começamos a investir o nosso crédito, mandando vir um balde cheio de Coronas on Ice, to get in the mood. Tínhamos finalmente zarpado em direcção aquilo que não tínhamos conseguido explicar convenientemente aos mais próximos.

Houve uma altura no barco em que toda a gente se sentiu como numa reunião do liceu. Afinal a cena metaleira e o mundo são mesmo uma concha. Afinal estas bandas que aqui estavam já se tinham cruzado em imensos festivais e desde logo se instalou um ambiente impecável. Os fãs deambulavam, tiravam a fotografia do costume, o autografo mas desde logo perceberam que estavam ente iguais e durante os dias todos que passámos ali foi espectacular compreender que não só cada um respeitava o seu espaço como a relação era fluida. Falava-se de música, da vida, dava-se os bons dias ao pequeno-almoço. Este barco fez muito pela cultura da proximidade. No primeiro dia não tocámos mas observámos e socializámos. Também é importante. Conhecemos os Portugueses que tinham vindo (uma saudação a todos!), cinco no total, fora nós. Um rapaz mais da nossa idade, com um bom emprego e uma vida sólida, e dois rapazes mais novos, acompanhados pelas mães se bem que nunca os tenha visto juntos, dois thrashers de alma e coração. Também conhecemos o André Seixas que me enviou um abraço juntamente com a conta do meu crédito. O André trabalhava no barco e estava muito entusiasmado com a nossa participação. No primeiro concerto lá estava ele com a camisola da selecção e nós a partilhar com a mesma intensidade que ele o orgulho de ser português, de estar entre iguais em terras ou mares estranhos, uma coisa que é boa apesar do pudor do Português em ser Português. Ao André, um abraço!

O primeiro concerto foi atribulado. Já em mar alto as coisas iam de outra maneira e nas manobras velocistas do Comandante para cumprir obrigações, o concerto começou mal com problema técnicos (uma constante infelizmente devido à natureza do evento) mas acabou em franca beleza com mais e mais público a chegar de outros concertos e a juntar-se, em boa hora, ao ritual lusitano. Acabei a noite numa situação comum mas com personagens incomuns, ao redor de uma fatia de pizza (servida até às cinco da manhã) à mesa com um venezuelano (Aires, o nosso baixista), e mais quatros pessoas, um canadiano, um saudita, um chileno (que baptizamos de Capitan Chile e que se houvesse prémio de simpatia no cruzeiro o teria arrebatado!), e uma rapariga da Nova Zelândia.

Bem, contar a experiência que foi este cruzeiro, uma actividade insólita que acabou por fazer história no Metal, nestas linhas é quase impossível. Haviam executivos, representantes da marca AVON no México, à biqueirada no concerto de Exodus; passavam hordes alemãs com cervejas num copo com a forma e o tamanho de uma bota alta; os hamburgers e as danças coreografadas dos empregados do Johhny Rockets; o dia de folga em Cozumel, bezerrando pelas praias de cerveja na mão; gente no jacuzzi, 24 horas por dia, gordos, magros, homens, mulheres, tatuados, limpinhos; demos com um Espanhol e com uma Canadiana a fazerem jogging ao som de Moonspell. Cinco dias, cinco noites numa Babel flutuante, conquistando os mares quinhentos anos depois , como escreveu o André no meu recibo que vou guardar para sempre, como se fosse o diário da viagem nada trágica mas orgulhosamente marítima dos Moonspell.

Se não gostarem olhem só para as fotografias :)

http://www.facebook.com/maxmen.pt

Um abraço

Um comentário:

Trebaruna disse...

Bem, adorei ler. Já estava a imaginar as cenas e a divertir-me como se tivesse lá estado!! :)
Imagino que haja muito mais para contar...:)

Beijinhos!